..................................................................A notícia como nunca foi.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
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segunda-feira, 26 de novembro de 2012
¨¨¨Landisvalth Blog: O veneno letal
¨¨¨Landisvalth Blog: O veneno letal: Landisvalth Lima Todos nós sabemos que a qualidade dos nossos políticos não é nada boa. E só enumerar as ...
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
O Boca do inferno
Romance de Ana
Miranda
Resumo analítico: Professor Landisvalth
Lima
A cidade
Gregório de Matos |
Descrição da cidade de Salvador no século XVII. Gregório
de Matos lamenta a condição da cidade e pensa em Gôngora, poeta espanhol de sua
preferência. Por que havia retornado? Via passar diante dos olhos uma cidade
tomada por pessoas de todas as espécies. Muitos chegavam pobres e enricavam.
Todos furtavam. Logo cedo, o Governador Antônio de Sousa Menezes, o Braço de
Prata, vai se confessar aos Jesuítas, ao Padre Antônio Vieira. Nem tudo pode
ser revelado. Por exemplo, os 24 anos recolhidos na quinta, em Olivas. Após ser
reverenciado na igreja e nas ruas, O Braço de Prata chega à repartição para
despachos.
O crime
Francisco Teles de Menezes, Alcaide-mor, levanta-se
cedo e vai, acompanhado por escravos desarmados, para a casa da barregã
Cipriana. Depois dali vai ao encontro do governador e sabe que haverá
problemas. Uma carta revela uma trama contra o seu amigo, o Braço de Prata. Lá
fora, há inimigos à espreita. Antonio Brito, encapuzado, lidera uma conspiração
e atenta contra a vida de Teles de Menezes. Depois foram refugiar-se no Colégio
dos Jesuítas. A notícia chega ao governador pelas palavras do arcebispo João da
Madre de Deus. O governador jura vingança.
Maria Berco, dama de companhia de Bernadina Ravasco, filha
de Bernardo Ravasco, leva a notícia de que Gonçalo Ravasco, irmão, é acusado
como um dos conspiradores contra s vida de Francisco Teles. Gonçalo também está
refugiado no Colégio dos Jesuítas. Bernardo Ravasco era irmão de Padre Antonio
Vieira e Secretário de Estado. Ao saber do atentado ao alcaide, refugia-se na
quinta dos padres e manda a filha e Maria Berco para o Recôncavo. No Colégio
dos Jesuítas, Gonçalo, o pai, Gregório de Matos, Antonio Brito, João de Couros
e o vereador Luiz Bonicho analisam os prós e contras da empreitada. Todos
decidem pela entrega das armas e Bernardo Ravasco entrega a mão do alcaide para
Maria Berco dar um fim. Depois, Bernardo foi ao encontro do irmão Antonio
Vieira.
Enquanto isso, o governador comandava buscas na
tentativa de encontrar culpados. Quem tinha alguma ligação com os Ravascos
tinha sua casa invadida. Muitos fugiam. Ninguém sabia de nada. Ninguém viu
nada. Os sinos anunciavam a morte do alcaide. Depois de missas e orações, o
governador se encontra com o desembargador Palma e diz que vai invadir o
Colégio dos jesuítas e prender os Ravascos, principalmente o cabeça: Padre
Antonio Vieira. Palma acha a empreitada arriscada. Era o dia 5 de junho de
1683.
Maria Berco tenta livrar-se da mão do alcaide. Joga-a
no lixo, mas acha desumano e pede a um marinheiro para dar uma volta de barco.
Desconfiado, o marinheiro descobre a mão e rouba o anel. A mão é jogada no mar.
No retorno á praia, são interpelados por soldados. Maria, que guarda o anel
entregue pelo marinheiro, é presa como prostituta. No palácio da Secretaria, o
governador prende Bernardo Ravasco como assassino do alcaide, mesmo sem provas.
Vieira protesta e é também ameaçado de prisão. Dali, Vieira segue com o padre
Soares para a quinta dos padres.
Maria Berco penhorou a anel do alcaide e recuperou a
moeda que perdeu para os soldados. Comprou algumas coisas e foi ver João Berco,
o marido. Luiz Bonicho e Donato Serotino, mestre de esgrima, temem O Braço de
Prata e tramam contra sua morte. Após as aulas de esgrima, Donato Serotino
ataca Antonio Souza e foge.
Gregório de Matos, com medo da prisão, saiu de casa e
vagou pela cidade. Foi parar no dique. Lá pensou em Anica de Melo, prostituta e
amante. A ela relatou sua vida, principalmente sua estada em Portugal. O poeta
seguiu para a residência de Bernadina Ravasco. Ele a levaria para o Recôncavo.
Ao saber da prisão do pai, cancelou a viagem. Maria Berco ficou encantada com o
poeta.
Gregório se encontra com Gonçalo e Serotino. Fala ao
irmão o encontro com Bernardina e sua recusa de ir ao Recôncavo. Mata lê para o
Governador as sátiras de Gregório contra ele. No prostíbulo de Anica, Gregório
entrega a Gonçalo ravasco as credenciais para entrar no palácio do governador e
recuperar os escritos do pai.
Antonio Souza resolve invadir o Colégio dos jesuítas e
prende Antonio Brito, João de Couros, Francisco Dias do Amaral, Barros de
França, Antonio Rolim, vários jesuítas e estudantes. Também foram presos os
capitães de presídio Diogo de Souza, o Torto, e José Sanches Del Poços. Gonçalo
Ravasco escapou. Estavam no meio da multidão e assistiram à prisão dos
companheiros.
Gonçalo ravasco conseguiu adentrar no palácio do
governo. Esteve a passos de matar, se quisesse, Antonio Souza. O objetivo maior
era recuperar os escritos do pai. A empreitada foi um sucesso. Depois, Gonçalo
se encontra com Gregório para irem ao palácio do arcebispado. No trajeto, o
poeta descobre o marido cego de Maria Berco e surpreende o amigo com revelações
picantes.
Gregório de Matos e Gonçalo Ravasco foram encontrar-se
com o arcebispo João da Madre Deus. Lá, Gregório relatou o caos em que estava a
Bahia e pediu providências. Cobrou ainda um comportamento mais discreto do
arcebispo nas visitas ao palácio. Irritado, o arcebispo se retirou. No caminho
de volta, relatou seus casos amorosos a Gonçalo. Já com Anica, confessou uma
atração por uma moça: Maria Berco.
A vingança
Antonio Brito é torturado na cela dos tormentos e
jogado na enxovia com João de Couros, Diogo de Souza e outros. Durante tortura,
dá o nome de sete dos oitos encapuzados do crime do alcaide: Ele, Luiz Bonicho
(vereador), Donato Serotino (mestre de esgrima), João de Couros, Diogo de Souza
(o Torto), Manuel Dias (escrivão) e Moura Rolim (primo de Gregório de Matos).
Antonio Teles, o novo alcaide, leva os nomes ao Braço de Prata. A suspeita do
oitavo nome cai sobre Gonçalo Ravasco. O alcaide-mor quer vingar-se e deseja
fazer uma carnificina. Antonio Souza não quer mortes, mas manda fazer prisões,
ordena torturas e devassas. Gonçalo Ravasco, Maria Berco e Gregório de Matos
estão na lista.
Antonio Teles visita Bernardo Ravasco na enxovia e
mostra-se vingativo. Bernardina é chamada no palácio. O governador faz a
proposta de soltar Bernardo Ravasco se ela dissesse onde estava o irmão.
Bernadina procura Vieira e fala da proposta. Vieira sabe que o governador quer
prender os dois e pede a Luiz Bonicho para, em Portugal, entregar cartas aos
poderosos. Também escreve uma carta ao judeu Roque da Costa Barreto,
ex-governador do Brasil, relatando os fatos e pedindo ajuda. Vieira pede ainda
ao padre José Soares avisar a Gregório sobre as intenções do governador.
Gonçalo deveria ser avisado.
O Blasfemo havia sido solto. Era colega de enxovia de
Bernardo Ravasco. Ao sair de lá foi visitar Luiz Bonicho e Serotino. Disse-lhes
que estavam ameaçados de prisão. Maria Berco maltratava o seu corpo com um
chicote. Pensava em Gregório e no anel que roubou. Os soldados do governador
invadiram o quarto de Gregório e
assustou Anica de Melo. Gregório, depois de ver a destruição que fizeram em seu
quarto, amou uma negra novata do prostíbulo. Depois, leu poesias para ela.
Bernardina Ravasco pede a Maria Berco para procurar
Gonçalo Ravasco e propor que ele se entregasse para liberar o pai. Maria berco
não o encontra e vai à procura de Gregório de Matos. Contrário à troca,
Gregório promete encontrar Gonçalo e pedir-lhe que fale com Bernardina. O poeta
conversa com Gonçalo e o aconselha a não aceitar a proposta do governador. Para
ele, Vieira é o principal alvo do Braço de Prata. Em sua casa, Maria Berco é
levada presa na frente do marido.
Padre Vieira vai à procura de Samuel da Fonseca. Lá o
rabino lembra os préstimos do padre jesuíta ao povo judeu. Vieira pede-lhe
ajuda e Samuel promete fazer o possível para o processo da morte do alcaide
sair das mãos de Palma e ir para as do desembargador João da Rocha Pita, que
apuraria o crime com isenção. O rabino diz ainda que seria uma boa ajuda para a
destituição do Braço de Prata. Gregório de Matos está com Anica de Melo. Ele
faz um relato de sua vida e pergunta a Gregório sobre por que o chamam de “o
judeu brasileiro”. Gregório faz uma retrospectiva do apoio de Vieira ao
comércio internacional, que beneficiava os judeus, sua coragem ao enfrentar a
Inquisição, suas missões secretas e diplomáticas, sua luta para livrar os
índios da escravidão, sua prisão em Lisboa e os encontros que teve com o padre
quando estava em Portugal.
Luiz Bonicho se prepara para ir á Europa. Vendeu todos
os seus bens e agora sonha com um tempo em Lisboa e outro em Paris. Serotino
chega disfarçado e Bonicho comunica-lhe a morte de Blasfemo. O corpo foi
encontrado no Rio Vermelho. Fora executado. Enquanto isso, Vieira relembra, na
quinta do Tanque, os tempos na corte. Bernardina Ravasco pede a Gregório um bom
advogado para defender Maria Berco. Ele promete providenciar. Quando Gregório
de matos se ausenta da casa dos ravascos, Bernadina e presa e jogada na enxovia
onde estavam mulheres e familiares de outros presos.
Enquanto Vieira anda pela cidade refletindo sobre seus
opositores e seguidores, Samuel da Fonseca faz sua parte. No palácio, o
governador recebe os desembargadores Palma e Góis, acompanhados do alcaide
Teles. Fica sabendo da suspeição de Palma. Vieira obtinha sua primeira vitória
e o governador manda segui-lo. Antonio Teles pede ao governador para agir por
conta própria. Quer fazer tudo ao seu modo e assumiria as responsabilidades. O
Braço de Prata aceita. Vieira consegue visitar Bernardo Ravasco na enxovia. O
padre mente ao irmão sobre a sobrinha. Disse que ele estava num engenho.
Falou-lhe sobre o processo, as suspeição do Palma e a nomeação do Rocha Pita
para o caso. Bernardo ficou esperançoso e falou a Vieira sobre a prisão de
Maria Berco. Vieira contou-lhe sobre o roubo do anel. O Alcaide e o Gordo
tentavam ouvir a conversa dos irmãos e se escondem quando o padre sai. O
escrivão Manoel Dias vai ao encontro da amante, a negra Ursula do Congo.
Confessa que não tem dinheiro para ir a Portugal. Padre Vieira vai providenciar
tudo. Percebe que há policias por perto e pede a Ursula que não o denunciasse
se fosse presa. Enquanto isso, Padre Vieira fazia visitas e era seguido pelo
Gordo. Luiz Bonicho e Donato Serotino confabulam. Luiz está com cartas de
Vieira para levar a autoridades em Lisboa e teme que o acusador passe a
acusado.
Ana Miranda |
Gregório de Matos vê a cidade da Bahia, cenário de
seus versos satíricos e vai ao encontro de Samuel da Fonseca. Entrega-lhe os
manuscritos de Bernardo Ravasco. Pede para seja levado para a Holanda e
publicado. Samuel oferece também os seus préstimos para publicar os escritos do
poeta. Gregório não quer. Diz ser um poeta que escreve para os que não sabem
ler.
Manuel Dias pensava em Ursula do Congo. Estava ao lado
da esposa Aldonça e pensava nos problemas: vistas de pessoas e morcegos no
esconderijo. Era um péssimo sinal. Enquanto amava a esposa, O Gordo e Antonio
Teles chegava ao local matando as escravas. Em seguida mataram o escrivão e a
esposa, deixando apenas uma criança soluçando entre os mortos.Não esqueceram
também de decepar a mão de Manuel Dias. Gregório visita Anica de Melo e fala da
morte de Manuel Dias. Anica está desconfiada do seu amor por outra mulher.
Gregório nega, Anica chora e depois se amam. Anica arranjou um esconderijo para
Gregório no armazém de Vicente Laso, numa rua deserta. Para lá foram. Gregório
usava uma cabeleira, presente de Anica. Como o local ficava perto da praia,
Gregório ficou ao lado de Anica sentados nas pedras. Pensava em Maria Berco e
sabia que quando mais visitasse Anica mais a magoaria.
Gonçalo Ravasco foi se despedir do tio. Vieira já não
tinha certeza do sucesso da empreitada. Havia perdido muitos parentes em
naufrágios e temia pelo sobrinho. Aconselhou-o a não ir. Gonçalo tentou
acalmá-lo. Tudo daria certo. Viajaria com outros homens prejudicados pelos
Menezes. Vieira pediu que falasse com o príncipe e relatasse o que ocorria na
Bahia. Luiz Bonicho e Donato Serotino prepararam-se para a viagem à Europa. No
embarque, encontraram o Gordo e vários policiais. Correram pelas ruas
estreitas. Serotino acabou morto no meio da rua e Luiz Bonicho, mesmo
oferecendo toda sua fortuna ao Gordo, teve sua mão decepada pelo Alcaide. Eles
não encontraram as cartas de Vieira. Como o vereador havia desmaiado, o Gordo
preocupou-se com as jóias. Bonicho recobrou os sentidos e atirou no Gordo,
matando-o. Conseguiu adentrar no navio com o braço enrolado num pano. No mesmo
navio viajava, como clandestino, Gonçalo Ravasco. João da Madre deus visita o
governador e pede por fim ao processo contra Padre Vieira e Gregório de Matos.
Governador rechaça ambos. João da Madre Deus procurou Gregório de Matos e
exigiu que ele tivesse um comportamento condizente com o cargo que ocupava e
que passasse a trabalhar, já que só aparecia na Sé para receber o salário.
Gregório afirmou que estava sendo perseguido pelo Braço de Prata e negou-se a
mudar o comportamento. Anica vai levar a Gregório a notícia da morte de Manuel
Dias e fala também das fugas de Gonçalo e Bonicho. Fala também que Maria Berco será
enforcada e que Bernardina Continua presa. Antonio Teles vai ao governador e
fala do sucesso de sua empreitada. O governador não vê sucesso. As cartas de
Vieira não foram encontradas, Bonicho e Gonçalo estão indo a Portugal e Rocha
Pita vai comandar o processo. Ele afirma que vai retomar o comando.
A devassa
Começam as investigações sobre a morte do alcaide. Na
relação, o desembargador Rocha Pita começa a colher depoimentos. O primeiro a
depor é o desembargador Manoel da Costa Palma. Seu depoimento é amplamente
favorável ao governador. Antonio Souza Menezes pede a Mata que investigue o
ponto fraco de Rocha Pita. Achava que todo homem é corruptível. Vários
depoimentos se sucedem. Vieira manda seus procuradores depor no Tribunal da
Relação. Há dificuldades em encontrar os verdadeiros culpados, mas Rocha Pita
sabe da impopularidade do governador. O meirinho Manoel do Porto, auxiliar de
Rocha Pita, sugere perdão para todos. Decidido, Rocha Pita quer aprofundar as
investigações e marca uma audiência com o Braço de Prata.
No palácio, Rocha Pita se queixa ao governador das
prisões efetuadas. Fazia ver ao governador que ele não podia prender todos os
inimigos pelo crime do alcaide. Gentil, o Braço de Prata lhe oferece
facilidades para ter acesso a toda documentação do palácio. Enquanto isso,
Manoel do Porto descobre documentos da aquisição de propriedades em nome de
parentes do governador.
Gregório de Matos leu o processo de Maria Berco. Estava condenada à forca. Sabia que era inocente. Procurou Rocha Pita e pediu por Maria. A questão ficou resolvida. João Berco pediria clemência ao governador. Gregório prometeu pagar a fiança. Assim foi feito. Imediatamente, Gregório de Matos foi procurar Bernadina Ravasco. Já fora da prisão, encontrava-se doente. Gregório lhe informou sobre o processo de Maria Berco e sobre a fiança. Pediu-lhe o dinheiro. Não tinha, mas aconselhou-o a procurar Samuel da Fonseca, o judeu. Gregório foi ao Matoim em busca do judeu, acompanhado com o filho de Samuel, Gaspar da Fonseca. No caminho, depois das recordações do poeta sobre as mulheres de sua vida, foram atacadas por homens do governador. Salvaram-se mergulhando no rio Matoim. No destino, Samuel da Fonseca conseguiu o dinheiro. No dia seguinte, o da audiência, Gregório já aguardava João Berco para pagar a fiança e soltar a esposa. Como não aparecia, o poeta tentou encontrá-lo. Foi até a morada dele. Estava morto e com uma mão decepada.
Gregório de Matos leu o processo de Maria Berco. Estava condenada à forca. Sabia que era inocente. Procurou Rocha Pita e pediu por Maria. A questão ficou resolvida. João Berco pediria clemência ao governador. Gregório prometeu pagar a fiança. Assim foi feito. Imediatamente, Gregório de Matos foi procurar Bernadina Ravasco. Já fora da prisão, encontrava-se doente. Gregório lhe informou sobre o processo de Maria Berco e sobre a fiança. Pediu-lhe o dinheiro. Não tinha, mas aconselhou-o a procurar Samuel da Fonseca, o judeu. Gregório foi ao Matoim em busca do judeu, acompanhado com o filho de Samuel, Gaspar da Fonseca. No caminho, depois das recordações do poeta sobre as mulheres de sua vida, foram atacadas por homens do governador. Salvaram-se mergulhando no rio Matoim. No destino, Samuel da Fonseca conseguiu o dinheiro. No dia seguinte, o da audiência, Gregório já aguardava João Berco para pagar a fiança e soltar a esposa. Como não aparecia, o poeta tentou encontrá-lo. Foi até a morada dele. Estava morto e com uma mão decepada.
Gregório vai procurar Anica de Melo. Seu lupanar
estava sendo vigiado. Gregório marcou encontro na taberna da rua de baixo. Sobe
da devassa feita na propriedade de Anica. Procuravam o poeta. Enquanto isso, o
estudante Gaspar Fonseca era detido no porto. Num baú que levava estavam os
escritos de Bernardo Ravasco. O Braço de Prata os queimou folha por folha. Samuel
da Fonseca foi surpreendido quando encontraram o corpo do filho roído pelos
peixes. Gregório procurou Rocha Pita e pediu mais uma vez por Maria Berco.
Achava que o caso estava perdido. Com o dinheiro que seria da fiança,
religiosos visitaram a prisão para dar conforto aos presos e Maria Berco foi
solta e mandada para a casa de Samuel da Fonseca, no Matoim.
Salvador no século XVII |
Padre Vieira queimava em febre, mas continuava em
atividade. Alimentava-se entre os pobres quando padre José Soares comunicou-lhe
a soltura de Bernardo Ravasco e a expatriação feita pelo governador. Mesmo
assim, o irmão de Vieira estava escondido no convento de Santa Teresa. Rocha
Pita também mandou suspender a devassa e soltar outros suspeitos presos
indevidamente. Tal comportamento causou revolta a Teles de Menezes. O alcaide
não se conformou e, numa reunião no palácio, ameaçou o Braço de Prata. Gregório
de Matos, depois de passar a noite com Anica de Melo, comunica-lhe que vai para
o Recôncavo.
A queda
Na Praia Grande, no Recôncavo, Gregório de Matos
pensava na vida e sentia falta da cidade da Bahia. Vivendo sendo posses e
alimentado pelas negras, pelo álcool e peixe, não conseguia esquecer Maria
Berco. Foi ao engenho de João da Fonseca e ela ainda se recuperava dos
maltratos da enxovia. Não pôde vê-la, mas ouviu um relato minucioso das
questões comerciais da agricultura da região. A Bahia trabalhava para
enriquecer a Europa.
Certo dia, Gregório recebeu a visita de Samuel da
Fonseca. Disse-lhe que Maria Berco queria vê-lo na igreja do seu engenho. Gregório
foi vê-la. Usava um véu para esconder as cicatrizes. O poeta a pediu em
casamento. Ela marcou um encontro em Salvador. Depois que Maria se afastou,
Gregório ouviu uma viola animar a praia. Havia negras por lá. Era o lugar dele.
Antonio de Souza Menezes recebe a visita de um
mensageiro do Rei de Portugal. Trazia dois comunicados. Bernardo Ravasco seria
readmitido como secretário e deveria ser imediatamente posto em liberdade. O
outro comunicado era a demissão do próprio governador. Foi Tomás Pinto Brandão
quem comunicou o fato ao Gregório. Agora poderia voltar a Salvador. Foi levar a
notícia a dom Samuel. Lá, apareceram Eusébio de Matos, padre e irmão de
Gregório, e Bernardo Ravasco, ainda com as marcas da prisão. As notícias não
eram boas. Vieira não estava nas graças do Rei e todos os processos
continuavam. Além disso, o padre estava muito doente. Dois cometas pairavam nos
céus da Bahia e marcaram o fim do governo do Braço de Prata.
O destino
Gregório de Matos teve paz durante o governo de
Antonio Luiz de Souza, o marques de Minas, mas desistiu de Maria Berco.
Casou-se com Maria de Povos, uma negra pobre. Com ele teve um filho chamado
Gonçalo, em homenagem ao filho de Bernardo Ravasco. Quando assumiu o governo
Antonio Luiz da Câmara Coutinho, o Tucano, as sátiras de Gregório voltaram com
carga total. Abandonou a mulher, vivia em patuscadas. O sobrinho do Tucano
assumiu o governo. Era João de Lencaster, amigo do poeta. Foi encarregado de
matar Gregório. Traído por Gonçalo Ravasco, o poeta foi preso e mandado para a
ilha de madre de Deus. Em seguida, foi deportado para Angola. Lá, meteu numa
sublevação de militares. Como colaborou com o governador daquela colônia, foi
perdoado e mandado de volta ao Brasil. Estava proibido de viver na Bahia.
Passou a viver da advocacia e morar no convento de Nossa Senhora da Penha, no
Recife. Lá foi enterrado, vitimado por uma febre. Estava com cinqüenta e nove
anos. A capela foi demolida e não há vestígios mais do poeta. Sua poesia foi
registrada em livro, a pedido do próprio governador Lencaster. Pessoas de toda
a Bahia traziam de cor ou nas mãos os poemas que mais representavam a vida
naquele século.
Padre Antonio Vieira não cessou de escrever e publicar
seus Sermões, mesmo estando cego de um olho. José Soares o auxiliava. Chegou a
ser nomeado visitador geral das Missões. Defendeu a província do comércio
desvantajoso com a Europa, defendeu os índios da escravidão, pregava a criação
da moeda provincial. Ficou completamente cego e parcialmente surdo em 1696, mas
ainda ditava cartas para José Soares. Quando não mais pôde, despediu-se da
nobreza portuguesa. Em 1697, logo após uma visita de um soldado de frota,
enviado pelo coroa, morria na quinta do Tanque assistido por José Soares e pelo
reitor do Colégio da Bahia, Padre Andreoni.
Bernardo Ravasco morreu dois dias depois do irmão.
Fora inocentado em 1687 no caso da morte do alcaide. Seus livros nunca foram
encontrados, mas deixou numerosa obra poética em português e castelhano.
Gonçalo Ravasco assumiu o cargo de Secretário de
Estado em lugar do pai. Após trair Gregório de Matos, tinha constantes
pesadelos. Foi secretário exemplar.
José Soares morreu aos setenta e quatro anos. Dizia,
quinze dias antes de morrer, que Vieira o havia chamado. Um dia, mandou
anunciar a sua própria morte. Após recitadas as preces, veio a falecer.
João de Araújo Góis, o seu colega o desembargador
Palma e o arcebispo João da Madre Deus foram vítimas da peste que sepultou a
maior parte da população da Bahia, a partir de 1686.
Antonio de Souza Menezes, o Braço de Prata, foi
nomeado, em Portugal, governador de Campo Maior. Viveu o resto de sua vida
atormentado pelo rancor a Vieira e pelo arrependimento de um pecado nunca
revelado.
O alcaide Teles obteve o perdão no governo de
Lencaster e descobriu que a rivalidade entre Ravascos e Menezes tinha uma
causa: Bernardina Ravasco.
Antonio de Brito ficou homiziado até 1692, quando
obteve perdão do rei dom Pedro II, após interferência de Vieira e do papa
Inocêncio XII.
Samuel da Fonseca mudou para Amsterdã. Casou-se com a
filha de um rabino e logo ficou viúvo. Vendeu tudo que tinha e dedicou-se a
imprimir livros. Morreu em 1698, na Holanda.
Luiz Bonicho chegou vivo a Lisboa. Lá tentou colocar
uma mão de prata, mas estava sem recursos. Lutou na coroa pelo deposição do
Braço de Prata e alistou-se numa tripulação de capitania destinada à Índia, em
1692. A viagem foi um fracasso. Dos quase seiscentos homens, só oitenta e
quatro chegaram vivos. Sobreviveu, mas foi acometido de escorbuto e febre.
Abandonado em Goa, foi para o golfo Pérsico e virou pirata. Nas lutas, perdeu
uma perna. Rico, retornou a Portugal em 1698. Depois seguiu para Paris, de onde
não se teve mais notícias suas. Só boatos.
Anica de Melo recebeu sua casa de volta e continuou
com seu prostíbulo. Gregório sempre a visitava, mesmo casado. Apaixonada,
quando soube do degredo do poeta, seguiu para Angola. O navio foi atacado por
corsários holandeses e ela morreu afogada. Gregório nunca soube de sua morte.
Maria Berco esperou Gregório em vão. Sofreu muito
quando do casamento com a viúva Maria de povos e no nascimento do filho dele.
Rica e sem aceitar nenhum casamento proposto, viajou para Portugal no mesmo
navio que levava o ex-governador Antonio Luiz da Câmara Coutinho. Em Lisboa
passou a defender os judeus. Foi indiciada no tribunal da Santa Inquisição. Foi
excomungada, teve seus bens seqüestrados e foi deportada para a ilha de São
Tomé. Morreu na mesma ilha. Estava pobre e o rosto desconfigurado. Nunca
esqueceu Gregório de Matos.
O molecote que ajudou os conspiradores na morte do
alcaide nunca foi descoberto. Gregório de Matos afirmou certa época que ele foi
um dos negros revoltosos que levantou as espadas contra os desembargadores. Foi
enforcado e esquartejado.
Enquanto isso, a Bahia cresceu sem perder a marca da
terra do prazer e do pecado. Continua encantando a todos e será a eterna cidade
do Boca do Inferno.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
A mulher que mudou o próprio cérebro
por André Bernardo da revista
GALILEU
Curando-se, psicóloga canadense
criou método contra a dificuldade de aprender
Cabeça boa: Após criar sozinha exercícios que reverteram sua dificuldade de aprender, Barbara passou a ajudar crianças com o mesmo problema |
Que horas são? A educadora
canadense Barbara Arrowsmith-Young, 61, só conseguiu responder a essa pergunta
perto dos 30 anos. Problemas neurológicos a impediam de ler, escrever e
calcular como qualquer criança de sua idade. Ela até sabia que o ponteiro
pequeno marcava as horas e o grande, os minutos, mas não entendia a relação
entre eles. No colégio, aprendeu a conviver com xingamentos como preguiçosa,
bagunceira e retardada. “Cresci em um mundo confuso e incompreensível porque
uma parte importantíssima do meu cérebro não funcionava como deveria”, afirma
Barbara, que acaba de lançar The Woman Who Changed Her Brain (A Mulher que
Mudou seu Cérebro, ainda inédito no Brasil).
Foram necessários dias e noites
decorando matérias e torcendo para que fosse aquilo que ia cair na prova, mas
ela não só conseguiu terminar a escola como fez faculdade e mestrado em
psicologia, virando uma especialista no seu problema. Tornou-se autora de um
método de condicionamento para o cérebro que hoje ajuda diversas crianças com
déficit cognitivo como ela. “Sempre tive certeza do que queria ser quando
crescesse.”
Sua vida começou a mudar quando,
na faculdade, um ex-colega de turma sugeriu que ela lesse os livros do
neuropsicólogo russo Alexander Luria. Um deles, O Homem com um Mundo
Estilhaçado, narrava a história de um soldado que havia levado um tiro na
cabeça e acordou com estranhos sintomas: não sabia responder se um elefante era
maior do que uma formiga, por exemplo. A bala havia atingido 3 importantes
áreas do cérebro do soldado: a que processa os sinais visuais, a que responde
pelo som e pela linguagem e a que coordena as relações espaciais e integra as
informações de diferentes sentidos — as mesmas que não funcionavam bem no
cérebro de Barbara.
O que era promissor ficou ainda
melhor quando Barbara se deparou com o estudo do psicólogo americano Mark
Rosenzweig. Ele provou que ratos de laboratório que vivem em ambientes
estimulantes aprendem mais do que os confinados em jaulas vazias. “Por 400
anos, a ciência acreditou que a anatomia do cérebro era imutável. Hoje, sabemos
que é possível reorganizá-lo, mesmo quando danificado”, diz o psiquiatra
canadense Norman Doidge, autor de O Cérebro que se Transforma. É a chamada
neuroplasticidade. “São as mudanças que ocorrem quando fazemos novas sinapses,
fortalecemos conexões pré-existentes e formamos novos neurônios em resposta aos
estímulos externos”, afirma o neurologista Augusto Buchweitz, da PUC-RS.
A partir dessa ideia é que
Barbara lançou-se no desafio de transformar seu próprio cérebro. O primeiro
passo foi aprender a ver as horas. Para isso, desenhou relógios com diferentes
horários em dezenas de cartões e se forçava, por tentativa e erro, a dizer que
horas eram. No verso, estava a resposta. À medida que ia acertando, o exercício
dificultava, com ponteiros para segundos e décimos de segundo. Depois de 4 anos
de práticas diárias (uma média de 10 horas por dia ), Barbara conseguiu não só
acertar as horas, como interpretar textos e fazer cálculos. “Comecei então a
criar exercícios para estimular outras partes do meu cérebro”, diz. Foi assim
que ela passou a estudar alfabetos, memorizar poemas e usar tapa-olhos (saiba
mais no box abaixo).
Barbara acabou inventando uma técnica para ajudar pessoas com problemas semelhantes ao dela. A fundação Arrowsmith School, criada por ela em 1980, em Toronto, já atendeu mais de 4 mil estudantes — com diagnósticos de dislexia, hiperatividade ou déficit de atenção. Muitos foram para a faculdade e tiveram sucesso profissional. Ela não se esquece do menino que, aos 13 anos, não sabia ler nem escrever, e hoje trabalha no mercado financeiro. Apesar da eficácia não ter sido comprovada cientificamente, o programa já foi adotado em 40 escolas dos EUA, Canadá e Austrália. Mas o maior orgulho de Barbara é ajudar crianças que, como ela, poderiam ter se sentido incapazes por toda a vida. “Meu objetivo é abrir um mundo de possibilidades para essas pessoas.”
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Bella, nascida para ser vampira
Com cenas de batalha que
arrancam gritos da plateia, Amanhecer – Parte 2
é bom final para a saga
Flavia Guerra – de O Estado de
São Paulo.
Se você é daqueles que leram os
livros de Stephenie Meyer, que assistiram aos filmes da Saga e ainda
aproveitaram o último fim de semana para fazer uma maratona e relembrar tudo
que Bella e Edward passaram, então Amanhecer – Parte 2 é para você. Prepare-se
para um epílogo digno de novela (com o melhor que uma novela pode ter). Prepare-se
também para uma batalha final que, como bem disse Robert Pattinson a esta
blogueira que vos escreve, é super ousada, sanguinária e….só um sonho. Ou
quase.
Para não estragar a surpresa de
quem ainda não leu o livro e de quem leu também, já que há algumas modificações
da trama do livro no roteiro, limito-me a dizer: A batalha entre os Volturi e
os Cullen e seus aliados (incluindo vampiros das mais diversas origens e países
e os lobisomens) é digna de arrancar gritinhos da plateia. E foi exatamente isso que ocorreu quando a
primeira vítima teve sua cabeça decapitada por Aron Volturi (o sempre ótimo
Michael Sheen).
A partir deste fato, a guerra
começa. E tudo para salvar a cabeça da pequena Renesmee (Mackenzie Foy), que é
acidentalmente confundida com uma criança-vampiro pelos Volturi, que havia
recebido esta informação de uma das irmãs Denali. Como o maior bem que um
vampiro pode ter é sua identidade protegida, e como crianças-vampiros são
incapazes de controlar sua sede e de manter segredo, é, por decreto, preciso
matar qualquer pequeno vampiro que apareça.
Pense na ira de Bella ao saber
que a vida de sua filha corre perigo. A mamãe-vampira se revela uma loba (com
perdão do trocadilho) capaz de matar para proteger a cria. A propósito, está na
experiência de descobrir como um vampiro vê, ouve e vive um dos maiores
prazeres de se assistir a Amanhecer – Parte 2. “Eu queria fazer com que o
público sentisse o que a Bella sente, sentisse os cheiros, soubesse como é ter
o poder de enxergar pequeníssimos detalhes, insetos, ouvir barulhos…E, claro,
ter a sede de sangue que ela tem”, comentou o diretor Bill Condom ao Estado em
conversa em Los Angeles há duas semanas.
Muito por isso, o longa começa
com cenas picotadas, que mostram em cada detalhe como o veneno está se
espalhando pelo sangue de Bella e transformando sua natureza. “Na verdade, não
transforma sua natureza, mas aprimora, revela. Ela descobre que já tinha os
talentos antes mesmo de se tornar uma vampira”, comento a atriz Kristen
Stewart. “Nasci para ser vampira”, diz Bella logo depois de sua primeira caçada
ao lado do marido Edward (Robert Pattinson). De fato. Bella já está tão
treinada após anos e anos convivendo com os Cullen que é até capaz de controlar
sua sede por sangue humano e se contentar com um ‘simplório’ leão da montanha.
Único detalhe é que ela faz toda a caçada usando um micro vestido azul
justíssimo. “Sei que não é o figurino mais adequado para uma perseguição. E nem
sei porque a Bella não reclamou disso”, brincou Kristen.
A imprensa internacional afirmou
em várias críticas que Amanhecer – Parte 2 é o melhor longa da saga. Há
controvérsias. Ainda que um final seja aguardado há tempos, ainda que as
soluções de roteiro sejam acertadas, havia em Amanhecer – Parte 1 um drama
maior. Havia a tão aguardada descoberta da sexualidade, a viagem a Paraty (o
cenário perfeito para a lua-de-mel), havia a gravidez (quase impossível),
a possibilidade de perder Bella e o bebê
que ela esperava, a dúvida do que viria a ser, a luta para salvá-las. Havia uma
humanidade no drama de Ed, que, não podendo fazer nada para salvar sua família,
tinha de, como bem disse Pattinson, aprender que não podia sempre controlar
tudo e esperar o melhor.
Desta vez, os dramas surgem menos
íntimos, mas não menos dramáticos. Há a luta de Ed por sua família, a cruzada
dos Cullen por aliados para testemunhar em favor da humanidade da pequena
Renesmee, há a descoberta da maternidade por Bella. Mas há também mais
superficialidade nas atuações e dramas.
Fato é que é um fim merecido
para uma saga que fez U$ 2,5 bilhões só em bilheteria, sem contar o lucro
obtido com venda de DVDs, livros, brindes etc.
Se este é o fim de fato, o tempo
dirá. Há boatos de que Stephenie Meyer poderá escrever uma nova história, que
poderá ser filmada daqui a alguns anos. Quando questionados se voltariam a
filmar a Saga, todos os atores disseram que sim. Só Kristen ousou dizer que
acha que “é o fim para Ed e Bella, pois eles já viveram tanto e novos
personagens merecem novas histórias.” Quem sabe não será Renesmee que viverá
suas aventuras da próxima vez ao lado de Jacob Black (Taylor Lautner)? A ver!
domingo, 11 de novembro de 2012
¨¨¨Landisvalth Blog: Veja as melhores fotografias do mês de Outubro
¨¨¨Landisvalth Blog: Veja as melhores fotografias do mês de Outubro: O Landisvalth Blog vai, a partir deste mês, selecionar as melhores fotografias e publicá-las aqui para os seus leitores. Hoje seleci...
sábado, 3 de novembro de 2012
Memorial de Aires: o último livro de Machado de Assis
Memorial de Aires, romance
psicológico e última obra de Machado de Assis, foi publicado em 1908, mesmo ano
da morte do escritor. A obra tem por tema os idílios amorosos e as futilidades
de personagens pertencentes à elite brasileira do fim do século XIX. A crítica
afirma que foi nesta obra que o genial escritor mais expôs os seus valores
subjetivos, fugindo um pouco à sua característica mais marcante: a isenção
narrativa.
O romance opera um verdadeiro
retrocesso na obra machadiana. Nele o romancista retorna à concepção romântica,
mitigada pelo ceticismo risonho do conselheiro Aires. Ai se respira a mesma
atmosfera dos seus primeiros romances: os seres são de eleição e a vida gira em
torno do amor. Distingue-o, porém, e torna-a muito superior àqueles a mestria
do ofício, o domínio do instrumento.
Como novidade, traz a forma de
diário e o narrador não é onisciente; observa como simples comparsa os
personagens principais, procura adivinhar-lhes o íntimo através de suposições
próprias ou através de informações alheias.
Como Memórias Póstumas de Brás
Cubas, esta obra não tem propriamente um enredo: estrutura-se em forma de um
diário escrito pelo Conselheiro Aires, que é o mesmo personagem-narrador da
obra anterior do autor, Esaú e Jacó, que pouco age e passa a maior parte da narrativa
contemplando placidamente as aventuras amorosas e existenciais dos jovens ao
seu redor.
O diário compreende dois anos na
vida de um sexagenário que, com sua proverbial mas plácida sabedoria, ilude e
engana o leitor com pequenas observações carregadas de perspicácia. Nele o
narrador relata, miudamente, sua vida de diplomata aposentado no Rio de
Janeiro, de 1888 e 1889. Sucedem-se, nas anotações do conselheiro, episódios
envolvendo pessoas de suas relações, leituras do seu tempo de diplomata e reflexões
quanto aos acontecimentos políticos. Destaca-se, dando uma certa unidade aos
vários fragmentos de que livro é composto, a história de Tristão e Fidélia.
Trata-se de um livro concebido em tom íntimo e delicado, às vezes repleto de
melancolia.
Nele Machado de Assis pôs muito
dos últimos anos de sua vida com Carolina, falecida quatro anos antes da
publicação. Não há muito que contar, senão pequenos fatos da vida cotidiana de
um casal de velhos. O estilo é de extrema sobriedade, e o autor, já na velhice,
pretendeu com este livro prestar um depoimento em favor da vida, ainda que em
tom de mal disfarçada tristeza e até mesmo desolação.
Escrito após a morte de Carolina,
revela uma visão melancólica da velhice, da solidão e do mundo. D. Carmo,
esposa do velho Aguiar, seria a projeção da própria esposa de Machado, já
falecida. A ironia e o sarcasmo dos livros anteriores são substituídos por um
tom compassivo e melancólico, as personagens são simples e bondosas, muito
distantes dos paranóicos e psicóticos dos romances anteriores. Alguns vêem no
Memorial de Aires uma obra de retrocesso a concepções romantizadas do mundo;
outros tomam o romance como o testamento literário e humano de Machado de
Assis.
Machado de Assis |
Memorial de Aires é apontado como
o romance mais projetado da personalidade de Machado de Assis.
Enredo
O conselheiro acompanha com
interesse humano (talvez amoroso) a jovem viúva Fidélia, praticamente adotada
por um casal de velhos sem filhos, Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham
experimentando uma grande decepção quando um rapaz a quem se afeiçoaram, como
se fosse seu filho verdadeiro, Tristão, mudara-se para Lisboa com o fim de
freqüentar a escola de medicina. Tristão retorna e acaba se casando com
Fidélia. Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem casal viaja para Europa.
O romance termina com o
Conselheiro Aires acompanhando com discreta piedade a solidão do casal Aguiar e
Carmo, no qual muito críticos viram as figuras de Machado e de sua esposa,
Carolina.
Trechos da obra
Transcrevemos, a seguir, alguns
fragmentos do diário do Conselheiro Aires, que nos remete à solidão do casal
Aguiar-D. Carmo, após a partida de Tristão e Fidélia. Observe a dolorosa
reflexão sobre a velhice.
29 de agosto
"Assim correram as cousas, a
mentira e os efeitos. Os dous procuramos levantar-lhes o ânimo. Eu empreguei
algumas reflexões e metáforas, afirmando que eles viriam este ano mesmo ou no
princípio do outro; bastava saberem a dor que causava aqui a noticia.
D. Carmo não parecia ouvir-me,
nem ele; olhavam para lá, para longe, para onde se perde a vida presente, e
tudo de se vai depressa. Aguiar ainda pegou na carta que o Desembargador lhe
mostrava, leu para si as palavras de Tristão, que eram aborrecidas em si
mesmas, além da nota que o autor intencionalmente lhes pôs. D. Carmo pediu-lha
com o gesto, ele meteu-a na carteira. A boa velha não insistiu. Campos e eu
saímos pouco depois.
30 de agosto
Praia fora (esqueceu-me notar
isto ontem) praia fora viemos falando daquela orfandade às avessas em que os
dous velhos ficavam, e eu acrescentei, lembrando-me do marido defunto:
- Desembargador, se os mortos vão
depressa, os velhos ainda vão mais depressa que os mortos... Viva a mocidade!
Campos não me entendeu, nem logo,
nem completamente. Tive então de lhe dizer que dizer que aludia ao marido
defunto, e aos dous velhos deixados pelos dous moços, e conclui que a mocidade
tem o direito de viver e amar e separar-se alegremente do extinto e do caduco.
Não concordou,- que mostra que ainda então não me entendeu completamente.
Sem data
Há seis ou sete dias que eu não
ia ao Flamengo. Agora à tarde lembrou-me lá passar antes de vir para casa. Fui
a pé; achei aberta a porta do jardim, entrei e parei logo. "Lá estão eles,
" disse comigo.
'Ao fundo, à entrada do saguão,
dei com os dous velhos sentados, olhando um para o outro. Aguiar estava
encostado ao portal direito, com as mãos sobre os joelhos. D, Carmo, à
esquerda, tinha os braços cruzados à cinta. Hesitei entre ir adiante ou
desandar o caminho; continuei parado alguns segundos até que recuei pé ante pé.
Ao transpor a porta para a rua, vi-lhes no rosto e na atitude uma expressão a
que não acho nome certo ou claro; digo o que me pareceu. Queriam ser risonhos e
mal se podiam consolar; consolava-os a saudade de si mesmos".
Do portal PASSEIWEB.