..................................................................A notícia como nunca foi.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
¨¨¨Landisvalth Blog: O Brasil que deve ser imitado: Menina de 13 anos m...
¨¨¨Landisvalth Blog: O Brasil que deve ser imitado: Menina de 13 anos m...: A menina loirinha e magrinha, como muitas de sua cidade, é uma das melhores alunas da sala. Ela teve a ideia após uma conversa com a irmã ...
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Novo Ensino Médio: Investimento deve ser em treinamento, diz professora americana
MARIA CRISTINA FRIAS – da Folha
de São Paulo
A proposta do MEC (Ministério da
Educação) de agrupar as 13 matérias do ensino médio em quatro áreas pode ser
válida, mas demanda apoio e reciclagem de professores. A opinião é da
professora norte-americana Deborah Stipek, ex-reitora da Escola de Educação de
Stanford.
"No mundo real, humanidades
e ciências são interconectadas. Um currículo integrado permite a professores
organizar o ensino em torno de debates grandes e significativos, o que pode ser
mais motivador para estudantes."
Debora Stipek |
O tema da motivação é uma das
especialidades de Stipek, que escreveu, entre outros estudos acadêmicos, o
livro "Motivation to Learn: Integrating Theory and Practice"
("Motivação para Aprender: Integrando Teoria e Prática", ed. Allyn and
Bacon). "Alunos perdem motivação na escola porque não são mais donos de
suas próprias atividades como quando pequenos -fazem agora o que mandam",
diz ela. "Muitas tarefas são frustrantes ou enfadonhas. Em escolas que têm
ensino mais individualizado e enfatizam a aprendizagem pessoal, tende a não
diminuir tanto." Outro objeto de estudos de Stipek é a faixa pré-escolar.
A criança deve ir para a escola o
quanto antes? "Crianças de um e dois anos de idade não vão à pré-escola
nos Estados Unidos. A evidência de benefícios no longo prazo é muito forte para
o início de alguma escolarização aos quatro anos. Aos três, é mais fraca",
afirma. A seguir trechos da entrevista da ex-reitora que participa hoje do 1º
Seminário Internacional do Centro Lemann para o Empreendedorismo e a Inovação
na Educação Brasileira, em São Paulo.
FUSÃO DE MATÉRIAS
É difícil julgar o projeto [do
MEC] sem conhecer os detalhes. Há um valor razoável em um ensino mais
integrado. A eficácia de uma mudança como essa dependerá do apoio que
professores terão. Vão necessitar de oportunidades para ensinar em equipes e
vão precisar de novo treinamento.
EXEMPLOS NO MUNDO
Esse modelo foi experimentado nos
EUA. Por exemplo, alguns estudantes têm o que chamado "horário em
bloco", como humanidades (principalmente história e literatura) durante
uma metade do dia, e matemática e ciências, na outra metade. Em geral, química,
biologia e física são ensinados em anos diferentes, mas muitos estudantes têm
um ano de curso de ciências integrado. Se os professores não conhecem um tópico
que deveriam ensinar (por exemplo, o de química dar biologia e física no ensino
integrado), o melhor é ter um professor "equipe". Nesse caso, três
professores de ciências planejam lições juntos. Um pode dar a parte que é mais
de química, por exemplo. É importante não pedir a um professor ensinar o que
não sabe. Quando qualquer mudança é feita na organização do ensino, professores
têm de ser treinados de novo. Eles precisam de desenvolvimento profissional, o
que inclui apoio e orientação.
Quando colocar na escola?
Temos muito mais evidência de
benefícios no longo prazo para quatro anos de idade do que para três anos. O
que se encontrou é que começar um ano antes, aos três, pouco acrescenta. Crianças
com um ou dois anos não vão à escola nos EUA. Se eles estiverem em um tipo de
"home care fora de casa", é para que os pais possam trabalhar.
PERDA DE MOTIVAÇÃO
Quando pequenas, as crianças são
donas de seu próprio aprendizado. Elas escolhem atividades que lhes interessam
e, se têm dificuldades, podem mudar sem problemas. Na fase escolar, as tarefas
são muitas vezes difíceis (e, por isso, frustrantes) ou muito fáceis (e, então,
enfadonhas). As crianças passam a ser avaliadas. E algumas crianças sentem não
só frustração, mas fracasso. Isso faz o entusiasmo por aprender diminuir. Mas
tenho visto escolas que enfatizam aprendizado pessoal e avaliam de forma que
todas as crianças experimentem sucesso independentemente de nível em relação
aos colegas.
TECNOLOGIA PARA PEQUENOS
Crianças pequenas aprendem com os
sentidos e pelo envolvimento em atividades. Uma boa parte do tempo delas
deveria ser gasto interagindo com pessoas e objetos. Mas tecnologia pode ser
incluída em um programa educacional por breves períodos de tempo. Professores
que a usam precisam ter clareza quanto ao seu objetivo pedagógico (em vez de apenas
manter crianças ocupadas).
DESTINO DE VERBA PÚBLICA
Se tivesse de escolher entre
alocar verba pública para treinamento de professores e investimento em
tecnologia nas escolas, colocaria mais recursos no desenvolvimento profissional
dos docentes. A evidência de pesquisa é muito clara: a qualidade do ensino é o
fator mais importante no desenvolvimento de crianças. Tecnologia pode ser um
instrumento importante, mas como professores a usam é mais importante do que a
própria tecnologia.
ROTINA NA ESCOLA
Ficar sentado muito tempo
preenchendo apostilas e folhas não é apropriado e é uma boa forma de desviar
crianças da escola. Professores eficientes criam oportunidades de aprendizado
em atividades do brincar, como aprender medidas ao fazer biscoitos e a contar
enquanto encenam histórias. Bons professores criam atividades de aprendizado
que estimulam o interesse das crianças e são percebidas como brincadeiras, mas
têm objetivos claros.
domingo, 26 de agosto de 2012
Hitler ordenou pessoalmente ataques a navios e cerco a portos
É o que revelam os papéis do Tribunal de Nuremberg guardados no Itamaraty
Wilson Tosta – de O Estado de São Paulo
Raeder (acima, o 2º da esq. para dir.) e Jodl (acima, 1º da dir. para esq.) no Tribunal de Nurembg ( HARVARD UNIVERSITY ) |
Uma estratégia naval supervisionada pelo próprio Adolf Hitler resultou no ataque generalizado de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros junto à costa do País nos primeiros oito meses de 1942, quando o governo Getúlio Vargas ainda era formalmente neutro na 2.ª Guerra Mundial. Documentos do Tribunal de Nuremberg guardados no Arquivo Histórico do Itamaraty mostram que o führer autorizou pessoalmente o uso da força contra embarcações do Brasil em maio daquele ano, por considerar os brasileiros em guerra contra o reich.
A papelada tem partes do diário de guerra do ex-chefe de Operações do Oberkommando der Wehrmacht (OKW), general Alfred Jodl, e depoimento do ex-ministro da marinha alemã Erich Raeder na corte que julgou chefes nazistas - Jodl foi condenado à morte e Reader, à prisão perpétua. Os afundamentos levaram o País ao conflito.
"Em 29 de maio, o Comando de Operações Navais (SKL) propôs liberar o uso de armas contra forças aéreas e navais brasileiras", anotou Jodl em 16 de junho. "(O SKL) Considera apropriado um rápido golpe contra navios mercantes e de guerra brasileiros no momento presente, no qual medidas defensivas ainda estão incompletas e a possibilidade de surpresa existe, já que o Brasil praticamente está guerreando no mar a Alemanha. (...) Sobre a proposta do chefe do Comando Operacional das Forças Armadas, o führer ordenou em 30 de maio que o Comando de Operações Navais (SKL) deveria verificar, perguntando a Roma se relatórios brasileiros sobre a guerra, como ações contra submarinos do Eixo, estão corretos. A investigação (...) mostrou que submarinos italianos foram atacados em 22 e 26 de maio no canto nordeste do Brasil por aviões que fora de dúvida decolaram de base área brasileira."
Chefe da marinha de guerra alemã (Kriegsmarine) até 1943, Raeder se defendia em Nuremberg da acusação de crime de guerra por ordenar ações bélicas contra um país neutro e atacar embarcações brasileiras. Na época, os U-boats (submarinos) alemães tentavam bloquear o envio de matérias-primas e armas aos Aliados no Reino Unido e norte da África, atacando embarcações mercantes inimigas, o que não era oficialmente o caso do Brasil. Sua defesa argumentou que os brasileiros não sinalizavam corretamente seus barcos, tornando-se impossível diferenciá-los de navios inimigos. A documentação faz parte do arquivo da Missão Militar Brasileira na Alemanha e foi encaminhada ao País pelos Aliados em 1946.
Medo. A tensão entre Brasil e Alemanha vinha de 1941. O primeiro incidente entre os dois países ocorreu em 22 de março, quando o navio mercante Taubaté foi metralhado pela Luftwaffe no Mediterrâneo, junto à costa do Egito, deixando um morto e 13 feridos. Em 13 de junho, um submarino alemão obrigou o navio Siqueira Campos a parar junto a Cabo Verde. A embarcação brasileira só foi liberada após ser revistada e ter tripulantes fotografados. O Brasil aprofundava as relações com os Estados Unidos, que, a partir de junho, passaram a usar portos de Recife e Salvador. De Natal, americanos começaram a fazer patrulhamento aéreo. O Brasil rompera com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 28 de janeiro de 1942, no fim da 3.ª Conferência de Chanceleres das Américas, no Rio.
"A relação entre Brasil e Alemanha na época era assustadora", declarou Raeder, respondendo a seu advogado, Siemers, diante dos juízes em Nuremberg . "Alemães eram perseguidos lá, tratados muito mal. Os interesses econômicos da Alemanha eram prejudicados pesadamente. Brasileiros já vinham dando ouvidos aos Estados Unidos. Tinham permitido estações de rádio americanas. Transmissores sem fio tinham sido estabelecidos ao longo da costa brasileira e também estações de inteligência. (...) Eles mesmos confirmaram que tinham destruído um submarino alemão."
Depois do rompimento diplomático, recrudesceram os ataques alemães contra o País, ainda longe de águas brasileiras. A guerra chegaria mais perto em 22 de maio, quando o submersível italiano "Barbarigo" atacou (sem conseguir afundar) o vapor mercante Comandante Lira, entre Fernando de Noronha e o Atol das Rocas. O submarino foi localizado por um B-25 Mitchell da FAB, que, atacado a tiros de metralhadora, segundo a versão brasileira, reagiu com bombas. A embarcação italiana escapou, mas o incidente teve repercussão no comando alemão. É a esse caso que Jodl cita em seu diário.
A embaixada alemã temia o agravamento das relações com o Brasil, por causa da atitude da Argentina e do Chile. Após a ação contra o Barbarigo, o Comando de Operações Navais propôs que dez submarinos, que deveriam sair entre 22 de junho a 4 de julho de portos na França, bloqueassem os principais portos brasileiros de 3 a 8 de agosto. A ordem deveria ser dada aos submarinos até 15 de junho.
‘De acordo’. Segundo Jodl, depois de o comandante da marinha relatar a situação a Hitler em 15 de junho em Berghof, o führer "se declarou de acordo". "Ordenou, contudo, que antes da decisão definitiva a situação política fosse de novo examinada pelo Ministério das Relações Exteriores." A operação, porém, acabou suspensa. Veio então nova série de ataques de navios brasileiros, ainda longe das águas nacionais.
Em agosto, o Eixo iniciaria outra ofensiva, agora contra a costa brasileira. Só no dia 16 morreram 551 pessoas nos ataques aos navios Baependi (270 mortos), Araraquara (131) e Annibal Benevolo (150). Os três foram torpedeados pelo submarino alemão U-507 perto de Sergipe. Um dia depois, o mesmo submersível matou mais 56 pessoas, ao afundar os navios Itagiba e Arará na costa da Bahia. Em 19 de agosto, o U-507 afundou a barcaça Jacira, perto de Ilhéus. Três dias depois, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália.
Telegrama "altamente secreto" da marinha alemã para o OKW admitia "risco" de a força ser responsabilizada pela entrada do Brasil na guerra. Ela sugeriu ao ministério das relações exteriores que pedisse às nações neutras para sinalizar seus navios para não serem confundidos com inimigos. Por fim, o documento da marinha diz: "O Ministério das Relações Exteriores alemão, contudo, mandou tal notificação só para Argentina e Chile. Um telegrama enviado em 10 de fevereiro de 1942. O Ministério das Relações Exteriores permaneceu no ponto de vista de que Estados sul-americanos que tinham rompido relações conosco não fossem informados."
Mortes. Ao todo, 35 navios brasileiros foram atacados de 1941 a 1944 - 33 afundaram, com 1.081 mortos documentados (mas o número pode chegar até a 1.400, pois nem toda embarcação tinha controle do número de passageiros) e 1.686 sobreviventes. Estudioso da 2.ª Guerra Mundial, o historiador Frank McCann, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, avalia que os documentos de Nuremberg trazem detalhes importantes sobre as decisões alemãs de atacar navios brasileiros. "Publicados, poderiam finalmente aquietar um pouco do nonsense sobre quem afundou os navios brasileiros e por quê."
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Tirando a roupa para estimular a leitura
Guilherme Solari - do portal UOL, em São Paulo
A escritora Vanessa de Oliveira (de pé) em protesto contra a pirataria em uma livraria de São Paulo junto de uma integrante do grupo Femem (12/08/12) (foto: Guilherme Solari) |
A escritora Vanessa de Oliveira ficou nua em uma livraria de São Paulo neste domingo (12), para protestar contra a pirataria em um ato que afirma também servir de estímulo à leitura. Ex-garota de programa e autora de livros sobre sexo, a autora esteve acompanhada de uma integrante do grupo feminista Femem, que também ficou nua em apoio à causa de Vanessa. "Eu me inspirei inicialmente na Marcha das Vadias”, disse Vanessa ao UOL. “Depois conheci o Femem e achei a minha cara. É neofeminismo, é exatamente o que nós precisamos. Eu e o Femem tivemos essa coincidência de ideologia”. O protesto foi feito durante o lançamento de seu novo livro, "Psicopatas do Coração", baseado em um antigo relacionamento destrutivo da autora. “Eu explico a outras mulheres, com conhecimento de causa, a como sair do relacionamento com um psicopata”, definiu. Vanessa já havia feito um protesto nu no Peru, onde falou que a cultura de pirataria está muito enraizada. “Recebi uma resposta muito positiva dos peruanos”, falou. “Já o brasileiro sensualiza muito as coisas e tem mais dificuldade em entender [os protestos] como uma campanha”. Vanessa discordou do também escritor Paulo Coelho, que chega a incentivar a pirataria de suas obras para divulgá-las. “Paulo Coelho nunca teria existido se seus livros fossem pirateados antes que ele estivesse estabelecido como escritor”, defendeu. O protesto reuniu curiosos na Avenida Paulista em torno das janelas da livraria, que puderam conferir por trás o protesto. Nem todos sabiam do que se tratava. “Fica fechado lá dentro, é difícil entender o que está acontecendo”, disse o empresário Eduardo, que não quis revelar o seu sobrenome. Em geral, a resposta do público ao ato de Vanessa parece ser positiva também aqui no Brasil. “Eu não sei o que ela defende, mas eu apoio”, garantiu o garçom de um bar das redondezas que assistia ao evento.
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domingo, 12 de agosto de 2012
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Aleijadinho e o Barroco
Aleijadinho |
A arte barroca de Aleijadinho |
Antônio Francisco Lisboa, nosso
Aleijadinho, tinha esse apelido devido a uma doença degenerativa que provoca a
perda dos membros – discute-se se sífilis, lepra, tromboangeíte obliterante ou
ulceração gangrenosa das mãos e dos pés. Nasceu na antiga Vila Rica (atual Ouro
Preto), Minas Gerais, filho de um arquiteto português, Manuel Francisco Lisboa,
e de uma escrava de quem se sabe apenas o primeiro nome: Isabel.
Aleijadinho foi arquiteto e
escultor do Período Colonial, sendo considerado o artista mais importante do
estilo Barroco no Brasil. Apesar de, formalmente, só ter recebido a educação
primária, cresceu entre obras de arte, já que, além de seu pai, um dos
primeiros arquitetos de Minas Gerais, conviveu muito com o tio Antônio
Francisco Pombal, conhecido entalhador das principais cidades históricas
mineiras.
Aleijadinho deixou mostras de
seu talento em Ouro Preto, Sabará, Caeté, Catas Altas, Santa Rita Durão, São
João del-Rei, Tiradentes e Nova Lima, cidades de Minas Gerais, onde desenhou e
esculpiu para dezenas de igrejas. Em Mariana, assinou o chafariz da Samaritana
e, a Congonhas do Campo, legou suas obras-primas: as estátuas em pedra-sabão
dos 12 profetas (1800-1805) e as 66 figuras em cedro (1796) que compõem a
Via-Sacra.
Ocupado com encomendas que
chegavam de toda a província, Aleijadinho tinha mais de 60 anos quando começou
a esculpir as famosas imagens de Congonhas do Campo. Nessa época, já deformado
pela doença que lhe inutilizara as mãos e os pés, trabalhava com o martelo e o
cinzel amarrados aos punhos pelos ajudantes. Apesar de ter sido respeitado em
sua época, Aleijadinho, após sua morte, foi relegado a um quase esquecimento. O
reconhecimento de que sua obra – o Barroco reconstruído dentro de uma concepção
rigorosamente brasileira – havia sido a expressão máxima desse movimento no
Brasil foi uma conseqüência da Semana de Arte Moderna de 1922.
ALEIJADINHO E O BARROCO MINEIRO
Nasceu em 1730, em Vila Rica
(hoje Ouro Preto, Minas Gerais). O pai, que desenhava fachadas de igrejas e
entalhava altares, fez o filho estudar e levou-o, já adolescente, a trabalhar
em sua oficina. Em pouco tempo, António Francisco já demonstrava seu inimitável
talento.
Impossibilitado de andar, era
carregado às costas de escravos, da casa para a oficina. Ali, seus ajudantes
amarravam-lhe o cinzel às mãos deformadas e ele trabalhava febrilmente, criando
as mais belas estátuas do Novo Mundo. Foi depois da doença que sua obra começou
a tomar-se realmente grandiosa: suas esculturas, caracterizando-se pêlos rostos
emagrecidos, que deixam entrever os ossos sob a pele,e pelo exagero dos pés e
mãos, impressionam pela originalidade. Os seus grandes grupos estatuários são
desse período (1796 a 1799): Os Passos da Paixão em madeira, e os Doze
Profetas, em pedra-sabão, que se encontram no Santuário de Bom Jesus de Matozinhos,
em Congonhas do Campo.
Aleijadinho faleceu em 18 de
novembro de 1814, com 84 anos, tendo passado os dois últimos anos de sua vida
sem sair do leito, quase cego e paralítico. O Museu da Inconfidência, que se
encontra em Ouro Preto, possui diversas estátuas de sua autoria, como as de São
Jorge. Nossa Senhora e a do Senhor da Coluna. Igrejas de Sabará, Tiradentes,
Nova Lima e outras têm imagens ou trabalhos de entalhe feitos em altares,
púlpitos etc., que constituem atração turística.
ALEIJADINHO E A ARTE BARROCA
O profeta Daniel, por Aleijadinho |
O artista produziu muito, mesmo doente. |
O barroco foi o estilo que se
manifestou em várias formas de arte na Europa ocidental e na América Latina, da
metade do século XVI ao final do século XVII. A arte barroca é monumental,
plena de detalhes dramáticos, dando origem, no século XVIII, a um estilo menos
elaborado, chamado Rococó.
Contribuíram para a formação do
estilo barroco três elementos da vida cultural da Europa ocidental. Primeiro,
os artistas, a partir da segunda metade do século XVI, rebelaram-se contra a
arte renascentista, que era contida e primava pela harmonia, simplicidade e
equilíbrio simétrico. Os pintores, arquitetos e escultores barrocos conseguiram
estabilizar-se em formas mais dramáticas e rebuscadas. Por exemplo, um
arquiteto renascentista devia recorrer a elementos retangulares para alcançar
perfeição e beleza. Os arquitetos barrocos, mais dramáticos, substituíram os
elementos retangulares pelos curvos.
Em segundo lugar, muitos
soberanos europeus pretendiam um estilo artístico que exaltasse seus reinos.
Magníficos palácios barrocos, como Versalhes, na França, e o Zwinger, na
Alemanha, expressaram o poder e a autoridade do chefe de Estado. O terceiro
elemento foi a Contra-Reforma nos séculos XVI (últimos anos) e XVII, que
provocou um sentimento de exaltação religiosa em diversas partes da Europa. As
igrejas barrocas representam o drama e a emoção desse movimento religioso.
Costuma-se definir o barroco
europeu como a arte do esplendor. Há uma estreita relação entre o
desenvolvimento desta e as riquezas (pedras e metais preciosos) das colônias
recém-descobertas. Uma pequena minoria de pessoas abastadas da Itália, França,
Inglaterra, Espanha e Países Baixos procurou apoiar artistas que refletissem em
suas obras a opulência das grandes fortunas. No Brasil do século XVIII, a
adoção do estilo barroco vincula-se certamente com o descobrimento de minas e a
conseqüente riqueza de algumas camadas da população. O barroco brasileiro
coincidiu com o nascimento da consciência nacional, ao mesmo tempo que a
favoreceu. Contando com o apoio dos protetores das artes - paróquias,
confrarias e associações religiosas - tornou-se a primeira possibilidade de
expressão artística do país.
Fonte:
biografias.netsaber.com.br
Chico Buarque lança sexto álbum ao vivo com canções de sua primeira turnê
Gabriel de Sá – do Correio
Braziliense
Não é segredo para ninguém que
o arredio Chico Buarque não é muito afeito a apresentações ao vivo. Qualquer
admirador mais assíduo sabe que um show do compositor carioca, de 68 anos, deve
ser visto como um grande acontecimento — tanto pela raridade quanto pela
qualidade. À plateia brasiliense, por exemplo, ele ficou devendo um concerto de
seu aguardado álbum Chico, de 2011. Para amenizar o anseio dos que não o viram
frente a frente, Chico colocou na praça, esta semana, o disco duplo Na
carreira, gravado a partir do último trabalho de inéditas.
De sua vasta obra fonográfica,
com mais de 40 CDs, apenas cinco fazem parte de formato ao vivo. Este é o
sexto. Na carreira foi gravado em fevereiro deste ano, no Rio de Janeiro, e é
um registro da turnê que percorreu nove cidades brasileiras e já foi vista por
150 mil pessoas. Nele, estão todas as 10 canções de Chico, como Querido diário,
Essa pequena e Sinhá.
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quarta-feira, 8 de agosto de 2012
¨¨¨Landisvalth Blog: Foz do Iguaçu: da Casa Verde às Cataratas
¨¨¨Landisvalth Blog: Foz do Iguaçu: da Casa Verde às Cataratas: Avenida Brasil em Foz do Iguaçu Landisvalth Lima Eu a as Cataratas do Iguaçu Foz do Iguaçu é uma cidade c...
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Caetano 70 Veloso
Do portal Terra
Caetano Veloso fez aniversário
nesta terça-feira
Caetano Veloso em três fases da vida. (foto: divulgação portal oficial) |
com o eterno amigo Gilberto Gil |
Com Maria Gadu |
Quinto de um "grupo"
de sete filhos, Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso nasceu no dia 7 de agosto
de 1942, em Santo Amaro da Purificação, pequena cidade do Recôncavo Baiano,
próxima de Salvador. Ele é filho de José Telles Velloso e Claudionor Vianna
Telles Velloso, que ficou conhecida como Dona Canô. Nesta terça-feira (7),
Caestano Veloso, um dos mais importantes nomes da Música Popular Brasileira e
um dos pais do Tropicalismo, completa 70 anos de sucesso tanto na vida pessoal,
quanto profissional.
Em 1947, começou a demonstrar
seu gosto pela música, desenho e pintura. Adorava ouvir rádio e se encantava
com as músicas de Luiz Gonzaga. Em 1952, fez uma gravação de Feitiço Da Vila,
de Vadico e Noel Rosa, e Mãezinha Querida, de Getúlio Macedo e Lourival
Faissal, para que a família ouvisse.
Fez show com Chico Buarque no TCA, em 1972 |
Com Gal Costa, sua melhor intérprete. |
Em 1961, aflorou ainda mais seu
gosto por música e cinema. Escreveu críticas para o Diário de Notícias, que
tinha a seção cultural dirigida por Glauber Rocha. No mesmo ano, aprendeu
violão e começou a cantar com Maria Bethânia em bares de Salvador. Parceiros
desde sempre, Caetano só conheceu Gilberto Gil, a quem já admirava antes mesmo
de conhecer, em 1963. Foram apresentados pelo produtor Roberto Santana. No
mesmo período, conhece Gal Costa e Tom Zé. Ainda em 63, decide se tornar cantor
e compositor, após compor para as peças O Boca de Ouro, e A Exceção E A Regra.
Ainda na década de 60, se mudou
para o Rio de Janeiro, lançou seu primeiro compacto simples. Em junho de 1966,
estreia nos festivais e concorre no Festival Nacional da Música Popular, da TV
Excelsior, com Boa Palavra, que fica em quinto lugar. No mesmo ano, Um Dia,
recebe o prêmio de melhor letra, no 2º Festival de Música Popular Brasileira,
da TV Record.
Tropicália e Ditatura
Em 1967, cantou Alegria
Alegria, em conjunto com as guitarras elétricas dos argentinos dos Beat Boys.
No 3º Festival de Música Popular, Gilberto Gil também apresentou Domingo no
Parque. No mesmo ano, entra em curso o Tropicalismo, movimento organizado por
Caetano, que propôs uma criação de um arte brasileria original e faz uma ponte
entre o rural e o urbano. Nessa época, Caetano surpreendia ao aparecer no palco
com brincos de argola, tamancos e batom.
Fina Estampa. Trabalho em espanhol |
Qualquer coisa. Um dos mais queridos |
Em parceira com Nara Leão, Os
Mutantes, Torquato Neto, Rogério Duprat, Capinam, Tom Zé, Gil e Gal Costa,
lançou Tropicália ou Panis et Circensis em 1968. Foi eliminado do Festival
Internacional da Canção (TV Globo), com Proibido Proibii, e protagonizou uma
cena inesquecível ao gritar para o público e aos jurados: "Vocês não estão
entendendo nada!". Após lançar o compacto duplo que tinha A Voz do Morto,
foi censurado e teve o disco recolhido. No mesmo ano, Veloso e Gil são presos,
acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira brasileira. Em
1969, são soltos e seguem para Salvador, em regime de confinamento. Em julho,
partem para o exílio na Inglaterra.
De volta ao Brasil
Em 1972, Caetano Veloso voltou
ao Brasil. Dois anos depois, lançou Temporada de Verão, ao lado de Gil e Gal
Costa. Em 1979, apresentou-se em um festival na TV Tupi defendendo a canção
Dona culpa ficou solteira, de Jorge Ben, onde foi vaiado e desclassificado.
Nesse período, compôs canções como A Tua presença morena, Tigresa, Cajuína e
London London. Ainda nos anos 70, lançou o disco Doces Bárbaros, com Gil, Gal e
sua irmã, Maria Bethânia.
Na década de 80, lançou os
discos Totalmente demais, que vendeu mais de 250 mil cópias, Outras Palavras,
que lhe deu o primeiro Disco de Ouro de sua carreira, e Caetano Veloso, que
trouxe regravações acústicas de seus sucessos. Participou do filme Tabu, em que
viveu o personagem Lamartine Babo, e Os Sermões - A História de Antônio Vieira,
como Gregório de Matos.
Transa, gravado em Londres. Apostam que é seu melhor trabalho |
Disco Uns. Com Dona Canô, o pai e Dedé (1ª esposa) |
Em 1993, retomou o Tropicalismo
em Tropicália 2, que também comemorou os 30 anos de amizade de Gil e Caetano,
com destaques para as músicas, Rap popcreto, Aboio, Dada e As coisas. Entre
seus discos mais recentes, o destaque vai para Cê, de 2006.
Caetano Veloso foi casado com a
atriz Dedé Veloso, com quem teve Moreno. Em 1986, se apaixonou por Paula
Lavigne, com quem ficou por 19 anos. Ele ainda é pai de Zeca e Tom.
Discografia
1965 - Cavaleiro/Samba em Paz
1967 - Domingo
1968 - Caetano Veloso
1969 - Tropicália
1969 - Caetano Veloso
1971 - Caetano Veloso
1972 - Transa
1972 - Barra 69
1972 - Caetano e Chico Juntos e
Ao Vivo
1973 - Araçá Azul
1974 - Temporada de Verão
1975 - Joia
1975 - Qualquer Coisa
1976 - Doces Bárbaros
1977 - Bicho
1977 - Muitos Carnavais
1978 - Muito - Dentro da
Estrela Azulada
1978 - Maria Bethânia e Caetano
Veloso ao Vivo
1979 - Cinema Transcendental
1981 - Outras Palavras
1982 - Cores, Nomes
1983 - Uns
1984 - Velô
1986 - Totalmente Demais
1986 - Caetano Veloso
1986 - Caetano Veloso
1987 - Caetano Veloso
1989 - Estrangeiro
1990 - Sem Lenço Sem Documento
- O Melhor de Caetano Veloso
1991 - Circuladô
1992 - Circuladô Ao vivo
1993 - Tropicália 2
1994 - Fina Estampa
1995 - Fina Estampa ao Vivo
1997 - Livro
1998 - Preda Minha
1999 - Omaggio a Federico e
Giulieta ao Vivo
2000 - Noites do Norte
2000 - A Bossa de Caetano
2001 - Noites do Norte ao Vivo
2002 - Eu Não Peço Desculpa
2004 - A Foreign Sound
2006 - Cê
2007 - Cê Ao Vivo
2008 - Roberto Carlos e Caetano
Veloso e a música de Tom Jobim
2009 - Zii e Zie
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domingo, 5 de agosto de 2012
Ensaio: A práxis social e a ética aparente na educação
Landisvalth Lima
O alicerce básico deste ensaio é o artigo Ètica e ontologia em Lukács e o complexo
social da educação, assinado por Mônica Mota Tassigny e publicado na
Revista Brasileira de Educação, nº 25. Lá, a autora mostra as nuances da
natureza da relação do processo educacional do homem com a realidade material e
social, tendo como norteadores as ideias do pensador húngaro. Aqui, pretende-se
ampliar o debate chamando para o centro das discussões dois contos de Machado
de Assis: O espelho e Teoria do Medalhão, ambos integrantes da
coletânea Papéis avulsos, publicada
inicialmente em 1882.
Citando Lukács, Mônica afirma que o filósofo
vê a história da humanidade focada na tensão entre dois polos: o gênero humano
e as ações dos indivíduos. No primeiro caso há dois formatos reveladores do ser:
o em-si – que pode ser confundido com
uma espécie de negação do eu, recolhimento do ego - e o para-si – tradução do pensar no ser como produto de transformação e
libertação. O nível de conflito do gênero humano com as ações dos indivíduos
determinará o nível da nossa práxis social. Mais claramente, é o que mostrará
se agiremos como produto da História ou como agente dela, como ser alienado às
imposições do capitalismo ou como ser impulsionador de liberdade e de
autonomia.
Machado de Assis |
Chega a ser um sacrilégio a não adoção da
obra de Machado de Assis no meio acadêmico como forma de dissecar o mundo
complexo da alma humana, inclusive como forma de fazer entender as teorias
filosóficas. É verdade que seus livros são muito bem divulgados e adotados nas
escolas de ensino médio, muito mais como leitura obrigatória da disciplina de
Língua Portuguesa do que como mecanismo de compreensão da História, da
Filosofia e da Sociologia. Aqui, como recurso argumentativo, vão os dois
preciosos contos. Primeiro, O espelho, um
esboço da alma humana.
Trata-se da história de Jacobina, um homem
que evitava expor as suas opiniões para seus amigos. Ele não queria discutir ou
debater. Polemizar era um ato que entendia como uma perda de tempo. Mas a
narrativa se inicia porque o protagonista havia sido obrigado a expressar sua
opinião sobre a existência da alma. Expõe, então, uma curiosa teoria sobre a
existência de duas almas. Uma fala de dentro para fora e a outra de fora para
dentro. Uma se impõe sobre a outra. Para provar sua teoria, conta uma história
passada em sua juventude, quando havia recebido o título de Alferes da Guarda
Nacional. Era apenas um título e uma farda, mas isso trouxe à personagem notoriedade
tamanha. Tanto que sua tia Marcolina pede para que ele passe uns dias em seu
sítio, só para ter a honra de receber em suas terras um parente Alferes e poder
exibi-lo. Ele é ovacionado o tempo todo.
Antes de se retirar para uma viagem urgente
em cuidado de uma filha, Marcolina deixa no quarto do Alferes Jacobina um
espelho, o móvel melhor da casa. Era uma homenagem. Com a partida da tia,
Jacobina fica só com os escravos, mas estes fogem no dia seguinte. O
protagonista entra em contato com a solidão, sem ninguém para elogiar seu cargo
e sua farda. Chega a uma crise tal que pensa em praticar suicídio. Seu único
momento de alívio era quando dormia e em seus sonhos via as pessoas elogiarem
sua farda. Certa hora, acidentalmente se olha no espelho e percebe a sua imagem
muito difusa, pouco nítida. Supera, no entanto, o desespero e tem uma ideia
salvadora: veste a farda e se coloca diante do espelho. Espantosamente, sua
imagem está nítida. Passa, então, a dedicar uma determinada hora do dia para
olhar-se no espelho e admirar a sua vestimenta, o que lhe garante a
sobrevivência sem solidão no final do período de 14 dias em que ficou sozinho.
— O
alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas
equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma
parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes
o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a
cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me
falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que
entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado.
Custa-lhes acreditar, não?
O conto revela a visão de mundo de Machado de
Assis parelha à de Lukács. A alma externa, que fala de fora para dentro, é o status
social, o prestígio, o glamour e impõe domínio sobre o eu do ser. Anula o livre
arbítrio e joga o ego ao lixo, gerando servilismo e práticas sociais
alienadoras. Ou seja, o ser aceita o que está posto e vira vassalo do status
quo. Em troca, a alma fica sendo massageada. É o gênero humano em-si lukacseano. Ou seja, o ser vira
produto da história e de suas vontades determinadas pelo meio social.
O outro conto é o diálogo Teoria do Medalhão.
O enredo revela um pai em conversa com seu filho, que faria 22 anos no dia seguinte e,
consequentemente adquiriria sua plena independência. Após o jantar, respondendo
pergunta do filho sobre qual profissão seguir, aconselha que seu pupilo cultive
o ofício de medalhão. O que era então ser medalhão? Moderar os impulsos da
mocidade e saber que, aos quarenta e cinco anos, seria a idade em que o
medalhão normalmente se manifesta. Alguns um pouco mais velhos, outros, ainda
mais jovens, sendo estes últimos verdadeiros prodígios. Outra era abster-se de
ter ideias. Com a idade pode ser que elas viessem, mas deve preveni-las fazendo
atividades que não permitam seu surgimento: jogar bilhar, ter retóricas,
passear na rua – desde que seja acompanhado, para que a solidão não dê margem
às ideias - ir a uma livraria, mas para contar uma piada, um caso, um
assassinato, e não para outro fim, pois a solidão não convém ao fim do ofício.
Com isso, em até dois anos pode reduzir-se bastante o intelecto.
O filho reclama que não pode enfeitar muito aquilo que fala ou escreve,
ao que o pai diz que pode empregar figuras, sempre a carregar citações,
máximas, discursos prontos, até mesmo frases feitas, procurando poupar
problemas e discussões. Mas convém saber das descobertas e interesses das
ciências do momento com o tempo, pois seus significados e terminologia, sendo
aprendidos sem a interferência de professores e mestres, não oferecem o perigo
de formular ideias. Também é mencionado pelo pai ainda os benefícios da
publicidade. Em vez de escrever um tratado sobre os carneiros, é melhor
servi-lo num jantar aos amigos e revelar o evento aos quatro cantos. Deve-se também fazer festas, ter figuras da
imprensa nelas para que se torne público seu acontecimento. Com o tempo, por
tornar-se conhecido, passará a ser chamado para festas como figura
indispensável.
Pode-se virar político também, usar a tribuna para chamar à atenção
pública, mas sem adotar ideia de partido nenhum, muito menos ideias novas. O filho indaga se não deve ter nenhuma
imaginação ou filosofia. O pai responde que não, mas deve falar sobre "filosofia
da história", mas sem sabê-la, devendo fugir de tudo que leve à reflexão. Vendo
que já é meia noite, o pai pede ao filho que vá dormir e pense bem no que foi
conversado. Ou seja, o pai ensinou ao filho como manipular o jogo da
convivência social em benefício próprio.
O medalhão é o profissional oportunista.
— Nem eu te digo
outra coisa. É difícil, come tempo, muito tempo, leva anos, paciência,
trabalho, e felizes os que chegam a entrar na terra prometida! Os que lá não
penetram, engole-os a obscuridade. Mas os que triunfam! E tu triunfarás,
crê-me. Verás cair as muralhas de Jericó ao som das trompas sagradas. Só então
poderás dizer que estás fixado. Começa nesse dia a tua fase de ornamento
indispensável, de figura obrigada, de rótulo. Acabou-se a necessidade de
farejar ocasiões, comissões, irmandades; elas virão ter contigo, com o seu ar
pesadão e cru de substantivos desadjetivados, e tu serás o adjetivo dessas
orações opacas, o odorífero das flores, o anilado dos céus, o prestimoso dos
cidadãos, o noticioso e suculento dos relatórios. E ser isso é o principal,
porque o adjetivo é a alma do idioma, a sua porção idealista e metafísica. O
substantivo é a realidade nua e crua, é o naturalismo do vocabulário.
Observe-se que em Teoria do
Medalhão há um ser que tem consciência de que pode manipular vícios e
comportamentos sociais em benefício próprio. Não se trata de um ser preocupado
com o status, mas com a manipulação deste status para um dia usufruir dele. É a
alma que fala de dentro para fora, que tem consciência do seu posicionamento
social e que se vê como agente da História. Malgrado o uso deste poder da alma
para um certame estritamente individualista, não deixa de ser o gênero humano
do para-si de Lukács. Aqui o exterior
não anula o interior. O ego não se submete, não se anula. Adapta-se para
transformar em seu benefício, como poderia fazer isso em benefício do conjunto
da sociedade.
Podemos aplicar esta visão ontológica do ser de Lukács à prática do
professor como profissional. Há dois caminhos da práxis do educador que não
ferem nenhuma ética. Ser um Jacobina ou ser um Medalhão do bem. Para isso
leva-se em consideração a educação como um processo ideológico de manutenção de
um sistema ou da transformação dele. Não se trata de algo inerente ao ser
biológico. Não é o instinto que nos garante a reprodução da espécie determinado
pela força ou pelo medo. Trata-se de um processo, de uma autorregulamentação da
práxis social e alicerce de sobrevivência de sistemas sociais. Ou seja, a
sobrevivência dos regimes, socialismo e capitalismo por exemplo, mantidos por
um status quo está siamesamente atrelada à evolução ou à decadência da
educação.
E recai sobre o profissional ter esta consciência. Sua atitude ética ante
o mundo em que vive passa pela adoção do em-si
ou do para-si. Como pode um professor
agir diante de uma educação que está revelando o seu país ou sua comunidade
para o mundo? Como um professor na Coreia do Sul ou no Canadá deve agir, vendo
seus alunos no topo da lista dos mais desenvolvidos? Aceitar o que está posto,
conformar-se com o sucesso e cuidar para manter o que está dando certo. E aqui
no nosso mundo Brasil? Como deveremos agir? Se adotarmos o comportamento
aconselhado pelo pai do conto Teoria do Medalhão, conseguiremos facilmente
passar pelos 30 anos de profissão, numa postura perfeitamente ética e irrepreensível.
É a prática do para-si
individualista.
Este professor medalhão tem consciência dos labirintos das estruturas
sociais e as manipula para seu proveito. Fará vistas grossas à corrupção, ao
mandonismo, aos projetos mirabolantes que não dão em nada, ao exercício de
cargos inúteis, aos colegas que defendem a escola pública com unhas e dentes,
mas seus filhos estão matriculados numa escola particular. Este é o
profissional que adota a profissão como meio de ascensão social e não está
nenhum pouco preocupado com o desempenho do todo, mas da parte – ele.
Precisamos de medalhões do bem. Um exército deles, na verdade. Não cabem
aqui professores como os da Coreia e do Canadá. Só há duas formas de chegarmos
ao topo: ou pela força econômica ou pela força da inteligência. Japão e Coreia
do Sul chegaram pela inteligência. A China chega pela força da economia. Já
temos força econômica. Resta-nos a inteligência. Por quê? Aqui a educação
sempre foi mais discurso e menos prática. Aqui a educação é para beneficiar
poucos. Os agentes educacionais não são medalhões do bem.
Tudo isto se se pensar na consolidação de um capitalismo mais humano,
caso seja possível, ou, pelo menos, numa social democracia capitalista. E mesmo
que caminhemos para um socialismo democrático, este só será mais justo se
tivermos uma sociedade educada no sentido mais completo possível da palavra.
Não se pode pensar hoje numa sociedade civil moderna, sob qualquer regime, onde
os professores não ensinam, mas cumprem horário; os alunos não estudam, mas
cumprem tarefas e o governo não administra, mas manipula orçamentos.
Mas o ato da prática do gênero humano do para-si é do indivíduo. É ele, o professor, que terá como meta o
desejo de manipulação das peças do jogo social em benefício da melhoria da
própria sociedade. Ele tem que trazer dentro dele esta coisa abstrata do ver o
errado e não concordar, querer meter o bedelho para transformar. É o ser que
não se distancia jamais da capacidade de se indignar. Esta predisposição para a
rebeldia é fruto de uma boa educação. Não é na escola que ela nasce, mas é a
escola que rega estas sementes já predispostas.
E quando se fala em rebeldia, vem logo a relação com os movimentos
sociais, os sindicatos, os partidos da linha esquerdista. É claro que eles
representam a luta pela correção das injustiças históricas, aqui no Brasil e em
vários países, praticadas contra várias classes sociais, dentre elas a dos
trabalhadores da educação. Mas não é só isso. Os médicos ganham um pouco mais
que os professores, e a saúde é um caos. Os desembargadores ganham altos
salários, e a Justiça é também um caos. O problema é muito mais complexo e
passa pela questão cultural. Não é segredo que as distorções ocorridas nestas
áreas têm grande contribuição do fracasso da escola pública brasileira, fruto
de discursos históricos e práticas desastrosas.