Capitães da Areia, o filme, estreou
no dia 7 de outubro de 2011, dirigido por Cecília Amado, tem como tema
principal a vida de meninos de rua que viviam em um trapiche na cidade de
Salvador. O filme é baseado na obra Capitães da Areia do baianíssimo Jorge
Amado, publicado em 1937. No ano de lançamento do filme, faz 10 anos desde a
morte do autor. O filme é o marco inicial das comemorações pelo centenário de
Jorge Amado. Cecília Amado, a diretora, é neta de Jorge Amado.
Professor (Robério Lima- de óculos) e Pedro Bala (Jean Luís - no centro) |
Ana Graciela, no papel de Dora |
Não consegui assistir ao filme no
cinema. Li resenhas, impressões e críticas e percebi um certo jogo empatado
entre “gostei” e o “não gostei”. Neste fim de ano, adquiri minha cópia pela
Internet (Original!) e hoje tive a felicidade de desfrutar da obra. O filme
custou 9,2 milhões e os atores foram quase todos requisitados, testados e
treinados em ong´s de Salvador. Imagino o trabalhão que deu para selecionar 12
atores adolescentes entre mais de mil inscritos. Mas o esforço valeu. Os
meninos corresponderam. Destaco o ator Robério Lima, que fez o Professor, e o
Jordan Mateus, como Boa Vida, que estavam bem à vontade nos seus respectivos
papéis. A atriz Ana Cecília (a Virtuosa de Cordel Encantado, da Globo) não
conta. Ela estava extraordinária, como sempre. O papel de Dalva lhe caiu como Tieta,
Dona Flor e Gabriela em Sonia Braga. O par Jean Luís Amorim (Pedro Bala) e Ana
Graciela (Dora) foram muito bons e serão grandes atores num futuro bem próximo.
Ana Cecília, como Dalva, e Paulo Abade, como Gato. |
Para que o leitor tenha as informações
completas, os personagens Pedro Bala (Jean Luís Amorim), Professor (Robério
Lima), Gato (Paulo Abade), Sem Pernas (Israel Gouvêa), Boa Vida (Jordan Mateus),
Dora (Ana Graciela), Dalva (Ana Cecília), Querido de Deus (Marinho Gonçalves),
Dona Esther (Jussilene Santana), João Grande (Elielson Conceição), Pirulito (Evaldo
Maurício), Volta Seca (Heder Novaes), Almiro (Elcian Gabriel), Barandão (Jamaclei
Pinho), Ezequiel (Edelvan de Jesus) e Zé Fuinha (Felipe Duarte) formam a base do
filme. Os Capitães da Areia são adolescentes abandonados por suas famílias, que
crescem nas ruas de Salvador e vivem em comunidade no Trapiche junto com outros
jovens adolescentes. Eles praticam uma série de furtos e roubos, o que faz com
que sejam constantemente perseguidos pela polícia. Um dia Professor conhece
Dora (Ana Graciela) e seu irmão Zé Fuinha (Felipe Duarte), que também vivem nas
ruas. Ele os leva até o Trapiche, o que desencadeia a excitação dos demais
garotos, que não estão acostumados à presença de uma mulher no local. Pedro
consegue acalmar a situação e permite que Dora e o irmão fiquem por algum
tempo. Só que, aos poucos, nasce o afeto entre o líder dos Capitães da Areia e
a jovem que acabou de integrar o bando.
Além da direção de Cecília Amado,
o filme tem como codiretor Guy Gonçalves. Cecília e Bernardo Stroppiana são os
produtores. Na produção executiva, além de Stroppiana, aparecem Bill Fogtman, Pimenta
Jr e Camila Medina. O roteiro é também de Cecília Amado, associada a Hilton
Lacerda. Música de Carlinhos Brown, o diretor de arte é Adrian Cooper. Guy
Gonçalves também assina a direção de fotografia, com figurino de Marjorie
Gueller e edição de Eduardo Hartung.
Guy Gonçalves, Carlinhos Brown, Ana Cecília, Cecília Amado (Diretora, no centro), Jean Luís, Ana Graciela e Robério Lima. |
Capitães da Areia é um filme
brasileiro de qualidade superior. Digo ser uma obra carregada de humanismo e fé
no homem. Para Francisco Russo, o filme “carrega
consigo o DNA da Bahia, através da sensualidade latente mesclada com uma certa
dose de provocação insinuante e malandragem. No filme estes ingredientes ganham
ainda o forte tempero da sonoridade do sotaque baiano, inconfundível. Tudo para
mostrar, em tela grande, a Salvador de Pedro Bala, Professor, Sem Pernas e
companheiros. Jovens unidos pela necessidade, todos moradores de rua, que
praticam pequenos golpes sem deixar de lado a ética da camaradagem. Todos
delinquentes e, ainda assim, cativantes.” Acho que vai muito além disso e
os críticos só perceberiam caso uma elite interpretativa, com cara de “o de
sempre”, estivesse à frente do elenco. É difícil no Brasil fazer um filme sobre
pobres, negros e afins. Lembro-me de Cidade de Deus. Mereceria um Oscar, mas
até mesmo sua indicação foi uma aventura cheia de atrapalhadas. Como tenho fé
nos críticos, o tempo fará com que eles descubram que Cecília Amado, Carlinhos
Brown e Guy Gonçalves foram geniais. A música de fundo da personagem Dora é de
uma harmonia invejável. E o que dizer da cena do carrossel de cavalinhos no
parque, cantada pelos Tribalistas! Maravilha! A fotografia, mesmo revelando o
mundo pobre da Bahia, consegue passar beleza. Nada no filme parece artificial,
exatamente porque Cecília usou uma maioria baiana para falar de si mesma. A
minha nota é DEZ!