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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Entrevista: Desmatamento não é desenvolvimento


Morello: desmatamento não é progresso
Desde o século 17, países como Alemanha, França e Reino Unido passaram a estimular a silvicultura e adotar leis para regular o manejo sustentável das suas florestas. Veja entrevista dada por Thiago Fonseca Morello à revista PLANETA, em Outubro do ano passado.
Por Renata Valério de Mesquita – da revista PLANETA
A velha história de que os países desenvolvidos chegaram aonde estão à custa da perda das suas florestas está incorporada há séculos no imaginário coletivo brasileiro. Mas o economista Thiago Fonseca Morello, especializado em aproveitamento econômico florestal, aponta que já passou da hora de se rever essa ideia. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Morello desenvolve atualmente uma tese de doutorado sobre a agricultura de corte e queima na Amazônia brasileira, no Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (IPE-USP). E já defendeu um mestrado sobre o ciclo do carvão vegetal em Minas Gerais.
Como subproduto de suas pesquisas, recentemente publicou o artigo “Desmatamento e Desenvolvimento: O Que o Brasil Tem a Aprender com a História dos Países Desenvolvidos”, demonstrando que a autonomia econômica alcançada por muitos dos países ricos se deu justamente porque souberam entender a importância da conservação da sua cobertura vegetal – mesmo sem contar com tamanha biodiversidade como a brasileira. Eles investiram no reflorestamento e na exploração racional da mata nativa. Morello mostra que o caminho para o sonhado Primeiro Mundo se assemelha mais a uma trilha do que a uma rodovia sobre a floresta.
PLANETA - Por que a opinião pública no Brasil associa desmatamento a progresso?
MORELLO - Esse discurso é uma abordagem distorcida, criada pela classe política. Vem desde o início do país, quando os brasileiros tomaram as rédeas da administração pública. A preocupação era industrializar o Brasil e diversificar a produção. A selva era sinônimo de selvageria e de confusão, portanto, as florestas estavam no meio do caminho do progresso. Mas essa associação é infundada. A literatura mostra que a área florestal (incluindo florestas plantadas) está crescendo desde o século 19 na Escócia, Dinamarca, França e Suíça, e desde o século 20, na Alemanha, Coreia do Sul, Inglaterra e nos Estados Unidos, países que adotaram mecanismos indutores de reflorestamento e regeneração de mata nativa.
O bordão “eles já destruíram tudo e agora querem que preservemos” está equivocado?
Está errado. A Inglaterra conquistou poder bélico graças ao seu poderio naval. Precisou de madeira para construir navios ao mesmo tempo que a agricultura estava em expansão, e que havia guerras em curso e a construção civil crescia. Tudo isso demandavamuito das florestas, o  que fez o preço da madeira subir. O país, então, começou a tomar medidas, criando uma série de leis no século 17 para regulamentar a exploração das florestas. Leis essas que, conceitualmente, não são muito diferentes do nosso Código Florestal.
Existem lições e exemplos que possamos tomar das leis e políticas florestais dessa época?
Sim. Os países pioneiros no aprendizado do manejo de floresta, como Alemanha, Japão e França, cometeram erros mas aprenderam com eles. O Brasil também tem condições de aprender. A história da França é bem interessante. O país cabe dentro de Minas Gerais, mas nunca teve cobertura vegetal e biodiversidade como o Estado brasileiro ainda tem, mesmo depois de tanto desmatamento. Eles também tiveram problema de escassez de madeira. Os franceses não adotaram regras para proibir o uso das florestas, mas já no século 17 começaram a implantar normas para usar as florestas racionalmente, sem destruí-las. As regras surgiram para a sociedade aprender a utilizar e recompor a cobertura arbórea. Desde a metade do século 19, a área florestal francesa não sofreu mais reduções; ao contrário, aumentou. Algumas dessas leis se mantêm até hoje. A França é autossuficiente em madeira e tem, assim como os Estados Unidos, leis muito mais restritivas do que as nossas.
O sr. não mencionou o Japão, que também é um exemplo, não? Apesar da alta densidade demográfica, 69% do território do país está coberto por vegetação.
Sem dúvida se trata de um dos principais exemplos a serem seguidos, pois a industrialização japonesa não veio acompanhada de redução da área nacional de florestas, mas sim da sua expansão, graças ao estabelecimento de plantações florestais com biodiversidade não desprezível no século 18 e, depois, após a Segunda Grande Guerra. O historiador Conrad Totman, especialista em Japão, defende a tese de que a “silvicultura regenerativa” – algo próximo ao que se entende por manejo florestal de baixo impacto – foi desenvolvida no Japão independentemente da Alemanha, país ao qual se atribui a origem da silvicultura.
O que o sr. acha da crítica ao Código Florestal Nacional, de termos leis muito restritivas quanto ao uso de território?
Uma pesquisa realizada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), de Belém, sobre legislações internacionais apontou que muitos países desenvolvidos têm leis tão ou mais rígidas do que se diz que o Brasil tem hoje, ou pretende ter com o Novo Código Florestal.
Continuar desmatando significaria seguir a lógica dos séculos antes da primeira Revolução Industrial?
Com certeza. É como se o Brasil estivesse no período medieval. O correto seria dizer que, no aspecto florestal, o Brasil não é um país em desenvolvimento, mas um país em desmatamento. Entre 2005 e 2010, o Brasil ficou no primeiro lugar do ranking da ONU (empatado com Austrália e Indonésia) em perda líquida florestal – ou seja, descontando-se todo o eucalipto plantado. Mas, se olharmos para o ranking de PIB per capita, continuamos no mesmo lugar, não evoluímos  nada. A questão é: será que esse desmatamento realmente está gerando desenvolvimento? Não está. Não nos restam mais do que 7% da Mata Atlântica e já foram embora 20% da Floresta Amazônica. O Cerrado está entre 20% e 30% do que era. Na prática, essa necessidade de desmatar para desenvolver não é verdadeira. Porque, se fosse assim, já estaríamos lá – no Primeiro Mundo.
Chegamos ao ponto em que os países desenvolvidos, lá atrás, começaram a fazer o manejo sustentável das florestas, mas não tomamos a atitude que eles tomaram.
Exato. No Brasil, a tecnologia evoluiu para florestas plantadas, mas quanto às florestas nativas a exploração continua a ser muito atrasada. O cultivo do eucalipto, aqui, nasceu da nossa escassez de madeira. Ainda predomina a exploração de alto impacto nas florestas nativas – aquele tipo de extração que, para obter uma árvore, acaba destruindo um hectare inteiro. Por outro lado, sempre existiu a ideia de que após o corte da madeira bastava deixar que a floresta se regenerasse por um período de cerca de 15 anos, e se obteria um potencial – em volume de madeira por hectare – equivalente ou não abaixo do que a floresta oferecia. Só que nunca se considerou o estrago causado na floresta. Quanto mais uma floresta fica fragmentada, menor é a sua capacidade para se regenerar. Mudar a concepção das pessoas de como explorar florestas demora. Precisa de qualificação e de mão de obra, que não é barata. Precisa de investimento em tecnologia. No início, o custo disso é maior. Produzir de maneira sustentável, hoje, é mais caro. Mas se todos os países passassem a monitorar a madeira que estão comprando esse panorama poderia melhorar.
O sr. é um crítico da ideia de que os países desenvolvidos deveriam “financiar” o desenvolvimento verde dos mais pobres, como foi defendido na Rio+20?
É um equívoco. Não se justifica pedir dinheiro porque queremos crescer sem desmatar. Isso significaria reiterar que precisamos avançar mais sobre a Amazônia e o Cerrado para nos desenvolver, o que é falso. O que precisamos mesmo é produzir melhor, com maior rendimento. E ter melhores práticas de distribuição. O desmatamento não é condição necessária ao desenvolvimento. Não é preciso depredar recursos florestais para ter desenvolvimento. Isso é mito. Primeiramente, temos de analisar se fazemos bom uso do que estamos destruindo. Se estamos destruindo, já existe algo errado, porque não é necessário. É perfeitamente possível explorar as florestas nativas de forma sustentável.
Precisamos mais de tecnologia do que de dinheiro?
Precisamos dos dois. A pesquisa científica é cara. A gente precisa entender a riqueza da Amazônia, e isso requer um esforço global. Precisamos de apoio para modificar a estrutura tecnológica e institucional que temos para que nossa economia possa andar sem precisar derrubar mais nenhuma árvore.
O sr. acredita que a fartura de vegetação e biodiversidade dificulta ao brasileiro entender o valor da preservação?
A dificuldade não é a escassez ou a abundância. A questão é que estamos longe de nos preocupar realmente com a disponibilidade de madeira (exceto a de lei), pelo bem e pelo mal. Países como os Estados Unidos e a Austrália, ricos em recursos, fazem um aproveitamento melhor. É complicado discutir o que está na cabeça das pessoas, mas acho que a diferença social no Brasil pesa muito. Temos, principalmente, dois grupos: o que dirige o trator que vai passar a corrente para derrubar a floresta e o que comanda a passagem do trator. É isso o que acontece na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. Por mais que sejamos a sétima economia do mundo, o nosso nível de desigualdade social é comparável ao de países da África. Enquanto existir o elo maligno entre aquele que aufere o lucro e a pessoa sem opção de trabalho, isso vai continuar a acontecer.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Douglas Alves foi contemplado no Programa Cultural do BNB


Douglas Alves é da cidade de Fátima-Ba, aluno do curso de pedagogia da UFS e autor do livro "Humanidade e outros pensamentos", recentemente lançado.
Douglas Alves foi contemplado em programa do BNB
O projeto "LEITURAS DE NOSSA VIDA: AS VOZES DO SERTÃO", de José Douglas Alves dos Santos, da cidade de Fátima-Ba, foi contemplado no Programa de Cultura Banco do Nordeste/BNDES - Edição 2012, e já teve sua primeira reunião de execução realizada com sucesso no último sábado (16/02). O autor em breve criará um grupo no Facebook e uma página na Internet para postar informações semanais sobre o projeto.  
O projeto "LEITURAS DE NOSSA VIDA: AS VOZES DO SERTÃO" tem objetivo geral promover a discussão e reflexão sobre a vida em áreas rurais de Sergipe e Bahia, através da produção e publicação de um livro escrito através das vozes daqueles que vivem a incerteza da vida sertaneja e também apresentar imagens captadas naquele espaço. A ideia é promover a socialização de experiências destacadas no livro, através de palestras, exposições, seminários, entre outros, refletir sobre práticas sociais a partir dos dados recolhidos nas entrevistas, debater temáticas sócio-políticas da contemporaneidade.
A produção e publicação do livro podem vir a ser um marco referencial na vida daqueles que fizerem parte do mesmo e na vida dos leitores que terão a oportunidade de apreciá-lo, por agregar fatos e histórias de uma realidade que não é incomum a todos, principalmente daqueles que moram no sertão nordestino. Quem tiver oportunidade de fazer sua leitura, mesmo não vivenciando essa realidade expressa na obra, estará em contato com uma parte do Brasil que muitos, infelizmente, desconhecem. O livro, através da fala dos personagens; personagens reais, não fictícios, discutirá o ser no sertão para sistematizar informações e conhecimentos populares, de sujeitos que vivem e sobrevivem no e do campo.
O livro terá publicação de 1.500 exemplares e gerará palestras, oficinas, seminários, exposições, com objetivo de atingir um público de 5 mil pessoas nas cidades de Fátima, Cícero Dantas, Heliópolis, Paripiranga, Adustina, Poço Verde, Simão Dias, Lagarto, São Cristóvão e Aracaju.
Humanidade e outros pensamentos
Num ano que começou bem produtivo, Douglas Alves fez também sua estreia na literatura, lançando em fins de janeiro o seu livro "Humanidade e outros pensamentos". A obra leva ao leitor a encontrar muitas histórias, dentre as quais, algumas devem ser familiares. O lançamento foi no Hall de entrada da Didática 5, na Universidade Federal de Sergipe (UFS). O livro estará sendo vendido ao valor promocional de R$ 10.
De acordo com Douglas, a obra inicialmente foi produzida entre janeiro e maio do ano passado. Era um projeto planejado para 2012, porém, devido às dificuldades de encontrar apoio para o financiamento da obra, só conseguiu finalizar o projeto no fim do ano, fato que o levou a transferir o lançamento para 2013.
Douglas Alves explica ainda que a necessidade de escrever o motivou a desenvolver a obra. “Tenho outros seis livros escritos, entre romances e livros de contos e poemas. Sinto essa necessidade de escrever, pois observo muito as coisas ao meu redor, o mundo ao meu redor. Gosto de prestar atenção aos detalhes e isso me fascina, pois percebo que são poucos que dão atenção a isso. É algo que é tão simples de se observar. Basta parar um pouco e ver”, diz.
Questionado sobre o que o leitor vai encontrar nas páginas de seu livro, Douglas garante que o leitor vai encontrar muitas histórias. “O livro é composto de histórias reais e fictícias, a respeito de diversos assuntos que assolam a humanidade. Entre essas histórias, estão aquelas que costumam fazer parte da vida de inúmeras pessoas, que têm um significado peculiar a cada um. Acredito que estarei compartilhando o meu ponto de vista através do olhar de muitas pessoas. Quero aproveitar e fazer um convite ao leitor para um diálogo, através da leitura de meu livro. Não espero que concorde com tudo que digo, peço apenas que mantenhamos um diálogo aberto”, conclui.
Com informações e fotos da página do autor no Facebook e do portal Infonet.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sob sigilo, Dom Pedro I e suas duas mulheres são exumados pela primeira vez


Restos mortais de Dom Pedro I, o primeiro imperador brasileiro, e de duas imperatrizes foram exumados para estudos; corpos estavam no Parque da Independência, na zona sul da capital, desde 1972
Edison Veiga e Vitor Hugo Brandalise - O Estado de S. Paulo
A arqueóloga Valdirene Ambiel com o crânio de D. Pedro I
Pela primeira vez em quase 180 anos, os restos mortais de Dom Pedro I, o primeiro imperador brasileiro, foram exumados para estudos. Também foram abertas as urnas funerárias das duas mulheres de Dom Pedro I: as imperatrizes Dona Leopoldina e Dona Amélia. Os corpos estavam no Parque da Independência, na zona sul da capital, desde 1972. 
Os exames - realizados em sigilo entre fevereiro e setembro de 2012 pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, com o apoio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - revelam fatos desconhecidos sobre a família imperial brasileira, agora comprovados pela ciência, e compõem um retrato jamais visto dos personagens históricos.
Agora se sabe que o imperador tinha quatro costelas fraturadas do lado esquerdo, o que praticamente inutilizou um de seus pulmões - fato que pode ter agravado a tuberculose que o matou, aos 36 anos, em 1834. Os ferimentos constatados foram resultado de dois acidentes a cavalo (queda e quebra de carruagem), ambos no Rio, em 1823 e em 1829.
Ao realizar o inventário do caixão de Dom Pedro, nova surpresa: não havia nenhuma comenda ou insígnia brasileira entre as cinco medalhas encontradas em seu esqueleto. O primeiro imperador do Brasil foi enterrado como general português, vestido com botas de cavalaria, medalha que reproduzia a constituição de Portugal e galões com formato da coroa do país ibérico. A única referência ao período em que governou o Brasil está na tampa de chumbo de um de seus caixões (ele estava dentro de três urnas), na qual foi gravado "Primeiro Imperador do Brasil" ao lado de "Rei de Portugal e Algarves".
Ao longo de três madrugadas, os restos mortais da família imperial brasileira foram transportados da cripta imperial, no Parque da Independência, à Faculdade de Medicina da USP, na Avenida Doutor Arnaldo, em Cerqueira César, onde passaram por sessões de até cinco horas de tomografias e ressonância magnética. Pela primeira vez, o maior complexo hospitalar do País foi utilizado para pesquisas em personagens históricos - na prática, Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia foram transformados em ilustres "pacientes", com fichas cadastrais, equipe médica própria e direito a bateria de exames.
No caso da segunda mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia de Leuchtenberg, a descoberta mais surpreendente veio antes ainda de que fosse levada ao hospital: ao abrir o caixão, a arqueóloga descobriu que a imperatriz está mumificada, fato que até hoje era desconhecido em sua biografia. O corpo da imperatriz, embora enegrecido, está preservado, inclusive cabelos, unhas e cílios. Entre as mãos de pele intacta, ela segura um crucifixo de madeira e metal.
O estudo também desmente a versão histórica - já próxima da categoria de "lenda" - de que a primeira mulher, Dona Leopoldina, teria caído ou sido derrubada por Dom Pedro de uma escada no palácio da Quinta da Boa Vista, então residência da família real. Segundo a versão, propalada por historiadores como Paulo Setúbal, ela teria fraturado o fêmur. Nas análises no Instituto de Radiologia da USP, porém, não foi constatada nenhuma fratura nos ossos da imperatriz.
"Unimos as ciências humanas, exatas e biomédicas com o objetivo de enriquecer a História do Brasil. A cripta imperial foi transformada em laboratório de especialidades, com profissionais usando os equipamentos mais modernos em prol da pesquisa histórica", disse a pesquisadora, que defendeu hoje pela manhã sua dissertação de Mestrado na USP, após três anos trabalhando sob sigilo acadêmico. "O material coletado será útil para que as pesquisas continuem em diversas áreas ao longo dos próximos anos."
A reportagem do Estado acompanha os estudos de Valdirene desde 2010, quando a historiadora e arqueóloga conseguiu autorização dos descendentes da família imperial para exumar os restos mortais dos personagens históricos. Veja neste especial todos os detalhes de um estudo que reescreve detalhes da história do Brasil - confirmando algumas informações, desmentindo outras e adicionando novas verdades.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

¨¨¨Landisvalth Blog: Papa anuncia renúncia

¨¨¨Landisvalth Blog: Papa anuncia renúncia: Da Folha de São Paulo O papa Bento 16 anunciou, nesta segunda-feira, que vai renunciar do cargo no próximo dia 28. Esta é a primeira vez...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Morta há 50 anos, poeta Sylvia Plath ainda confunde


MARINA DELLA VALLE – da Folha de São Paulo
Os poetas Ted Hughes e Sylvia Plath, recém-casados em 1956
O suicídio da poeta norte-americana Sylvia Plath, aos 30 anos, em 11 de fevereiro de 1963, deu início a uma questão que acabou por gerar, ao longo dos anos, uma verdadeira indústria de publicações biográficas: quem era, na verdade, Sylvia Plath? Cinquenta anos depois, foram tantas disputas e livros sobre a vida e a morte da poeta que é tempo de mudar a questão ao ler algo sobre ela: Plath era de quem? É o que sugere um dos lançamentos mais interessantes relacionados com a data: "Claiming Sylvia Plath" (reivindicando Sylvia Plath, Cambridge Scholars, 370 págs., US$ 74,99), da norueguesa Marianne Egeland. Professora da Universidade de Oslo, Egeland analisou as publicações sobre Plath escritas entre 1960 e 2010 para traçar a recepção da poeta por diferentes grupos de leitores: feministas, críticos, biógrafos, psicólogos e amigos. Isso porque poucos autores tiveram vida e legado tão debatidos como Plath. As causas de seu suicídio, o papel do marido, o poeta inglês Ted Hughes (1930-1998), em sua morte, e as origens dos poemas vociferantes publicadas em seu livro póstumo, "Ariel", geraram um turbilhão de análises. Mais que isso: tais disputas pintaram diferentes figuras da poeta. "Fiquei surpresa não só com a quantidade de 'Sylvias' contrastantes, mas com o tanto que comentaristas acreditam que suas versões são as únicas corretas", disse Egeland à Folha. Um ponto interessante colocado pela autora é que Plath acabou sendo usada como um argumento pelos diferente segmentos que escreveram sobre ela, moldando sua figura de acordo com os interesses de cada visão. E é possível, afinal, saber quem foi a verdadeira Sylvia Plath? "Essa decisão fica ao encargo de cada leitor. Mas talvez seja prudente lembrar que hoje ela está escondida sob múltiplas camadas de opiniões e interpretações", afirma Egeland. "Claiming Plath" não é necessariamente uma leitura fácil, principalmente para iniciantes no universo da poeta, mas pode ser um bom guia para quem começa, já que situa --e explica-- as diferentes visões alardeadas como a "verdadeira" face de Plath. Para Egeland, há mais um efeito desejado: "Espero que haja um aumento das questões éticas envolvidas na maneira como ela foi reivindicada por seus leitores".
MUITAS VIDAS
Com os 50 anos da morte de Plath, era inevitável que surgissem novas biografias, ainda que o assunto pareça completamente esgotado. A mais completa é "American Isis" (St. Martin's Press, 336 págs., US$ 29,99), de Carl Rollyson, professor de jornalismo do Baruch College, da City University de Nova York. Na introdução, Rollyson compara Plath a outra loura trágica: Marilyn Monroe, também biografada por ele. A comparação inicial pode soar disparatada, mas Rollyson é um biógrafo experiente, que busca mostrar diferentes lados de Plath, como sua sexualidade e o interesse por cultura popular. Assim como Monroe, consagrada como símbolo sexual, ela buscava leituras como James Joyce. "Quis mostrar que Plath não era apenas uma ótima poeta, mas era ótima em vários aspectos", diz Rollyson. Ele é o primeiro biógrafo a utilizar uma série de cartas entre Ted e sua irmã Olwyn Hughes, liberadas anos após a morte do poeta, em 1998. O autor, ao jogar novas luzes em uma história revista tantas vezes, não deixa de avaliar as maneiras como ela foi contada antes. O último capítulo é sobre as biografias de Plath e suas disparidades. "Sem saber como essas biografias foram escritas, o leitor fica sem referência." O afã de publicações (que começou com o relançamento de "Bell Jar", que também completa 50 anos, pela Faber) não se repetiu no Brasil. Os "Diários de Sylvia Plath", editados por Karen V. Kukil, ganharam nova edição (trad. de Celso Nogueira, Globo Livros, 836 págs. R$ 79). "Ariel", em sua versão "restaurada" (da maneira como a poeta o deixou antes de morrer), traduzido por Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Glenz de Macedo, será republicado pela Verus neste ano, sem conexão com os 50 anos da morte de Plath. Assim, o leitor brasileiro fica com a opção de ler o que a própria Plath tinha a dizer, tanto para si mesmo, no caso dos diários, como para o mundo, no caso de "Ariel".

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Gannibal: O cavalheiro negro do czar


O africano Abram Petrovich Gannibal, que chegou à Russia como escravo e virou governador, foi o primeiro intelectual negro da Europa
por Emiliano Urbim – da revista Superinteressante 
Gannibal, de escravo a governador
"Dispensado! Após 57 anos de serviço leal, sem razão ou recompensa!", queixava-se o recém-ex-militar em uma carta a Catarina, a Grande, soberana do Império Russo. Como reparação, ele exigia uma promoção ao posto de marechal e pensão vitalícia. Seu pedido, no entanto, foi ignorado, e o jeito foi aceitar a aposentadoria forçada na sua casa de campo. Tudo bem: encerrar a vida como aristocrata rural era bem agradável. E, no caso do negro Abram Petrovich Gannibal, vindo da África para ser escravo na Rússia, lendário. Nascido em 1696 na Etiópia, aos 7 anos o menino foi capturado e despachado para o sultão de Constantinopla, e logo revendido à corte de São Petersburgo - era moda entre os monarcas colecionar crianças exóticas. Inteligente, o menino conquistou o czar Pedro, o Grande, que arranjou sua alforria e se tornou seu padrinho - daí o sobrenome imperial, Petrovich. Quando fez 20 anos, o cavalheiro negro foi enviado a Paris para concluir seus estudos e, nas horas vagas, espionar um pouco. Russo, negro e nobre, o paradoxo ambulante logo se enturmou com a galerinha alternativa da época: Diderot, Montesquieu e Voltaire eram seus amigos e o chamavam de "estrela negra do iluminismo". Seu biógrafo, Hugh Barnes, crava: Abram foi o primeiro intelectual negro da Europa. Formado em belas-artes e na arte da guerra, fez "estágio" em um conflito entre França e Espanha, de onde saiu capitão. A fama de estrategista lhe inspirou um novo sobrenome, Gannibal - em russo, Aníbal, um general africano que assombrara a Europa 2 mil anos antes. A volta para a Rússia, em 1722, foi cheia de glórias - breves. Morto o padrinho, Abram recebeu uma missão supimpa: deixar nos trinques várias fortalezas na Sibéria, que, como ensina o anúncio de TV a cabo, é bem ruim. Foram 4 congelantes anos até que seus dons como engenheiro militar chamassem atenção e o tirassem do exílio. Reintegrado à aristocracia, Gannibal ascendeu na hierarquia política, militar e diplomática. Assim como o Otello de Shakespeare, o "mouro de Petersburgo" havia feito ao Estado alguns serviços, e eles sabiam disso. Tanto que lhe deram, em 1741, um belo sítio na província de Pskov, com milhares de pinheiros e centenas de servos. O escravo africano havia se tornado um nobre russo dono de escravos. Comparando com o Brasil, é como se Zumbi virasse barão das Alagoas. Após apelar e perder com a czarina Catarina, Gannibal terminou seus dias isolado no campo. Apesar da vida singular, na Rússia ele é só um antepassado de alguém mais famoso: bisavô de Alexandre Pushkin, pai da literatura russa.
Grandes momentos
• A história de Gannibal tem mais conexões literárias: o oficial russo que o levou da Turquia para São Peterburgo foi Pyotr Andreyevich Tolstói, bisavô do autor de Guerra e Paz.
• Promovido à nobreza, ele espalhou que era um príncipe africano. Verdade ou não, acreditava na história e criou um brasão de família com a imagem de um elefante.
• Alguns autores defendem que Gannibal se envolveu na conspiração que matou Pedro 3º e colocou Catarina, a Grande em seu lugar. Nessa versão, ele esperava uma grande recompensa e teria sido traído na última hora.