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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Artigo: O ensino/estudo por temas no Ensino Médio - uma experiência, algumas propostas.

                                                                       Marcos José de Souza*
O ensino na etapa final da educação básica vem se consolidando ao longo de sua formação em um amplo e profícuo campo de debates. Longe de desvalorizar a produção científica nacional vou me concentrar somente, nesse texto, nas nossas práticas cotidianas ao longo dos nossos 15 (anos) de exercício pedagógico no Ensino Médio, no âmbito da área de Linguagens, nas disciplinas LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA e REDAÇÃO.
Desde nosso primeiro ano de trabalho, no Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães, Fatima-Bahia, em 2001, desenvolvemos trabalhos paralelos denominados de projetos de estudo. O primeiro deles foi o EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO FATIMENSE. Anos mais tarde, criei o NA TRILHA D’OS SERTÕES. O primeiro durou aproximadamente 05(cinco) e, anos mais tarde, 2009, criei o segundo, cuja abrangência extrapola o universo escolar, sendo já aplicado junto a comunidade local e também no município de Cícero Dantas.
Ambos os projetos tinham como fonte, origem, o estudo do livro OS SERTÕES, de Euclides da Cunha. Partindo da leitura de trechos do livro, íamos ampliando nosso repertório informativo acerca do nosso universo social sob todos os aspectos: literário, histórico, religioso, botânico, geográfico, antropológico, político e social-sociológico.
Naquela oportunidade desenvolvíamos isoladamente no âmbito disciplinar, os enfoques mais “aproximados” de cada matéria de ensino dentro do tema proposto, EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO FATIMENSE. O projeto não tinha um período definido e cada professor agia isoladamente
Numa tentativa de interdisciplinaridade, através da multidisciplinaridade, realizávamos as seguintes atividades:
1.     Viagens locais, a fim de conhecer nosso lugar: fazendas deste município e de vizinhos, como a serra do capitão, palco do livro Serra dos dois meninos de Aristides Fraga Lima, ed. Atica; outras mais distantes, a exemplo de Canudos, Monte Santo, Paulo Afonso, entre locais.
2.     Exibição de filmes a exemplo de Paixão e guerra no sertão de Canudos, de Antonio Olavo, um documentário que registra a presença de descendentes dos conselheiristas.
3.     Produção de cartazes e jornais informativos das mais diversas etapas dos estudos;
4.     Organização de seminários sub-temáticos com o protagonismo juvenil; e
5.     Resolução de provas no estilo tradicional, com perguntas subjetivas e objetivas baseadas nos textos utilizados durante o período de estudo.
O segundo projeto “nasceu” mais organizado, com estrutura definida, mas sem abranger o universo proposto por seu idealizador, que era o de se constituir como trabalho curricular da própria escola, independentemente do  profissional que assumisse ali suas funções.
Compreendendo ainda as disciplinas LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA (LPLB)e REDAÇÃO (RED.), ganhou a adesão de SOCIOLOGIA (SOC.) este segundo projeto foi inicialmente aplicado no município de Cícero Dantas para uma turma de professores radialistas e outros profissionais.
Somente no ano de 2013 o projeto ganhou espaço na escola onde trabalhamos, configurando uma unidade letiva de ensino junto as disciplinas acima indicadas.
De modo semelhante, mas não igual, quanto a execução do primeiro, o NA TRILHA D’OS SERTÕES tem conquistado os estudantes, o que atribuo às viagens a utilização de vários filmes durante a realização do projeto. Outro diferencial é o de que construímos uma feição própria para o projeto de estudo incluindo-o no calendário escolar e configurando-o como unidade letiva (nesses dois anos de execução a unidade usada foi a terceira). A série onde o trabalho acontece é o 3º ano, pois é com essa série que o autor desenvolve, desde o ano de 2001, as viagens denominadas por ele como Turismo pedagógico.
Inicialmente os estudantes são apresentados a proposta. Com a confirmação, passa-se à construção do plano de trabalho de modo coletivo, incluindo as leituras, as atividades avaliativas, as viagens, os filmes, entre outras possíveis indicadas pelo coletivo estudantil.
O mote é a leitura do livro Os Sertões, leitura obrigatória em todos os livros didáticos utilizados pelo professor nesses 15 anos de atividade de estudo no Ensino Médio, parte do chamado pré-Modernismo na Literatura brasileira.
O livro é exposto e os seus principais “personagens”, Antonio Conselheiro, a Guerra de Canudos e o próprio autor do livro são apresentados aos estudantes.
Agora de modo interdisciplinar, as atividades são desenvolvidas nas disciplinas sem maiores percalços, sendo a mola propulsora do cotidiano o referido livro de Euclides da Cunha. Por exemplo: em determinado dia de aula, o filme Guerra de Canudos, de Sergio Rezende, foi iniciado na aula de Redação, mas devido a sua longa duração, a aula de Sociologia será usada para dar continuidade a exibição da película sem que haja prejuízo para a classe.
Do mesmo modo, alguma atividade avaliativa fora iniciada na aula de Sociologia, poderá ser concluída na de Lingua Portuguesa. E por falar em avaliação, desde a tradicional prova de perguntas diretas, a produção de texto é uma constante, privilegiando a visão de mundo dos educandos.
De modo amplo como ficaria nosso ensino por temas no ENSINO MÉDIO?
A nossa ideia, ainda embrionária, é a de que a oferta de estudo no Ensino Médio fosse realizada através de temas, nos moldes de mine-cursos, com carga-horária delimitada, como embrionariamente vimos nos dois projetos acima mencionados e carentes de amadurecimento coletivo, seja com a presença de profissionais que atuam no setor pedagógico-curricular das escolas e das secretarias de educação, mas e principalmente com professores, professoras e estudantes.
A ideia é a de que cada escola, de modo coletivo, crie seus mine-cursos, mas sem abandonar as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio e as prerrogativas legais da Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Assim teríamos um currículo de fato diversificado e possivelmente mais atraente ao jovem, por demais romantizado como protagonista, mas dificilmente a frente das decisões sobre aquilo que sempre disseram ser ele o principal interessado. Outra novidade seria a do trabalho em conjunto, isto é, qualquer mine-curso poderá ser ministrado por mais de um professor e os formatos dependeriam da ideia do/dos planejadores/professores.
Entretanto a carga-horária semanal de estudos deve ser obedecida e os projetos adequariam os seus trabalhos a determinadas exigências de horário e de duração, tendo em vista a sobrecarga de uns em detrimento da diminuição de trabalhos de outros.
Como vimos, não me propus a “dizer” muito sobre o que penso e aqui idealizo, por entender que a proposição exige o pensar e o repensar da própria coletividade envolvida em cada cantinho desse país. Desse modo cada currículo terá a “cara” de cada escola, a cara de cada lugar.
Texto não revisado pelo autor.
Fim de tarde anunciador de altas temperaturas
Fatima, ex-Monte Alverne, 25 de agosto de 2015.

*Atuando, por enquanto, no Colégio Estadual Eduardo Magalhães, graduado em Educação Física e Mestre em Educação, ambos pela Universidade Federal de Sergipe – 1992 e 1999, respectivamente. Colaborador do Cheio de Arte.