Lomadee, uma nova espécie na web. A maior plataforma de afiliados da América Latina.

sábado, 2 de junho de 2012

Timor-Leste: o país mais jovem de Língua Portuguesa


Dili - Capital do Timor-Leste
Timor-Leste (oficialmente chamado de República Democrática de Timor - Leste) é um dos países mais jovens do mundo, e ocupa a parte oriental da ilha de Timor no Sudeste Asiático, além do exclave de Oecusse, na costa norte da parte ocidental de Timor, da ilha de Ataúro, a norte, e do ilhéu de Jaco ao largo da ponta leste da ilha. As únicas fronteiras terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção principal do território, e a leste, sul e oeste de Oecusse, mas tem também fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. Com 14 874 quilómetros quadrados de extensão territorial, Timor-Leste tem superfície equivalente às áreas dos distritos de Beja e Faro somadas ou ainda é consideravalmente menor que o menor dos estados brasileiros, Sergipe. Sua capital é Díli, situada na costa norte.
Conhecido no passado como Timor Português, foi uma colónia portuguesa até 1975, altura em que se tornou independente, tendo sido invadido pela Indonésia três dias depois. Permaneceu considerado oficialmente pelas Nações Unidas como território português por descolonizar até 1999. Foi, porém, considerado pela Indonésia como a sua 27.ª província com o nome de "Timor Timur". Em 30 de agosto de 1999, cerca de 80% do povo timorense optou pela independência em referendo organizado pela Organização das Nações Unidas.
Bandeira do Timor-Leste
A língua mais falada em Timor-Leste era o indonésio no tempo da ocupação indonésia, sendo hoje o tétum (mais falado na capital). O tétum e o português formam as duas línguas oficias do país, enquanto o indonésio e a língua inglesa são consideradas línguas de trabalho pela atual constituição de Timor-Leste. Devido à recente ocupação indonésia, grande parte da população compreende a língua indonésia, mas só uma minoria o português. Geograficamente, o país enquadra-se no chamado sudeste asiático, enquanto do ponto de vista biológico aproxima-se mais das ilhas vizinhas da Melanésia, o que o colocaria na Oceania e, por conseguinte, faria dele uma nação transcontinental. (Wikipédia)
Timor completa dez anos de independência com novo presidente
               Leonardo Sakamoto
Vales de Maubessi, interior de
Timor Leste (Blog do Sakamoto)
 
Timor Leste completa dez anos neste domingo (20). Nesta data, assume a Presidência do país José Maria Vasconcelos, ou Taur Matan-Ruak, ex-comandante geral da guerrilha timorense que lutou contra a ocupação indonésia. Passa a ocupar um cargo que já foi de Xanana Gusmão, herói da resistência e hoje primeiro-ministro, e de José Ramos-Horta, prêmio Nobel da Paz, que deixa o poder.
Vejo sempre Timor com um misto de saudade, preocupação e de esperança. Nem me esforço para ter uma análise isenta quanto aquela porcão de terra entre os oceanos Índico e Pacífico (até porque análises isentas não existem). Seria perda de tempo. Estive por lá em 1998 para fazer uma reportagem sobre a luta do povo maubere pela autodeterminação. Depois, apaixonado pela ilha e seu povo, defendi um mestrado sobre as causas do sucesso da resistência. Sou brasileiro, mas quem conhece Timor de verdade, carrega aquele povo no peito por toda a vida.
Futebol em praia de Dili, capital de Timor (Blog do Sakamoto)
Entrevistei Xanana Gusmão em duas ocasiões – a primeira na penitenciária de Cipinang, em Jacarta, capital da Indonésia, quando cumpria pena por tentar fazer do Timor um país livre (em 1998), e a outra em São Paulo, durante sua visita ao Brasil, em 2002. Otimista quanto às diferenças políticas, frisava que elas não deveriam ser ignoradas, mas eram levadas em conta para o desenvolvimento do país:
“Pergunta-me se superamos as diferenças. Permita-me que responda que espero que não. Este momento é o momento da vivência das diferenças. É na diferença que vamos crescer e amadurecer. É na diferença que vamos aprender o respeito democrático e enriquecer o nosso debate e as opções tão difíceis que temos de fazer nestes primeiros anos de independência. No que é fundamental e estratégico para o futuro do país, as diferentes forças políticas e da sociedade civil estão em acordo. Creio que este acordo é essencial… No resto, a diferença não só é desejável como saudável”.
Acampamento central da guerrilha timorense (Blog do Sakamoto)
Encontrei-me também duas vezes com o agora presidente Matan-Ruak. A primeira no acampamento central da guerrilha no interior de Timor Leste, em 1998 e, depois, no Brasil anos mais tarde. Fiquei alguns dias com a guerrilha, acompanhando treinamentos e discutindo a conjuntura do país e do mundo. No meio de selva, há 14 anos, perguntei o que iria fazer ao final da guerra:
“Pretendo trabalhar mais uma vez pelo povo do Timor. Pelos mutilados da guerra, os órfãos, as viúvas, ajudar a educar a nova geração que vai governar o Timor. Queremos, acima de tudo, um Estado bom, que auxilie a população. Confiamos em nossos líderes, mas exigiremos nossos direitos. Caso contrário, a gente vai para guerra novamente”. E, de certa forma, é uma guerra que Matan-Ruak tem pela frente, tão grave como aquela contra o invasor. Uma guerra contra a pobreza que atinge boa parte do país.
No dia 30 de agosto de 1999, 78,5% da população do Timor Leste votou a favor de sua autodeterminação e contra a integração definitiva com a Indonésia – o auge de 24 anos de resistência à dominação e guerra pela independência. A ocupação, mantida à força pelo governo do general Suharto, causou um dos maiores genocídios do século 20, com mais de 30% de timorenses mortos direta ou indiretamente pelo conflito – tendo como base o número de habitantes em 1975. Uma onda de violência tomou conta do país próximo à data desse plebiscito, quando grupos paramilitares armados pela Indonésia espalharam o terror entre os timorenses.
Barco tradicional timorense em praia de Dili (Blog do Sakamoto)
A luta pela independência criou bases necessárias para a formação e, principalmente, a manutenção de um Estado livre e autônomo. A resistência da população maubere à anexação com a Indonésia possibilitou que diferenças que bloqueavam a consolidação da união nacional fossem canalizadas em prol de um objetivo único. Ao mesmo tempo, criou e fortaleceu símbolos de uma identidade timorense – que antes não existiam.
As Falintil, a guerrilha timorense, ao contrário do discurso de analistas que gostam de taxar todos os exércitos de libertação nacional do pós Guerra Fria como grupos mercenários, não visavam à pilhagem, ao roubo e à dominação territorial. Até porque, a guerrilha era considerada as forças armadas de Timor, servindo à defesa de um projeto nacional e não ao favorecimento de um grupo ou de outro, ou de uma ideologia específica. Era composta por indivíduos de diversos grupos étnicos de todas as regiões da ilha.
A conjuntura internacional do pós Guerra Fria, com a diminuição da importância estratégica da Indonésia para os Estados Unidos, e a crise econômica do Sudeste Asiático no final da década contribuem um pouco para explicar o sucesso da resistência através do enfraquecimento do governo Suharto. Porém, o maior peso internacional veio dos grupos de pressão, munidos de informações fornecidas pela Resistência Timorense no exílio, que fizeram campanha para que seus governos interviessem junto à Indonésia por uma solução para o caso timorense.
No dia 20 de maio de 2002, Xanana Gusmão assumiu o cargo de primeiro presidente da República Democrática de Timor Leste, em uma festa que reuniu chefes de Estado e de governo de todo o planeta. A posse tinha um significado maior porque, ao mesmo tempo, os mauberes recebiam das Nações Unidas a administração total do seu território. Agora, dez anos depois, a ONU se prepara para retirar suas forças (composta de mais de 1300 policiais e militares) até o dia 31 de dezembro.
Palácio do Governo em Dili
Diante de uma situação de terra arrasada, muitos se perguntaram na época se o Estado timorense conseguiria se manter frente aos desafios econômicos, sociais e políticos sem a tutela das Nações Unidas. Vieram graves crises, atentados, disputas internas. Mas engana-se quem reduz os conflitos em Timor a disputas étnicas, regionais ou religiosas e esquece o difícil processo político que tem sido a fundação do Estado timorense sob a miséria que atinge a maioria da população. Um dos países mais pobres do mundo, entregue à própria sorte durante a ocupação indonésia e transformado em ícone internacional da liberdade, hoje, passado algum tempo da comoção pela independência, foi praticamente deixado de lado na pauta da comunidade internacional. Justamente quando vive sua fase mais delicada.
Boa parte do povo maubere possui poucas perspectivas de um futuro melhor, os sistemas de proteção social estão apenas começando e faltam recursos para investimento. Além disso, o país é dependente do petróleo (o mar de Timor possui uma das maiores reservas do mundo), mas os recursos oriundos dele ainda demoram para chegar a toda a população.
Mas há uma geração inteira, filhos da ocupação, que lutou para obter a independência e, com isso, desenvolveu uma forte cultura de participação política. Esse capital acumulado tem sido muito útil para enfrentar esses desafios dos primeiros anos de liberdade e assegurar, enfim, a consolidação da democracia. Ou seja, diálogo.
A gente pobre daquela esquina do mundo enfrentou por um quarto de século um dos maiores exércitos do planeta sem o apoio de quase ninguém e venceu. É possível tirar algumas lições de lá para a nossa realidade. A periferia do mundo enfrenta um período decisivo. Se puder se unir em torno de um mesmo inimigo – a pobreza, suas causas e causadores – conseguirá também se libertar e ser realmente independente. (Blog do SAKAMOTO) 
''Os líbios chegaram à luta armada por causa da prepotência de Kadafi''
     ENTREVISTA - Xanana Gusmão, primeiro-ministro do Timor Leste
            Guilherme Russo - O Estado de S.Paulo
Xanana Gusmão
Empenhado diretamente na construção da democracia no Timor Leste desde 1999, o atual premiê e ex-presidente do país, Xanana Gusmão, vê com bons olhos as revoltas no mundo árabe - principalmente no Egito e na Tunísia. Mas, citando a insurreição líbia, o ex-guerrilheiro afirma que não considera mais a rebelião armada o caminho para uma sociedade democrática.
Experiência. Para Xanana, uso de pressão política poderia ter evitado conflito na Líbia Em sua opinião, se a comunidade internacional enviar forças armadas estrangeiras à Líbia, o país de Muamar Kadafi poderá ter o mesmo fim do Iraque e do Afeganistão, "dois casos em que a guerra vai se prolongar por muito mais tempo", disse. Apesar de não muito afeito à tecnologia, Xanana reconhece o resultado "inimaginável" das ferramentas de comunicação que mobilizou o Egito. Na entrevista concedida ao Estado em São Paulo, ele lembrou que, no caso da independência do Timor Leste, a atual função dos celulares, que transmitiram protestos e repressão nos últimos meses, foi exercida na ocasião pelo jornalista britânico Christopher Wenner, também conhecido como Max Stahl. Em 12 de novembro de 1991, o repórter registrou forças do ditador indonésio Suharto - que ocupou o Timor Leste entre 1975 e 1998 - disparando contra manifestantes na capital, Díli. O chamado Massacre do Cemitério de Santa Cruz deixou ao menos 250 mortos. Xanana ficou preso entre 1992 e 1999. Só foi libertado quando a ONU entrou no Timor Leste com a intenção de constituir um Estado na ex-colônia portuguesa vítima de mais de duas décadas de uma ditadura genocida imposta pela Indonésia.
Como se processa a instalação de um Estado democrático em uma sociedade destruída?
É um processo de construção difícil. Esses países árabes, neste momento, estão em muito melhores condições (do que o Timor Leste anterior à independência) de perceber que cada país deve tentar reunir todos os diferentes grupos para eleições de Assembleia Constituinte - e gosto muito que isso vá acontecer na Tunísia em julho. Creio que o Egito também tem de seguir essa linha. Nos próximos dez anos será difícil a consolidação da democracia (nos dois países). Porque a democracia tem direitos, mas também tem deveres.
O senhor ainda acredita na luta armada como um caminho para a democracia?
Não. Já passou o tempo em que as vitórias se decidiam pela via militar. Já passou. Vejamos o Iraque, vejamos o Afeganistão.
Mas no caso do Timor Leste o senhor atuou dessa maneira.
É diferente. Aquilo era libertação. Não democratização.
O seu conselho ao povo da Líbia é abandonar a luta armada?
Eles tiveram de chegar a isso por causa da prepotência magnífica de Muamar Kadafi.
Então a luta armada se justifica na Líbia?
É justificada, mas poderia ser evitada. Pois há uma outra forma: a pressão política. Quanto mais envolvem a população na luta armada, diferenças, raiva e espírito de vingança surgem. E fica mais difícil a pacificação.
O que a comunidade internacional pode fazer?
Percebi que, no caso do Egito, os países falaram com os militares. Por que não fazer isso com os militares líbios?
O que deve ocorrer nos países que derrubaram seus regimes?
Vai depender. O cuidado que tem de ser tomado ali é de os líderes políticos continuarem pedindo ao povo tolerância e não violência.
A internet realmente teve papel fundamental nos protestos do mundo árabe?
O uso do Facebook e do Twitter para mobilizar prova que a consciência do povo estava à espera de uma ocasião para isso. Não se consegue mobilizar só por mobilizar. Não é como convidar uma pessoa à praia. É convidar uma pessoa a ir expressar-se com o risco de ser baleada.