..................................................................A notícia como nunca foi.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
¨¨¨Landisvalth Blog: Retratos da Ditadura
¨¨¨Landisvalth Blog: Retratos da Ditadura: Corpo de Carlos Lamarca em Salvador O corpo autopsiado de Vladimir Herzog Série de reportagens da Folha de São Paulo revela uma é...
segunda-feira, 23 de julho de 2012
NA TRILHA D’OS SERTÕES – 2ª EDIÇÃO - SUBINDO O MONTE SANTO, O PICO ARAÇÁ, O PIQUARASSÁ
Por MARCOS JOSÉ DE SOUZA.
A quantidade de nomes que
aparecem no título do texto é representativa também da quantidade de edições
que o curso sobre o livro OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, pretende aparecer
no cenário sociocultural desta nossa região, agora denominada de Semiárido
Nordeste II. Subir a montanha que nomeia a cidade, Monte Santo, é uma aventura
com misto de pagamento de promessa, de desafio e, no nosso caso, da trilha,
parte das atividades.
No dia 30 de junho deste ano o
prof. Marcos José de Souza, da cidade de Fátima, nossa vizinha, realizou mais
uma atividade do curso NA TRILHA D’OS SERTÕES, o qual está na sua 4ª edição (a
1ª aconteceu em 2011, em Cícero Dantas, a 2ª está acontecendo, em vias de
encerramento, no povoado Tabua, Fátima, a 3ª, acontece em Poço Verde-SE e a 4ª,
novamente em Cícero Dantas, simultânea à de Poço Verde). O deslocamento do grupo, bem como a
alimentação e a reprodução de textos para leitura são patrocinadas pela
prefeitura Municipal de Fátima. A
primeira viagem ocorrera no dia 02 deste mesmo mês ao palco principal dos
conflitos, a cidade de Canudos e ao Parque Estadual de Canudos, onde o açude de
Cocorobó encobre as velhas cidades, primeiro Belo Monte e a segunda, Canudos.
As viagens fazem parte da
programação do curso, visto que é do interesse do professor-organizador que os
cursistas visitem os locais onde a chamada Guerra de Canudos aconteceu. Abaixo
um texto de um dos cursistas, recém-saído da 3ª série do CELEM, portanto ex-aluno do prof. Marcos, e
agora acadêmico de Física pela Universidade Federal de Sergipe.
“Tendo como base o estudo do livro OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, o
professor Marcos José orienta aos navegantes do curso a Trilha d’Os Sertões a
fazer uma viagem turística até a cidade de Monte Santo, local já visitado por
alguns dos navegantes e por outros, conhecida apenas de ouvir falar, mas todos
com o mesmo destino, o de subir no tão famoso Monte e conhecer um pouco mais
dos tesouros do nosso sertão baiano.
Uma viagem longa, mas não tão cansativa quanto ao chegar à cidade. Foi
divertido, pois tive a oportunidade de ficar um tempo com meus colegas e juntos,
com certa dificuldade de alguns devido ao cansaço, chegamos ao nosso destino.”
Ronalde Santos de Gois, 21 de
julho de 2012.
Dê um clique nas fotos para ampliá-las.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
¨¨¨Landisvalth Blog: A questão Paraguai I: o pensamento de Silvio Torre...
¨¨¨Landisvalth Blog: A questão Paraguai I: o pensamento de Silvio Torre...: O livro do prof. Sílvio Torres Todos sabem que o Paraguai foi suspenso temporariamente como membro do Mercosul – Mercado Comum do Sul...
terça-feira, 17 de julho de 2012
Bundão de Ratinho
Um conto de Landisvalth Lima
Logo após o casamento de Mariposa com Ratinho, o desejo do casal era logo ter um filho. Não demorou muito. Nasceu um menino de grandes bochechas e cara redonda. Na brincadeira, o pai colocou-lhe o apelido de Bundão. Antes de ser um palavrão e reflexo da cara enorme, Bundão passou a ser uma forma de carinho dos pais. Só não foi registrado com esse nome porque o Cartório de Registros não aceitou. Como poderia alguém ser chamado de Bundão Dado A. Silva. E este A era de Aniceto. O pai não gostava. Era herança do nome do avô. Onde já se viu alguém colocar como sobrenome Aniceto?
Fato é que Bundão era filho de Ratinho, na verdade Cosmenildo Dado Aniceto Silva, e de dona Mariposa, de nome real Cornélia Onorina Silva. O pai de Bundão tinha o nome de roedor porque nunca fez negócio sem deixar de tirar uma lasquinha. Adorava coisas dos outros e era fanático por queijo. Era sovina e detestava pobre. Seus amigos eram todos ricos e gostava de frequentar casamentos e batizados para não perder uma boquinha. Mariposa levou esta alcunha porque foi flagrada roubando a bolsa de uma senhora numa festa de casamento. Quando a vítima percebeu que era Cornélia a ladra, gritou. Desesperada, Mariposa jogou a sacola na luz da sala e saiu correndo. No outro dia era o comentário na cidade de Canaã e o apelido caiu como uma luva. Além disso, Mariposa alegou que sofria de uma séria doença: cleptomania!
Um dia, um deputado fez uma proposta a Ratinho para ser o prefeito de Canaã. Eram dois milhões para ganhar as eleições. Em troca, apoiaria os nomes que ele indicasse, inclusive para os cargos da cidade, e teria vasto controle sobre a administração. Ratinho aceitou e venceu as eleições. Durante todo o período do mandato, exerceu com afinco as funções inerentes ao seu nome: desvios de verbas, aditivos fraudulentos, achatamento de salários dos servidores, notas fiscais frias... Nunca se havia roubado tanto na história administrativa da pacata e ordeira Canaã. Todos, no entanto, sabiam: Ratinho era o maior ladrão de todos.
Enquanto isso, Mariposa desfilava com carro novo, joias e penduricalhos, e pousava de Rainha de Canaã. Mandava e desmandava. Era dona de todas as suas vontades e o povo tinha que fazer reverência a ela. Lamber os seus pés ornados de apetrechos indianos. Não se importava com ruas sem calçar, esgotos a céu aberto, escolas abandonadas, salários baixos dos servidores, ruas sujas e cheias de lixo. Canaã virou um inferno. Além disso, era Secretária de Assistência Social, sem assistir ninguém nem fazer nada de social. Era o seu cofre de arrecadação.
E o Bundão? Ah! Este estava num paraíso. Virou peão de vaquejada. Pegava dinheiro do pai e da mãe para aplicar em cavalos de raça. Gostava de aparecer no Canal do Boi comprando gado Nelore e vibrava quando era anunciado o comprador: Bundão de Canaã arrematou! Vendido para a Bahia! A esta altura já estava para lá de bêbado. Não bebia água, matava a sede com uísque e bradava em alto e bom som: “Aqui bebo à custa dos otários de Canaã!”. A fama de beberrão logo tomou conta. Pior é que era valentão e cheio de razão. Ninguém podia dizer a ele que se contivesse, já que era filho de políticos etc, etc. Bundão respondia com um “Vá te arrombar, porra! Você sabe quem eu sou? Sou filho do prefeito, porra!”. E assim caminhava Canaã com um prefeito corrupto, uma primeira dama perdulária e vaidosa e um filho beberrão e cheio de razão.
De olho na reeleição, Ratinho mandou calçar uma rua, pintou um meio-fio aqui, limpou uma rua ali, começou a aparecer mais, a tratar melhor os amigos, a frequentar casa de pobre, casamento, batizados.... Tudo em nome de um novo mandato. Resolveu então fazer uma festa de arromba para melhorar sua imagem e desviar mais algumas verbas. O problema é que só havia um policial na cidade e o prefeito teve que solicitar uma quantidade maior para dar segurança ao evento. O Governo do Estado da Bahia mandou 25 homens bem armados e equipados e quatro viaturas. Os baderneiros não teriam chance.
No segundo dia de festa, tudo estava calmo. Até que Bundão resolveu fazer das suas. Pegou seu carro possante, equipou-o com o melhor uísque e foi para um bairro residencial. Pela madrugada deixou o som na maior altura e viajava no álcool. Até que uma senhora idosa resolveu pedir a alguém para desligar o som que ela precisava dormir. Estava velha, alquebrada e não conseguia cair no sono com um barulho daqueles. “Mas é o filho do prefeito. Ele não vai parar tão cedo.”. De fato, Bundão não estava nem aí, nem lá, nem em lugar algum. Até que uma senhora foi até o local da festa da cidade e solicitou a presença de um policial para socorrer a idosa. Quando os policias chegaram, viram logo o filho do prefeito em profundo estado de alegria.
- De quem é este carro? Perguntou um Sargento PM.
Bundão, com ar superior:
- É meu. Algum problema, Policial?
- Baixe o som, pegue o seu carro e vá para um lugar adequado. Aqui é um bairro residencial e as pessoas precisam dormir.
Bundão não se deu por vencido.
- Ah! Qual é? Não posso me divertir?
O policial já se preparava para agir, mas voltou a insistir:
- O Senhor ouviu o que eu disse?
- Ah! Mas....
Mal começou a frase já recebia um tapa de mão aberta ao pé do ouvido:
- Baixe o som! Pegue os documentos do veículo!
Bundão não se deu por vencido:
- Você sabe com quem está falando?
Um segundo tapa falou mais lucidamente e não precisou mais o policial dizer nada. Bundão obedeceu sofregamente. Foi liberado e correu para contar ao pai. Ratinho e Mariposa ficaram irados e saíram por aí a tirar fotos para identificar o policial agressor.
- Vamos levá-lo aos tribunais. Vou pedir ao deputado que acabe com a vida deste soldadinho de meia tigela! Dizia Ratinho irritado.
A notícia correu logo e a festa terminou sem mais uma briga. Os policias eram sérios. Se repreenderam até o filho do prefeito, era melhor brincar para não ir para as grades. Foram os dias de festa mais calmos e tranquilos de Canaã. O Ratinho chegou a falar com o comandante e pedir a cabeça do Sargento numa bandeja. Ouviu, entretanto, a resposta de que ali se tratava de uma equipe.
- O senhor vai ter que cortar todas as nossas cabeças.
Enquanto isso Bundão dormia com dois belos hematomas nas suas duas avantajadas bochechas.
(Do livro: Contos levemente amaros. Inédito)
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Walter Salles leva 'Na Estrada' para o cinema
A obra de Kerouac (dê um clique aqui e saiba tudo sobre o autor) é o relato de
uma amizade traída, rompida e eternizada por meio da arte. Filme estreia nesta
sexta-feira (13) nos cinemas. No elenco, Kristen Stewart da saga Crepúsculo.
Luiz Carlos Merten - O Estado
de S. Paulo
Cena do filme que estreia nesta sexta-feira, 13, nos cinemas |
Em Cannes, Walter
Salles já havia dito - "Fiz alguns road movies e percebi, ao fazê-los, que
quanto mais você se distancia das raízes, do ponto inicial, mais você ganha
perspectiva sobre quem você é, de onde veio e, eventualmente, quem quer
ser." Na Estrada é o relato de uma amizade traída, rompida e eternizada
por meio da arte. Antes do diretor brasileiro, muitos - norte-americanos -
tentaram adaptar o livro. Quando se lançou ao projeto, Salles dispunha já de
vários roteiros, mas eles podiam ser somente indicações do que fazer, ou
evitar. Por complicadas questões de direitos, ele não podia utilizar nenhum.
O projeto patinava, até que
Salles e seu colaborador no roteiro, José Rivera - que já adaptara Diários de
Motocicleta - tiveram acesso a uma informação. O livro havia sido publicado de
um jeito. Uma nova versão o abriu de forma diferente, com a morte do pai do
narrador, Sal Paradise - que seria o próprio Kerouac, narrando uma viagem
iniciática no fim dos anos 1940.
A morte, ou a busca do pai, a
viagem iniciática são temas recorrentes na obra de Salles, e ele embarcou mais
uma vez. "É uma história sobre amizade partida, mas é também o relato do
processo de escrever um livro sobre esses personagens." E embora Sal seja
o narrador - e leia Céline e Proust, percebendo como a literatura pode nascer
da experiência da vida -, a alma de Na Estrada é seu amigo Dean Moriarty, interpretado
por Garrett Hedlund.
'Na Estrada', de Walter Salles |
Com seu elenco jovem que
inclui, como Marylou, a estrela da série Crepúsculo, Kristen Stewart, Na
Estrada beneficia-se enormemente da intensidade da presença física e da
sensibilidade à flor da pele de Hedlund. É um ator na tradição de Marlon Brando
e James Dean. Arde na tela como uma chama. As melhores cenas passam por ele.
Num determinado momento, estão os três na cama - Marylou, Sal (Sam Riley) e
Dean. Sal deseja Marylou, mas também sente essa perturbação pelo amigo. Ficam a
um triz de se beijar. Mais tarde, como um voyeur, Sal verá Dean sodomizar o
personagem de Steve Buscemi. Uma expressão de desgosto passa pelo seu rosto. A
amizade vai terminar ali, agravada pelo abandono do amigo, quando está doente,
no México.
"Desgosto ou
inveja?", pergunta Walter Salles, agora numa entrevista realizada em São
Paulo, e nisso toca num aspecto muito forte de Na Estrada - o homoerotismo.
"Esses garotos não são homossexuais, mas estão rompendo normas, testando
novas possibilidades de vida e relacionamento." Dean vive segundo uma
moral própria. Sal, mesmo na estrada, após a morte do pai, de alguma forma
viverá sempre a necessidade de se destravar, e foi assim na vida com Jack
Kerouac. O nome que ecoa no desfecho de Na Estrada - Dean Moriarty, Dean
Moriarty, Dean Moriarty - expressa ao mesmo tempo a dor de uma perda e a
recuperação, ou reificação da amizade por meio da arte.
Dean é inspirado em Neal
Cassady, Viggo Mortensen, numa participação pequena mas decisiva, é Old Bull
Lee, como Kerouac chama, ou identifica, William Burroughs. Na Estrada, o livro,
virou a Bíblia da beat generation. Transgressores, contestadores por natureza.
O que isso tem a ver com o Brasil? "Li o livro muito jovem, nos anos 1960,
em plena ditadura militar brasileira e senti uma identificação muito forte com
aqueles garotos que se rebelavam contra a autoridade", diz Salles.
Kerouac contribuiu na sua formação.
Ele agora retribui. O fato de Na Estrada ser sobre o processo da escrita de um
livro cult - e da própria realização de um filme que foi difícil - não elimina
a força. Ao frio distanciamento, superpõe-se a força. Depende do que o próprio
espectador estiver disposto a colocar de si neste belo filme.
terça-feira, 10 de julho de 2012
Francisco Dantas e Rubens Figueiredo na Flip
Francisco J C Dantas (em pé) e Rubens Figueiredo no debate sobre imaginação engajada na Flip. |
A camisa branca e impecável de Francisco J. C. Dantas, que reluzia no centro do palco, tem explicação. E foi por aí que ele começou. Entre os vários agradecimentos e homenagens que fez ao microfone, deteve-se no elogio à camareira da sua pousada, em Paraty, que se prontificara engomar a camisa que ao sair de Sergipe ele havia socado na mala e ao retirá-la, aqui, parecia ter saído de dentro de uma garrafa. E por falar em camareira, e lembrou de outra, em um hotel de Passo Fundo, durante um evento literário, que a cada noite lhe deixava chocolatinhos sob o travesseiro.
Aí está Dantas, 70 anos, com forte sotaque nordestino, que começou falando dessas coisas prosaicas para divertir e amaciar a plateia. Só mais tarde, quando todo mundo já riu e aplaudiu sua deliciosa prosa de boteco, é que ele passou ao tema espinhoso desse começo de tarde: A Imaginação Engajada. O crítico literário João Cezar de Castro Rocha, mediador da sessão, tinha a seu lado, além de Dantas, o tradutor e também escritor Rubens Figueiredo, cuja figura esguia, quando vista de longe lembra a do próprio Drummond, como se o homenageado desta Flip houvesse decidido subir ao palco no último dia.
Entre os dois convidados à Mesa 16 – que além da atividade literária são também professores – foi Figueiredo quem falou de forma mais clara e direta sobre a necessidade do envolvimento do escritor com os problemas da coletividade. “Tendemos a encarar as desigualdades sociais como fatos naturais”, criticou. “Olhamos para um ônibus cheio de gente, no final da tarde, como se aquilo fosse uma árvore.” O exemplo escolhido não é casual. O último livro de Figueiredo,Passageiro do Fim do Dia, vencedor em 2011 dos prêmios Portugal Telecom e São Paulo de Literatura, é todo ambientado no interior de um veículo de transporte público. O protagonista é um rapaz que ao final do expediente da sexta-feira tem que pegar um ônibus lotado para visitar a namorada, que mora em um local muito mais pobre que o dele, onde os códigos são outros. “Os abismos sociais nos impedem de entender as coisas mais elementares do dia a dia”, afirma o escritor carioca. “É como se fosse uma outra civilização.Você vê mas não entende.”
“Vivemos cercados de iniquidade social”, admitiu admite Dantas. “E isso me toca”. Porém, entre os vários autores que citou durante o debate, sua admiração foi mais explícita e fervorosa em relação a Guimarães Rosa, que à sua época enfrentou o desdém dos defensores de uma literatura de viés político. “Esse autor, sozinho, se impôs”, elogiou Dantas. “Rosa libertou a todos nós de escrever segundo as regras do partido. Ele veio para levar a literatura para um outro espaço.”
O autor sergipano, que se tornou conhecido sobretudo pelos romances Coivara da Memória e Os Desvalidos, preocupou-se em fazer a distinção entre o devaneio e a imaginação. O primeiro, para ele, é uma operação mais livre da mente e que, no limite, poderia chegar próximo à loucura. Já a imaginação, segundo Dantas, teria um caráter disciplinador, que permite ao escritor trabalhar de forma eficiente com o material recolhido. E, nesse caso, a idade e a vivência são capazes de afiar as ferramentas necessárias para o artesanato literário. “Para Hemingway”, recordou Dantas, “quanto mais você vive, mais condições adquire para imaginar bem”
Mesa dos tímidos Figueiredo e Dantas rende momentos saborosos
da Folha de São Paulo
O encontro entre dois escritores tímidos e um tanto quanto desajeitados no palco rendeu um dos momentos mais saborosos da décima edição da Flip. A palestra "A Imaginação Engajada" reuniu nesta manhã o sergipano Francisco Dantas e o carioca Rubens Figueiredo. Premiados e consagrados pela crítica, ambos começaram a apresentação bastante encabulados. Dantas, 72, que lançou recentemente o romance "Caderno de Ruminações", começou elogiando sua editora, a Alfaguara", por ter "apostado em mim, um escritor já velho e pouco promissor" Depois agradeceu à Flip, aos hotéis e aos restaurantes de Paraty a atenção dispensada aos autores. "Esta camisa que tô usando, trouxe socada na mala. Chegou aqui como se tivesse saído socada de dentro de uma garrafa. Pedi para passarem no hotel e no mesmo dia ela já estava no cabide", disse, sob aplausos do público. Dantas então relembrou que, durante sua participação na Jornada Literária de Passo Fundo (RS), todos os dias uma camareira colocava um chocolate debaixo de seu travesseiro."Quando fui embora, os funcionários me deram uma caixa de chocolate", relembrou ele, comovido. Completou ainda sua fala inicial se dizendo "muito agradecido de estar perto de nomes mais meritórios que o meu", em referência a Figueiredo e ao mediador do debate, João Cezar de Castro Rocha, e se desculpando pelo jeito tímido e caipira. "Estou um pouco desconfortável. Nunca me acostumei com o microfone, a língua trava, fico sem jeito. Gostaria de dizer que nem sempre a entrevista é um critério seguro que corresponde às qualidades do livro do escritor. Trabalhando em silêncio, é natural que o autor não tenha traquejo de ator." Depois perguntou ao mediador: " Tenho tempo de voltar ao tema da palestra?". Tinha ainda cinco minutos. "Vou entrar no tema propriamente dito, mas antes queria ler uma coisa", afirmou, provocando gargalhadas na plateia. Leu então um trecho de "O Som e a Fúria", do americano William Faulkner, que Dantas disse poder servir de epígrafe para seu livro. Após a leitura, foi interrompido pela mediador. "Se o senhor não se importar, vamos passar a palavra ao Rubens e depois voltamos ao senhor." "Não, pode deixar ele falando", brincou Rubens Figueiredo, até então calado.
Ao comentar a vida e obra do autor, antes que ele iniciasse sua fala, o mediador citou que Figueiredo era autor de inúmeros romances. "São só cinco romances, não são inumeros não", contestou. Coçando o rosto e olhando muitas vezes para o chão, ele entrou no tema da palestra (as relações entre a literatura e a realidade social) ao comentar a construção de seu mais recente livro, "Passageiro do Fim do Dia". Ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura, o romance narra o trajeto do protagonista, de ônibus, para visitar a namorada numa área pobre Rio. A inspiração veio da própria experiência do autor, professor de um colégio da periferia da cidade. "Por 35 anos, pegava dois ônibus para ir pro colégio e dois para voltar. Embora eu vivesse a experiência de fazer o percurso, de encontrar as pessoas, compartilhar as experiências, percebi que havia uma barreira entre os alunos e eu. Não era uma questão de sensibilidade, lucidez ou inteligência. É uma bareira que vem de fora, criada por um regime social. São mecanismos que produzem uma justificação para aquela situação. Justificação que não é lógica, discursiva. Passei a ver a literatura como uma possibilidade de conhecer nossa experiência imediata." "Bom, acho que já falei muito", concluiu.
Ao retomar a palavra, desta vez já comentando o tema proposto pela mesa, Dantas comentou que a palavra "engajamento" tornou-se pejorativa na literatura por estar associada a romances maniqueístas. "A gente vive num contexto de muitas iniquidades sociais, isso me incomoda. Não vivo num limbo, vivo na sociedade, escrevo para mudar as coisas que existem." Depois disso, o mediador disse que passaria novamente a palavra a Figueiredo. "De novo?", brincou ele. "Como sabia que você falaria isso", completou Castro Rocha, "vou ler o início do seu romance e fazer uma pergunta. Posso?". "Ué, o que posso fazer?", conformou-se Figueiredo. Castro Rocha também pretendia ler trecho do novo romance de Dantas, mas o escritor sergipano achou melhor não. Informado então de que ainda restavam dez minutos de debate, Dantas assustou-se. "Dez minutos?" Virando-se para Figueiredo, disparou: "Você ainda não falou nada". "Eu estou tentando...", gracejou Castro Rocha. A última pergunta da plateia, dirigida a Figueiredo, tratava da relação entre a docência e a literatura. "Sempre considerei dar aula mais importante do que meu trabalho de escritor. Meu trabalho de professor contribui muito para minha literatura", concluiu.
Mesa dos tímidos Figueiredo e Dantas rende momentos saborosos
da Folha de São Paulo
O encontro entre dois escritores tímidos e um tanto quanto desajeitados no palco rendeu um dos momentos mais saborosos da décima edição da Flip. A palestra "A Imaginação Engajada" reuniu nesta manhã o sergipano Francisco Dantas e o carioca Rubens Figueiredo. Premiados e consagrados pela crítica, ambos começaram a apresentação bastante encabulados. Dantas, 72, que lançou recentemente o romance "Caderno de Ruminações", começou elogiando sua editora, a Alfaguara", por ter "apostado em mim, um escritor já velho e pouco promissor" Depois agradeceu à Flip, aos hotéis e aos restaurantes de Paraty a atenção dispensada aos autores. "Esta camisa que tô usando, trouxe socada na mala. Chegou aqui como se tivesse saído socada de dentro de uma garrafa. Pedi para passarem no hotel e no mesmo dia ela já estava no cabide", disse, sob aplausos do público. Dantas então relembrou que, durante sua participação na Jornada Literária de Passo Fundo (RS), todos os dias uma camareira colocava um chocolate debaixo de seu travesseiro."Quando fui embora, os funcionários me deram uma caixa de chocolate", relembrou ele, comovido. Completou ainda sua fala inicial se dizendo "muito agradecido de estar perto de nomes mais meritórios que o meu", em referência a Figueiredo e ao mediador do debate, João Cezar de Castro Rocha, e se desculpando pelo jeito tímido e caipira. "Estou um pouco desconfortável. Nunca me acostumei com o microfone, a língua trava, fico sem jeito. Gostaria de dizer que nem sempre a entrevista é um critério seguro que corresponde às qualidades do livro do escritor. Trabalhando em silêncio, é natural que o autor não tenha traquejo de ator." Depois perguntou ao mediador: " Tenho tempo de voltar ao tema da palestra?". Tinha ainda cinco minutos. "Vou entrar no tema propriamente dito, mas antes queria ler uma coisa", afirmou, provocando gargalhadas na plateia. Leu então um trecho de "O Som e a Fúria", do americano William Faulkner, que Dantas disse poder servir de epígrafe para seu livro. Após a leitura, foi interrompido pela mediador. "Se o senhor não se importar, vamos passar a palavra ao Rubens e depois voltamos ao senhor." "Não, pode deixar ele falando", brincou Rubens Figueiredo, até então calado.
Ao comentar a vida e obra do autor, antes que ele iniciasse sua fala, o mediador citou que Figueiredo era autor de inúmeros romances. "São só cinco romances, não são inumeros não", contestou. Coçando o rosto e olhando muitas vezes para o chão, ele entrou no tema da palestra (as relações entre a literatura e a realidade social) ao comentar a construção de seu mais recente livro, "Passageiro do Fim do Dia". Ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura, o romance narra o trajeto do protagonista, de ônibus, para visitar a namorada numa área pobre Rio. A inspiração veio da própria experiência do autor, professor de um colégio da periferia da cidade. "Por 35 anos, pegava dois ônibus para ir pro colégio e dois para voltar. Embora eu vivesse a experiência de fazer o percurso, de encontrar as pessoas, compartilhar as experiências, percebi que havia uma barreira entre os alunos e eu. Não era uma questão de sensibilidade, lucidez ou inteligência. É uma bareira que vem de fora, criada por um regime social. São mecanismos que produzem uma justificação para aquela situação. Justificação que não é lógica, discursiva. Passei a ver a literatura como uma possibilidade de conhecer nossa experiência imediata." "Bom, acho que já falei muito", concluiu.
Ao retomar a palavra, desta vez já comentando o tema proposto pela mesa, Dantas comentou que a palavra "engajamento" tornou-se pejorativa na literatura por estar associada a romances maniqueístas. "A gente vive num contexto de muitas iniquidades sociais, isso me incomoda. Não vivo num limbo, vivo na sociedade, escrevo para mudar as coisas que existem." Depois disso, o mediador disse que passaria novamente a palavra a Figueiredo. "De novo?", brincou ele. "Como sabia que você falaria isso", completou Castro Rocha, "vou ler o início do seu romance e fazer uma pergunta. Posso?". "Ué, o que posso fazer?", conformou-se Figueiredo. Castro Rocha também pretendia ler trecho do novo romance de Dantas, mas o escritor sergipano achou melhor não. Informado então de que ainda restavam dez minutos de debate, Dantas assustou-se. "Dez minutos?" Virando-se para Figueiredo, disparou: "Você ainda não falou nada". "Eu estou tentando...", gracejou Castro Rocha. A última pergunta da plateia, dirigida a Figueiredo, tratava da relação entre a docência e a literatura. "Sempre considerei dar aula mais importante do que meu trabalho de escritor. Meu trabalho de professor contribui muito para minha literatura", concluiu.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
João Ubaldo Ribeiro arrebata público da Flip em homenagem a Jorge Amado
MARCO RODRIGO ALMEIDA – da Folha de São Paulo
João Ubaldo Ribeiro está em lua de mel com a Flip.
João Ubaldo Ribeiro na Flip - (foto: Leticia Moreira/Folhapress) |
Após algumas rusgas em 2004, quando cancelou sua ida a
Paraty por se considerar preterido em relação aos autores estrangeiros, Ribeiro
participou da festa no ano passado, encantando o público com sua fala barroca. Na
manhã desta quinta (5), o vencedor do Prêmio Camões foi novamente o centro das
atenções da festa literária. Ao lado de Walcyr Carrasco, autor da adaptação de
"Gabriela", exibida atualmente pela Globo, o escritor baiano
participou de uma mesa em homenagem a seu "compadre" Jorge Amado. A
mediação foi feita pelo jornalista e escritor Edney Silvestre. A mesa ocorreu
na Casa de Cultura, principal espaço da programação paralela à Flip. Os lugares
disponíveis (cerca de 50) eram insuficientes diante da grande fila que se
formou na entrada do espaço. O público sem ingresso dirigiu-se à Tenda do
Telão, espaço que exibe os debates ao vivo, e também ficou lotado. Durante uma
hora e meia, os dois falaram sobre a obra de Amado, a atualidade de seus
personagens e as adaptações de seus livros para a TV e o cinema. Os momentos
mais saborosos, contudo, vieram das recordações de Ribeiro sobre a vida do
conterrâneo. "Glauber [Rocha, cineasta] e eu éramos muito próximos dele.
Mas ele não gostava de ser visto como pai, como uma figura paternal. Preferia
ser visto como um irmão mais velho." Certa vez, contou, Glauber quis
oferecer um baseado (cigarro de maconha) a Amado. "Aplica no velho",
teria dito a Ribeiro. "Não tive coragem", explicou o escritor,
provocando risos na plateia. Ribeiro relembou ainda a fama de mulherengo do
escritor e o "medo terrível" que ele tinha da mulher, Zélia Gattai. "Ele
criava nos livros mulheres poderosas, era assim que pensava. Ele mostrava os
meandros, as artimanhas que as mulheres usavam para contornar a situação e
mostrar quem estava no comando." Perguntado se Jorge Amado aprovaria a
nova versão de "Gabriela" na TV, respondeu que ele "dificilmente
falaria algo". "Na privacidade, talvez fizesse algumas observações.
Ele sempre me deu um conselho: não se meta com esse povo de televisão." Já
Carrasco argumentou que, mesmo alterando a ordem dos acontecimentos do livro e
acrescentando personagens que não existem no romance original, preserva o
universo do escritor e as relações de poder que ele retratou. "A novela
vai levar Jorge Amado para pessoas que nunca ouviram falar dele", afirmou
Carrasco. Ambos lamentaram que Jorge Amado seja tão pouco lido hoje. Entre as
razões para isso, Ribeiro destacou a falta de preparo das escolas e dos
professores. "Ler é custoso e requer um trabalho muito grande na introdução
desse hábito. Já li questões de vestibular sobre meus livros que seria incapaz
de responder. Esse ódio que muitos alunos têm aos clássicos é transmitido pelos
professores", acredita o escritor. Ele citou ainda como exemplo o
"provincianismo brasileiro", que sempre valoriza a cultura
estrangeira. "Nós não nos respeitamos. Talvez até com alguma razão",
concluiu Ribeiro, antes de ser ovacionado (mais uma vez) pela plateia.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Artigo acadêmico do professor Marcos José
ESTUDO SOBRE OUTRAS INTERVENÇÕES/REFLEXÕES
EM OS SERTÕES E O PENSAMENTO EUCLIDIANO PARA SUA GRANDE OBRA
Marcos José de
Souza¹.
Prof. Rede
estadual de ensino da Bahia
RESUMO
– O presente artigo faz um estudo comparativo de contribuições de análise à
obra Os Sertões, de Euclides da
Cunha, no tocante à percepção adjetiva da obra. Partindo de uma busca em sitio
especializado na internet, o trabalho vislumbrou que o autor e sua obra
continuam desafiadores e alimentadores de novas interpretações, bem como na consolidação
de visões anteriores que identificaram contradições, equívocos, os quais,
entretanto, mesmo na visão desses críticos mais ácidos, não desqualificaram o
monumento que é a obra.
PALAVRAS-CHAVE – Os Sertões. Canudos.
Euclides da Cunha. Análise. Texto.
INTRODUÇÃO
Esse
trabalho é fruto de duas realizações: a 1ª advém de um continum que se iniciou
em 2000 e veio até o ano de 2011, no exercício docente da matéria Língua
Portuguesa, Ensino Médio, das redes Municipal e Estadual do município de
Fátima-Bahia. Durante esse período o livro Os
Sertões esteve presente no programa de disciplina e, a partir da leitura
dele, fazíamos viagens a Canudos e Monte Santo, organizávamos seminários com
falas de visitantes e dos estudantes; exibimos os filmes, além dos tradicionais
instrumentos de avaliação; provas produção de texto, confecção de cartazes,
dentre outros.
A
2ª realização é a produção de um curso sobre o livro Os Sertões, destinado ao público em geral, interessado na obra o
livro vingador. Com carga horária de 80 horas para a leitura de Os Sertões, exibição de filmes
temáticos, palestras, viagens e preparação e realização de seminários com
produção de texto para disponibilização em meios eletrônicos e digitais ainda
não produzidos.
Através
do sítio de textos acadêmicos, o scielo, utilizando das palavras para
pesquisar: Os Sertões, Antonio Conselheiro, Canudos e Euclides da Cunha,
chegamos ao total de 22 textos. O uso da internet deveu-se à localização
geográfica e à disponibilidade de acervo do autor ademais, foi uma maneira de
buscar, dar “visibilidade” ao qual a temática que esteja disponível na rede
municipal de computadores.
A
leitura e análise dos textos foi aleatória e vê-se na bibliografia o predomínio
de textos do Instituto Maguinhos, posto que ali realizou-se um evento comemorativo ao centenário de
publicação de Os Sertões.
A produção desse trabalho visa ampliar o
debate dessa polêmica obra e sintetizar algumas discussões realizadas acerca
das multifaces deste livro vingador.
DESENVOLVIMENTO
Antes
de adentrar ao objeto de análise cabe-nos a visita a uma observação feita
alhures pelo prof. Antonio Cândido, acerca da relação público/obra, situação
pertinente a toda grande obra, e em relação a Os Sertões, amor e ódio, aceitação e não-aceitação, convivem até os
dias de hoje.
O
público dá sentido e realidade à obra, e sem êle o autor não se realiza, pois
êle é de certo modo o espelho que reflete a sua imagem enquanto criador. Os
artistas incompreendidos, ou desconhecidos em seu tempo passam realmente a viver
quando a posteridade define afinal o seu valor. Dêste modo, o público é fator
de ligação entre o autor e a sua própria obra. (CÂNDIDO, 1967. p. 43-44).
Desse
modo podemos perceber nitidamente, nas palavras do prof. Cândido, o espelho do
que foi o livro monumento, o autor, sua vida pessoal e a relação com o seu
público.
Seguindo
ainda o raciocínio do prof. Cândido, este em Literatura e sociedade, enfatiza a grandeza de uma obra,
atribuindo-a uma função social e atemporalidade – mesmo tratando um tema localizado
historicamente – tendo em vista que esta influencia em seu momento histórico,
mas quebra a barreira do tempo, tornando-se, portanto, atemporal à medida que
causa um impacto na sociedade. Um clássico como podemos também considerar.
Nesta
obra fundamental para entendermos uma obra literária, o prof. Cândido também
faz menção direta a Os Sertões, já
observando suas falhas, suas contradições, mas também a grandiosidade da obra.
No primeiro momento o professor aponta o caráter introdutório da temática
sertaneja na literatura brasileira; em um segundo instante, o defeito da obra é
ressaltado, “...exemplo típico da fusão, bem brasileira, da ciência mal
digerida, ênfase oratória e intuições fulgurantes.”(CÂNDIDO, 1967,p. 156), mas
no terceiro momento destaca-se o caráter inovador quanto “...com os indícios vivos de superação da
tirania-jurídico-retórica”.(Ibidem)
A
seguir temos o nosso diálogo com diversos interlocutores, que de longa data,
vem conversando com OS SERTÕES.
Veremos que, tanto o original quanto suas leituras proporcionam uma plêiade de
perspectivas, sobre os possíveis defeitos, quanto sobre os brilhantismos onde
obra e público/crítica também geram adversidades e similaridades:
I.
O prof. José Carlos Barreto aborda um dos vários aspectos da obra Os Sertões, o uso da metáfora, com qual
Euclides da Cunha consegue ampliar o universo de adjetivos a sua obra
atribuídos. Destacou, o nosso interlocutor, 03 (três) momentos, os quais se
relacionam as partes formadoras do livro vingador, a leitura, o homem a luta,
mas nem por isso deixou de reforçar a relação universal que essas mesmas partes
possuem, o que foi proposta Euclides.
O encadeamento das partes integrantes de Os sertões faz com que A terra possa ser lida como uma espécie de índice narrativo dos capítulos seguintes. Walnice Galvão (1994, p. 626) lembra que os capítulos da luta, ‘deflagram retroativamente as duas partes iniciais, onde se encontram sistemas de metáforas que prefiguram aquilo que vai ser episódio de crônica da guerra’. Vem da geologia algumas das mais expressivas representações metafóricas do livro. (BARRETO,J. C. 1998, p.
13)
Ao
destacar as metáforas, o prof. José Carlos Barreto elenca 3 (três) exemplos, a
anticlinal, as placas tectônicas e a rocha viva.
A
primeira metáfora, a anticlinal, atribuída
ao Conselheiro, tendo em vista que o fenômeno é “uma dobra com a convexidade
voltada para cima e os flancos para baixo, é um resultado de forças tectônicas
compressivas sobre as rochas”. (BARRETO, 1998, p.12)
O
Autor reforça sua tese ao afirmar que Antônio Conselheiro é produto “das forças
internas à sociedade sertaneja” (Ibidem) e que em função de seu empenho e
desenvolvimento no que se pretendeu fazer, ganhou notoriedade e respeito nos caminhos
e lugares por onde andou.
A
segunda metáfora relaciona-se a própria Canudos, chamada de as placas tectônicas, “um afloramento do
passado” (Idem, p.13). O autor apóia-se em outro texto de Euclides da Cunha para
reafirmar essa figura de linguagem, fruto de um discurso proferido, para
estudantes no Rio de Janeiro. Segundo o prof. Barreto,
o
escrito faz a opção de se utilizar de processos tectônicos causadores de
deformações que afetam os níveis
profundos da crosta terrestre, e que envolvem a propagação de forças internas através do substrato rochoso
sobre os quais elas se levantam. O interior do país assume assim as feições
de interior da própria sociedade. (Ibidem) [grifo nosso]
Sendo
assim o Belo Monte- conhecida como arraial de Canudos, seria o resultado do
movimento interno das forças que emanavam
dos atores/sujeitos sociais do Brasil no final do século XIX.
Por
fim a terceira metáfora, a rocha viva,
o próprio sertanejo, fruto do amalgama, dos diversos compostos geológicos e
vulnerável à evolução desses mesmos componentes. A despeito dos reveses o
sertanejo surgiu, enfrentou e sobreviveu aos mais diferentes fluxos e refluxos
naturais. A mestiçagem vista por Euclides como processo étnico brasileiro
“gerou” o sertanejo, tal qual uma rocha que surge e resiste integro.
À guisa de síntese vê-se que o prof. Barreto
apresenta-nos “ uma montanha antiga” (p.
12), a anticlinal, o Conselheiro, que produz um abalo sísmico, o arraial do
Belo Monte, a Canudos, a qual por sua vez, apresenta-nos, dando voz e vez, à rocha que resiste às intempéries do
meio, o sertanejo.
II.
O elemento analisado pela profa. Gláucia Villas Bôas é o da construção da nação
a partir das noções de passado e de presente, basilares para a compreensão de
mundo moderno na visão de Euclides da Cunha. Portanto é um olhar de
perspectiva, sendo esta compreendida como o entendimento de alguém sobre um
fenômeno, na tentativa de enxergar/captar a visão do outro.
Essa tentativa de Euclides tornou-se
um dilema, pois para a nossa interlocutora, aquele defendia uma idéia - a da
construção da nação -, entretanto os elementos postos não lhe asseguram tal
feito, “o sertanejo fixado à terra, condição e símbolo de sua vida, se opõe
flagrantemente à figura do homem moderno, cujo traço marcante é justamente a
mobilidade espacial e simbólica”.
Essa
postura de Euclides, segundo nossa interlocutora, fazia coro com grande parte
da intelectualidade brasileira do final do século XIX e início do século XX.
Na
hipótese de se atribuir ao Estado como parece ter sido a proposta de grande
parte da intelectualidade a dupla tarefa de assegurar a cidadania e a
construção de sociedade moderna, que mito de origem deveria ser narrado?Como
lidar com o passado e construir uma história original que servisse a todos os
brasileiros, reunindo-os como grupo e separando-os como indivíduos? (VILLAS BÔAS,
1998, p. 7)
Villas
Bôas conclui seu raciocínio identificando que a noção de tempo – cronológico,
está intimamente relacionado com o de civilização, “o tempo recuado é o tempo
dos sertões” (Ibidem, p. 8). O livro vingador, portanto, aponta para duas
respostas (?): a primeira, a memória – “vai buscar elementos para construir a
ideia de uma cultura nacional. O engenheiro, militar e escritor está a favor
da civilização moderna ainda que lamente seus crimes”. (Ibidem, p. 12)
[grifo nosso]; a segunda, ruptura com o passado,
trata-se
de uma história dos vencidos. E. da C. liberta-se assim do tempo passado, sem
ter mesmo a menor intenção de mostrar sua continuidade, através da
reatualização de um ethos a correr nas veias de todos os brasileiros, malgrado
mudanças e descontinuidades. (Ibidem, p. 13) [grifo nosso]
III.
Enquanto Regina Abreu destaca o impacto promovido pelas leituras inicias de OS SERTÕES – com pequena tiragem e
esgotada em pouco tempo, Venancio Filho discute o fator guerra na obra e os
elementos histórico-sociais nela inscritos. Abreu coletou os comentários dos
principais críticos à época: José Veríssimo, a quem teceu elogios com surpresa
à novidade na literatura brasileira; Araripe Junior, que organizou um texto
mais denso e, segundo nossa interlocutora, foi utilizado por Euclides, tendo em
vista que este ficou ressabiado com tamanho impacto e positividade dos
comentários feitos à sua produção; o terceiro crítico foi Silvio Romero, cuja
“defesa” do autor de Os Sertões Foi
no discurso de posse de Euclides na Academia Brasileira de Letras.
Os
três críticos mais importantes do período evocaram o argumento da ciência como
atributo para a consagração de Os Sertões. Além disso, julgaram a obra pelo
critério do nacional. Mas, enquanto para Romero a noção de raça era
determinante enquanto fator de diferenciação nacional, para Araripe era noção
de meio físico o fator primordial. De qualquer modo, ambos enfatizaram a
concepção (romântica) de que a natureza desempenhava papel principal na formação
das sociedades e na determinação dos homens. (ABREU, 1998, p. 18)
IV. Na tentativa de explicar o
impacto da guerra em diversos aspectos, desde o de operacionalização (de
logística, como diriam os estrategistas contemporâneos), quanto o de valor
cultural – entendido o substantivo do ponto de vista composicional, formativo,
Venancio Filho desenvolve seu texto a partir do impacto que é um conflito,
estendendo para a razão de ser a Guerra de Canudos, cujas noções de barbárie e
civilização, às quais estavam sujeitas, tanto aterrorizavam os brasileiros.
O livro, para o nosso interlocutor,
foi a síntese de todos os fenômenos sociais daquele tempo, desde o terror
espalhado pelas falsas notícias a respeito do Conselheiro e seu ideário, quanto
pelas informações das derrotas oficiais, passando pela explicação dos sujeitos
– jagunços, cangaceiros e vaqueiros – e do local do conflito – ausência de
chuva, aridez do solo, flora ressaca e “agressiva”.
Segundo Venancio Filho
Euclides
deu a Canudos uma espessura, uma dinâmica e uma dimensão que, nas artes,
empalidecem as representações da Independência, da guerra do Paraguai, da
Abolição, da República, fatos em si muito mais relevantes, mas enquadrados, em
sua época, em molduras convencionais, comemorativas, oficiais, às quais faltava
uma dimensão profunda e substancial. (VENANCIO FILHO, 1998, p. 03)
Como
vimos, baseado em diversos estudos, inclusive estrangeiros, a Guerra de Canudos
teve no livro vingador, seu maior defensor, iluminador, divulgador e
perpetuador.
V.
O ineditismo do trabalho do prof. Ventura assenta-se na ideia do constructo
‘deserto’, elaborado por Euclides da Cunha, tanto em Os Sertões, quanto em Contrastes e confrontos e À Margem da
história
Euclides concebeu os sertões nordestinos e amazônicos como espaços vazios, fora da escrita e da civilização, e recorreu ao livro como mediador na observação da paisagem. Partindo da cultura escrita, o viajante se voltava para a paisagem, de modo a reinterpretá-la por meio da notação literária e científica. (VENTURA,
1997, p. 11)
Advém
desta citação uma outra sinalização do prof. Ventura: para Euclides a
importância da escrita, materializada em forma de livro, deu visibilidade e
posterior domínio dos sertões, tanto aquele do semiárido, quanto aquele da
floresta amazônica. Outra
importante contribuição que vimos no trabalho do prof. Ventura² é a noção de
viajante em movimento, sendo este aquele que descreve e narra, “que dá
expressão artística ou científica à paisagem”. (Ibidem, p. 15). Um dos grandes
feitos de Os Sertões é exatamente
esse, o de ir além do que se vê, transformar a aridez do rochedo, a
agressividade dos mandacarus, xiquexiques e cabeças-de-frades, o calor
sufocante, a baixa umidade do ar, o cinza da caatinga, em páginas inebriantes,
modo tão caro aos poetas e narradores de primeira linha. Uma verdadeira viagem
é ver, isso mesmo, enxergar e sentir a sequência narrativa em PROCISSÃO DOS
JIRAUS, final da batalha, segunda expedição, onde o gerúndio ali empregado nos
enleva e faz arrepiar o quadro não menos dantesco da tragédia sertaneja.
Provocando-nos mais uma vez,
questiono: Mas, cá entre nós, Os Sertões é
uma epopeia? Está aí ainda o grande mito que ela representa, pois passados mais
de um século enxergamos vários tipos nesse texto-momento (ou momento-texto?)
V.
Ao explorar os temas sertão e fronteira, Lucia Lippi parte da “exposição”
euclidiana indo além do posicionamento do autor de o livro vingador. Para a
autora, o leitor brasileiro sente-se um estrangeiro, em sua própria nação, ao
ler esta obra. Essa situação deve-se ao fato de que o Brasil era, apenas, o
litoral e alguns pontos das Minas Gerais, daí o total desconhecimento do
restante do Brasil, por ironia, a sua maior parte.
VI. Um estrangeiro dentre os autores desta coletânea, entretanto essa sua condição não o desqualifica como bom conhecedor do nosso livro vingador. Dono de um horizonte amplo sobre a literatura brasileira, em particular sobre OS SERTÕES, Zilly nos presenteia cara e bem conhecida que é a da guerra em si, como fenômeno e sua relação intrínseca com a condição pictórica e teatral.
Antes de mergulhar no que se propôs
– cujo título é bastante objetivo – Zilly afirma que “(a) incorporação de Os
Sertões aos cânones da literatura nacional e universal se deve relativamente
pouco a seu valor documental ou historiográfico.”
(ZILLY,
1998, p. 03).
Além
da qualificação dada, o autor nos informa em nota que OS SERTÕES figura entre os principais livros na Alemanha, terra
natal e domiciliar de Zilly.
Dentre os detalhes observados e
analisados por Zilly relacionando a guerra à uma peça teatral e uma imensa
tela, o também evoca a linguagem utilizada por Euclides – algo também já visto
por outros analistas/estudiosos da obra.
O caráter intensamente retórico de Os sertões, sua oralidade erudita, sofisticada, altissonante talvez não seja exatamente um traço barroco. A retórica é uma técnica verbal, de caráter pragmático e poético, proveniente da Antiguidade, mas foi no barroco (sic) que recebeu configuração especial, requinte e grandiosidade.(
ZILLY,
1998,
p. 6)
Outro destaque é o que se relaciona ao
tipo de texto que é Os Sertões
(relevância também já vista aqui nesse trabalho), tendo em vista apresentar
característica de relato científico –
em função dos seus estudos em geografia, geologia, botânica e o próprio
exercício da engenharia; texto poético face
ao uso de inúmeras metáforas e o de figuras de estilo, onde predominam as
antíteses, os paradoxos (até mesmo, oxímoros) e as hipérboles. Outras
atribuições ao texto por demais conhecidas nos permitem não mais elencá-las
aqui.
Toda exposição de motivos é, para Zilly,
sintetizada na ideia de que Os Sertões
é uma grande tela e um imenso drama cujos atos são assim distribuídos:
“A Terra, o homem, a luta - I ato
Travessia do cambaio – II ato
Expedição Moreira César – III ato
Quarta expedição – IV ato
Nova fase da luta, últimos dias – V
Travessia do cambaio – II ato
Expedição Moreira César – III ato
Quarta expedição – IV ato
Nova fase da luta, últimos dias – V
ato”(id., ib. , p.9)
A riqueza de justificativas dadas por Zilly é por demais pedagógica, ao apresentar o uso do pretérito imperfeito, exatamente para que a plasticidade e emoção sejam presentes na narrativa garantindo, portanto, a presença do leitor na trama.
Vale destacar ainda a escolha de uma
cena para completar a análise de Zilly acerca do lócus onde se deu a
trama.
Esta cena é um resumo da guerra toda. Encurralados, bombardeados pela artilharia ao sul e a leste e combatidos pela infantaria, que investe do lado norte, os sertanejos, derrotados quase, morrendo, lutam como leões contra o agressor que tem o país todo, se não o mundo todo como aliados. (ZILLY,
1998,
p. 15)
A cena a qual se refere o nosso
interlocutor é aquela em que as tropas, de todos os lados irrompia contra o
arraial, era o prenúncio do fim do Belo Monte, cujo ápice será a cena em que os
quatro últimos sobreviventes reagem contra a artilharia, sem se entregarem ao
vencedor.
VII.
Dando prosseguimento às faces do livro vingador o prof, Roberto Ventura,
destaca a relação daquele texto com as ideias de um ícone da cultura
brasileira, Roquette Pinto, no que tange ao período do comunicador como
estudioso da gênese do povo brasileiro. Diga-se de passagem que o prof. Ventura
vai fazer uso do que refletiu Roquette-Pinto acerca da gênese do sertanejo e do
seringueiro – este, objeto de reflexão de Roquette.
Em diversos momentos do trabalho de
ambos,Ventura coleciona convergências e divergências, sendo as primeiras, mais
frequente. Para Ventura as discordâncias quando aparecem, vão na linha do que
muitos comentadores da obra euclidiana, contemporâneos ou não, apontam em Os Sertões, os enganos científicos, a
ausência de testemunhas e a incipiente formação antropológica de Euclides.
Outro
embate gira em torno da crença de Euclides na superioridade de determinada raça
e no caráter negativo da mestiçagem, entretanto e apesar disso, Roquette-Pinto
defende Os Sertões, considerando-o “...um livro de ciência e fé [onde se lê}
pela primeira vez, com programa assente claro, estudos das populações
brasileiras do Brasil (sic) – apud Ventura, p. 15).
VIII.
Fazendo uso da filosofia – Ontologia discursiva, Leopoldo Bernucci nos oferece
um quadro interpretativo de Os Sertões
com os seguintes aspectos: A duplicidade no modo discursivo, quais sejam, o
científico e o literário. Para tais modos, apesar desta classificação, o autor
aponta os possíveis equívocos de Euclides que passam principalmente pela
relação com as fontes utilizadas, mas não citadas, pelo uso de informações não
confirmadas, mesmo à época – como o famoso caso em que o conselheiro se
traveste de soldado para espionar a sua esposa no suposto adultério.
Entretanto, assim se expressa Bernucci, mesmo tendo observado tais equívocos:
Para
quem era sensível às potencialidades da língua, aos recursos retóricos do
discurso ficcional e às qualidades artísticas de um texto, não deveria ser
difícil perceber que Os Sertões não poderia acomodar um só discurso, mas
vários.(...)Errará também aquele que, adotando critérios estilísticos e
textuais, unicamente, queira aplicá-lo a demarcações genéricas ou convencionais.
(BERNUCCI, 1998, p. 12)
Outro
importante momento da análise de Bernucci é aquele em que identifica os modos
de interpretação do livro vingador, a saber:
1.
Argumentativo. Esteticamente, é a maneira como Euclides da Cunha trabalha o
argumento da história de Canudos de modo que seja percebida como
tragédia.
2.
Explicativo.(...) Aqui entram as leis científicas e pensamentos filosóficos de
seu tempo, fortemente caracterizado pelas análises de causa e efeito dos fatos
históricos, o que ñ deixar de revelar um
cacoete mecanicista em seu trabalho.
3.Ideológico.(...)
A visível inclinação republicana de Euclides e sua intolerância com
respeito aos fanatismos, fazem-no dirigir ataques tanto aos monarquistas quanto
aos jacobinos. (Ibidem, p.14) [grifo nosso]
Vê-se nesse segundo
ponto de análise que Bernucci confirma muito dos adjetivos atribuídos tanto ao
autor, quanto ao livro, posto que
ainda
hoje parece ser consenso da melhor crítica reconhecer em Euclides não um
escritor com veia de ficcionista, mas apenas um escrito investido no seu papel
de cientista e historiador.” (Ibidem, p.9)
IX. A partir de
comparativos entre o que escreveu Euclides em Os Sertões e os textos de Antonio Conselheiro, Roberto Ventura,
mais uma vez aqui nesse texto, confirma o caráter, a face preconceituosa
daquele em relação ao líder dos canudenses.
Em alguns momentos do
livros vingador vê-se a atribuição de Euclides ao Conselheiro como um bronco,
ignorante, entretanto os escritos do religioso como, Apontamentos dos preceitos
da lei divina, reforçam a tese de que o líder tinha plena consciência de sua
luta, qual seja a religiosidade com base no Catolicismo popular, com destaque
para a defesa do casamento religioso, fato não visto como principal fundamento
pela elite brasileira – política, militar, intelectual, econômica e religiosa.
X. Nosso “passeio pelas
viagens” em Os sertões se encerra com um estudo que visa, sobretudo, o que está
para além do livro vingador, entretanto é devedora também ao mesmo tempo – a
brasilidade. Segundo Ricardo de Oliveira o trabalho de Euclides não visava
somente dar visibilidade a uma das faces do Brasil, mas o próprio autor e sua
obra transformaram-se em sinônimos de construção desta nacionalidade.
Vale
destacar também que Oliveira traz a discussão, o caráter múltiplo de Os
Sertões, onde
No
substrato da narrativa persiste, porém, a contradição estrutural do livro que é
a de, ao mesmo tempo em que adjetiva o sertanejo como cerne da nacionalidade, o cientista, preso aos grilhões de
seu credo, em vários momentos, não consegue escapar dos preconceitos. (BERNUCCI,
1998, p. 526)
À guisa de conclusão
Fazer um levantamento
de obras que analisaram OS SERTÕES
não é tarefa nada fácil, principalmente para um apaixonado por ela, pelo autor
e pela temática que a cercou, inclusive o caráter jornalístico que a motivou.
No universo escolar –
origem desse trabalho - essa obra ainda é vista como hermética, complexa e
distante do universo intelectual dos educandos (até mesmo nos cursos de Letras
ele não é lido). Na contra-mão dessa viagem vamos completando 10 (dez) anos de
leituras e viagens (essas no sentido do deslocamento corporal, quando vamos até
Monte Santo e Canudos, visitar os palcos do conflito).
Mas ler e reler o que
se diz sobre Os Sertões, tem se
revelado ao longo destes anos como algo prazeroso dentro deste universo de
trabalho. As contradições, equívocos, acertos e monumentos que a obra apresenta
são revelados pelas leituras realizadas para fins de construção do presente
trabalho, o que consolida ainda mais a qualidade positiva da obra.
O
comportamento de Euclides da Cunha diante dos fatos e das informações recebidas
sobre o conflito no semiárido baiano, aliado à sua decepção dos descaminhos e
desmandos da incipiente República brasiliana, levam-nos a concordar com Lukacs
ao se referir à originalidade de um autor, ao ineditismo de um trabalho ao
afirmar que “Quanto mais profundo e historicamente autêntico for o conhecimento
de um escritor sobre uma época, mais ele terá liberdade de movimento no
conteúdo e menos se sentirá aos fatos históricos singulares”. (LUKACS, 2011, p.
207)
Euclides
da Cunha passou por vários momentos de entendimento do conflito, a saber: o antes – ainda na capital federal,
recebendo as notícias como tantos outros brasileiros; o durante - as pesquisas bibliográficas, as orientações de Teodoro
Sampaio, o contato com os canudenses já em Salvador; a permanência no conflito;
o depois – de volta ao Rio de
Janeiro e o auto-exílio em São José do Rio Pardo – SP, provocaram no escritor
uma verdadeira ebulição, uma catarse política e social.
1. O autor elencou somente três exemplos de metáforas em face das dimensões do artigo – é o que suponho.
2. O autor busca a ideia em Flora Sussekind, no texto O Brasil não é longe daqui: o narrador, a viagem, Cia. das letras, 1990.
3. Muitas páginas foram indicadas pelo autor deste trabalho tendo em vista que o sítio indicado como fonte de consulta e coleta não apresentavam numeração oficial. Para organização das nossas referências utilizadas, fez-se mister numerá-las.
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