Flip homenageia Carlos Drummond de Andrade e traz de volta
alguns escritores. Entre os novos homenageados está Francisco Dantas, de
Sergipe.
por Anna Carolina Lementy – da revista BRAVO!
Carlos Drummond de Andrade |
A simpatia por estilos variados é a marca que a Flip (Festa
Literária Internacional de Paraty) vem tentando imprimir a cada edição. Na
décima, a intenção fica mais evidente com a homenagem a Carlos Drummond de
Andrade. Embora seu nome esteja mais ligado à poesia, Drummond consolidou uma
produção multifacetada, com prosa, crônicas, contos e livros infantis. Sua obra
será discutida e celebrada em três mesas de debate, uma exposição e um monólogo
criado a partir da correspondência entre o escritor e sua filha.
O jornalista Miguel Conde será responsável pela programação da Flip 2012 (Foto: Divulgação) |
Além de Drummond, a Flip deste ano espera que o público
conheça as ideias de outros brasileiros, como Rubens Figueiredo, Francisco
Dantas, Zuenir Ventura, Fabrício Carpinejar, João Paulo Cuenca e outros. Ao
todo, serão 40 escritores, vindos de 14 países. Mas nem todos são “virgens de
Flip”. Retornam à cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, os escritores britânicos
Hanif Kureishi e Ian McEwan, que fará o lançamento mundial de Serena, seu novo
livro, e o autor espanhol Enrique Vila-Matas. Eles participaram das primeiras
edições e voltam para comemorar os 10 anos do evento.
Francisco Dantas
Francisco J. C. Dantas, autor de Os desvalidos |
Um dos grandes autores brasileiros em atividade, o sergipano
Francisco Dantas está na Flip deste ano e fez sua estreia na literatura aos 50
anos de idade, com Coivara da memória (1991). Logo conquistou a admiração de
leitores como Benedito Nunes, José Paulo Paes e Alfredo Bosi, que, a propósito
de seu livro seguinte, Os desvalidos (1993), resumiu assim o estilo do autor:
“A sua prosa alcança o equilíbrio árduo entre a oralidade da tradição (…) e uma
dicção empenhadamente literária que modula o fraseado clássico até os confins
da maneira”. Sem perder de vista a espontaneidade da fala, a escrita
exaustivamente trabalhada apresenta um universo de paixões próximas do registro
mítico. O destino de seus personagens, porém, permanece ligado ao fio da
história. É com esses elementos que Dantas compõe a trama cerrada de sua obra.
PROGRAMAÇÃO
Jennifer Egan |
Ian McEwan e Jennifer Egan, vencedora do prêmio Pullitzer de
ficção do ano passado com A visita cruel, debaterão o deslocamento do próprio
ponto de vista ao escrever, característica marcante dos dois. “Ambos conseguem
ver o mundo pelos olhos de outra pessoa, num processo que exige bastante
empatia e capacidade de percepção do outro”, diz Miguel Conde, curador da Flip
2012, durante entrevista coletiva. Mestre em Letras pela PUC do Rio de Janeiro,
Conde trabalhou como jornalista no jornal "O Globo" durante oito
anos. Ele assumiu o posto dia 1º de outubro do ano passado e começa a trabalhar
na programação da nova edição da festa literária, que terá como homenageado o
poeta Carlos Drummond de Andrade. Segundo Mauro Munhoz, diretor presidente da
Associação Casa Azul, entidade responsável pela organização da Flip, a escolha
por Miguel Conde "é uma aposta na inovação e na criatividade”.
Imagem
Jonathan Franzen |
Já Vila-Matas e o jovem autor chileno Alejandro Zambra
discutirão se a literatura da pós-modernidade está voltada apenas para si mesma
– “já adiantamos que não e que o nome da mesa da qual os dois participam,
‘Apenas Literatura’ é totalmente irônico”, afirma Miguel. Miguel também falou
sobre a mesa “Entre fronteiras”, que coloca o russo Gary Shteyngart e Hanif
Kureishi, filho de pai paquistanês, para discutir a percepção das diferenças
culturais. “Eles têm um olhar irônico sobre o tema e esvaziam as ideias mais
extremistas”. Outro destaque é a participação do americano Jonathan Franzen,
autor do elogiado Liberdade, publicado no ano passado, e o francês Le Clézio, o
quinto prêmio Nobel a participar da Flip (já participaram Orhan Pamuk, Toni
Morrison, Nadine Gordimer e J.M. Coetzee).
ORÇAMENTO
O orçamento da Flip neste ano é de R$ 7 milhões, 23% maior
do que no ano passado, sendo que 44% do montante foi captado via Lei Rouanet. A
organização estima que 20 mil pessoas participem do evento, que tem trazido
melhorias para a cidade, embora ainda não haja estrutura suficiente para
receber tantos turistas (os preços, altíssimos, também estão em desacordo com o
que é oferecido). “Antes da Flip, havia meia dúzia de livros em Paraty. Hoje
temos bibliotecas nas escolas e um pedido de líderes comunitários para que
façamos uma rede de espaços de leitura”, diz Cristina Maseda, coordenadora da
Flipinha e moradora de Paraty.
Informações complementares do G1 e do portal da Flip. Clique aqui para ter acesso à toda programação.