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terça-feira, 28 de maio de 2013

José de Alencar: criador de mitos

José de Alencar, advogado, jornalista, político, orador, romancista e teatrólogo, nasceu em Mecejana, CE, em 1o de maio de 1829, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 1877. É o patrono da Cadeira n. 23, por escolha de Machado de Assis.
Era filho do padre, depois senador, José Martiniano de Alencar e de sua prima Ana Josefina de Alencar, com quem formara uma união socialmente bem aceita, desligando-se bem cedo de qualquer atividade sacerdotal. E neto, pelo lado paterno, do comerciante português José Gonçalves dos Santos e de D. Bárbara de Alencar, matrona pernambucana que se consagraria heroína da revolução de 1817. Ela e o filho José Martiniano, então seminarista no Crato, passaram quatro anos presos na Bahia, pela adesão ao movimento revolucionário irrompido em Pernambuco.
As mais distantes reminiscências da infância do pequeno José mostram-no lendo velhos romances para a mãe e as tias, em contato com as cenas da vida sertaneja e da natureza brasileira e sob a influência do sentimento nativista que lhe passava o pai revolucionário. Entre 1837-38, em companhia dos pais, viajou do Ceará à Bahia, pelo interior, e as impressões dessa viagem refletir-se-iam mais tarde em sua obra de ficção. Transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde o pai desenvolveria carreira política e onde freqüentou o Colégio de Instrução Elementar. Em 1844 vai para São Paulo, onde permanece até 1850, terminando os preparatórios e cursando Direito, salvo o ano de 1847, em que faz o 3o ano na Faculdade de Olinda. Formado, começa a advogar no Rio e passa a colaborar no Correio Mercantil, convidado por Francisco Otaviano de Almeida Rosa, seu colega de Faculdade, e a escrever para o Jornal do Commercio os folhetins que, em 1874, reuniu sob o título de Ao correr da pena. Redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro em 1855. Filiado ao Partido Conservador, foi eleito várias vezes deputado geral pelo Ceará; de 1868 a 1870, foi ministro da Justiça. Não conseguiu realizar a ambição de ser senador, devendo contentar-se com o título do Conselho. Desgostoso com a política, passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
A sua notoriedade começou com as Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, publicadas em 1856, com o pseudônimo de Ig, no Diário do Rio de Janeiro, nas quais critica veementemente o poema épico de Domingos Gonçalves de Magalhães, favorito do Imperador e considerado então o chefe da literatura brasileira. Estabeleceu-se, entre ele e os amigos do poeta, apaixonada polêmica de que participou, sob pseudônimo, o próprio Pedro II. A crítica por ele feita ao poema denota o grau de seus estudos de teoria literária e suas concepções do que devia caracterizar a literatura brasileira, para a qual, a seu ver, era inadequado o gênero épico, incompatível à expressão dos sentimentos e anseios da gente americana e à forma de uma literatura nascente. Optou, ele próprio, pela ficção, por ser um gênero moderno e livre.
Casa onde nasceu José de Alencar
Ainda em 1856, publicou o seu primeiro romance conhecido: Cinco minutos. Em 1857, revelou-se um escritor mais maduro com a publicação, em folhetins, de O Guarani, que lhe granjeou grande popularidade. Daí para frente escreveu romances indianistas, urbanos, regionais, históricos, romances-poemas de natureza lendária, obras teatrais, poesias, crônicas, ensaios e polêmicas literárias, escritos políticos e estudos filológicos. A parte de ficção histórica, testemunho da sua busca de tema nacional para o romance, concretizou-se em duas direções: os romances de temas propriamente históricos e os de lendas indígenas. Por estes últimos, José de Alencar incorporou-se no movimento do indianismo na literatura brasileira do século XIX, em que a fórmula nacionalista consistia na apropriação da tradição indígena na ficção, a exemplo do que fez Gonçalves Dias na poesia. Em 1866, Machado de Assis, em artigo no Diário do Rio de Janeiro, elogiou calorosamente o romance Iracema, publicado no ano anterior. José de Alencar confessou a alegria que lhe proporcionou essa crítica em Como e porque sou romancista, onde apresentou também a sua doutrina estética e poética, dando um testemunho de quão consciente era a sua atitude em face do fenômeno literário. Machado de Assis sempre teve José de Alencar na mais alta conta e, ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, escolheu-o como patrono de sua Cadeira.
Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi chamado "o patriarca da literatura brasileira". Sua imensa obra causa admiração não só pela qualidade, como pelo volume, se considerarmos o pouco tempo que José de Alencar pôde dedicar-lhe numa vida curta. Faleceu no Rio de Janeiro, de tuberculose, aos 48 anos de idade.
Obras: I Romances urbanos: Cinco minutos (1857); A viuvinha (1860); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro (1872); Senhora (1875); Encarnação (1893, póstumo). II Romances históricos e/ou indianistas: O Guarani (1857); Iracema (1865); As minas de prata (1865); Alfarrábios (1873); Ubirajara (1874); Guerra dos mascates (1873). III Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1872); O sertanejo (1875).
A Viuvinha Resumo analítico
O romance começa com o narrador contando como se escrevesse uma carta a uma prima relatando a história de Jorge e Carolina. Ele, herdeiro de uma grande fortuna que em sua juventude passa a gastá-la sem nenhuma preocupação. Apaixona-se por Carolina e começa a ver a vida de um outro ângulo, mas às vésperas do seu casamento, é surpreendido por um velho amigo de seu pai e seu antigo tutor, o Sr. Almeida, descobrindo estar desgraçadamente falido, pobre. Para saldar sua dívida e a honra de seu falecido pai ele toma uma atitude que transformará sua vida. E no dia do seu casamento Jorge tomado pela culpa e pela vergonha, acaba se suicidando e deixando Carolina viúva. Passa-se cinco anos e Carolina continua usando seu traje de viuvez, o que as pessoas do lugar colocam o apelido de viuvinha, por ser uma moça jovem e muito formosa. Neste momento entra em cena Carlos um homem que guardava um segredo. Foi falar com o Sr. Almeida onde deixa claro que ele é o mesmo Jorge que outrora inventou sua morte para poder trabalhar e juntar dinheiro suficiente para limpar seu nome e do seu pai. Carlos freqüentemente fica nas sobras embaixo da janela de Carolina, cuidando dela, amando-a em segredo, até que um dia resolve escrever uma carta onde fala do seu amor e marca um encontro, sem ela saber de quem se trata. Entra em contradição o seu pobre coração, se deve ou não ir ao encontro mesmo sabendo que ainda ama desesperadamente seu marido Jorge. Quando chega ao encontro o desconhecido fala de seu amor e pede pra ela aceitar a ele. Mas em primeiro lugar Carolina tenta repudiá-lo dizendo que não o quer, que ainda esta apaixonada pelo seu falecido marido. Neste momento então Carlos resolve se mostrar a Carolina contando toda a verdade, e abraça-a e beija e ambos juntos vão celebrar este amor tendo até que enfim sua noite de núpcias. Pela manhã o Sr. Almeida resolver ir até a casa de Carolina para contar a ela e sua mãe sobre a volta de Jorge, e enquanto ele esta falando com a mãe de Carolina, esta a chama e ela dizem que esta esperando por Jorge, sua mãe acha que Carolina esta enlouquecendo e quando vai até o quarto da jovem leva um susto quando a vê no corredor de braços dados com o falecido. O narrador termina contando que ouviu esta história de Carlota que é vizinha e amiga da viuvinha.
Lucíola – Resumo e análise da Obra
LUCÍOLA é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "perfis de mulheres" (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um levantamento da nossa vida burguesa do século passado mais considerável do que o levado a efeito por Machado de Assis, na opinião de Heron de Alencar. Fixam o Rio de Janeiro da época, com a sua fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que freqüentava o Teatro Lírico, passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no Flamengo, em Botafogo ou Santa Teresa e era protagonista de dramas de amor que iam do simples namoro à paixão desvairada.
 Em todos os romance urbanos, Alencar aborda o amor como tema central. Ou, para ser mais exato, "aborda a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor" segundo Heron de Alencar. Mas o amor como o entendia a mentalidade romântica da época, "um amor sublimado, idealizado, capaz de renúncias, de sacrifícios, de heroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força acrisoladora de sua intensidade e de sua paixão." (Oscar Mendes, in José de Alencar - romances urbanos, Rio de Janeiro, Agir, 1965, Col. Nossos Clássicos - p.10).
  Baseando-se na enorme aceitação de Alencar junto ao público, Antônio Cândido comprova a existência de pelo menos dois Alencares:
  "o Alencar dos rapazes, heróico, altissonante, criando heróis como Peri, Ubirajara, Estácio Correia (As Minas de Prata), Manuel Canho (O Gaúcho), Arnaldo Louredo (O Sertanejo).
   o Alencar das mocinhas, gracioso, às vezes pelintra, outras, quase trágico, criador de mulheres cândidas e de moços impecavelmente bons, que dançam aos olhos do leitor uma branda quadrilha, ao compasso do dever e da consciência, mais fortes que a paixão. As regras desse jogo bem conduzido exigem inicialmente um obstáculo, que ameace a união dos namorados, sem contudo destruí-la. Todavia, há pelo menos um terceiro Alencar, o que se poderia chamar dos adultos, formado por uma série de elementos pouco heróicos e pouco elegantes, mas detonadores dum senso artístico e humano que dá contorno aquilino a alguns dos seus perfis de homem e de mulher. Este Alencar, difuso pelos outros livros, se contém mais visivelmente em Senhora e, sobretudo, LUCÍOLA, únicos livros, em que a mulher e o homem se defrontam num plano de igualdade, dotados de peso específico e capaz daquele amadurecimento interior inexistente nos outros bonecos e bonecas." (in Formação da Literatura Brasileira, 4ª ed., São Paulo, Martins, 1971, 2º vol. P.222).
  O AMOR DE LÚCIA E PAULO
  
LUCÍOLA, publicado em 1862, é um romance de amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça presente. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", ou seja, o narrador da história é um personagem importante da mesma, Paulo Silva. E ele a narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de Alencar), que as publica em livro com o título de LUCÍOLA.
  Paulo Silva, o personagem-narrador, é um rapaz de 25 anos, pernambucano, recém-chegado ao Rio de Janeiro, em 1855, com a intenção de aí se estabelecer.
  No dia mesmo de sua chegada à corte (Rio de Janeiro), após o jantar, sai em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua das Mangueiras vê passar em um carro uma jovem muito bela. Um imprevisto faz parar o carro, dando a Paulo a oportunidade de repará-la melhor. Dia após, em companhia de outro amigo, o Dr. Sá, Paulo participa da festa de N. Senhora da Glória, quando lhe aparece a linda moça. Informando-se do amigo, fica sabendo tratar-se de Lúcia, a prostituta mais bela, requintada e disputada da cidade. Mas ele se impressiona com a "expressão cândida do rosto e a graciosa modéstia do gesto, ainda mesmo quando os lábios dessa mulher revelam a cortesã franca e impudente."
 Mais ou menos um mês após sua chegada, Paulo vai à procura de Lúcia, levado, é claro pelo desejo de possuir aquela linda mulher. Após longa e agradável conversa, acaba se surpreendendo com o "casto e ingênuo perfume que respirava de toda a sua pessoa". A um mínimo lance de seus seios, "ela se enrubesceu como uma menina e fechou o roupão" discretamente. E ele, que fora quente de desejos, agora, na rua, se acha ridículo por não haver ousado mais. Além do que, o Dr. Sá lhe confirmara que "Lúcia é a mais alegre companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de extravagância."
 No dia seguinte Paulo está de volta à casa da heroína. Ao seu primeiro ataque, Lúcia se opõe com duas lágrima nos olhos. Supondo ser fingimento, mostra-se aborrecido e ela reage atirando-se completamente nua em seus braços, já que era isso que Paulo queria. Mas no auge do prazer do sexo, Paulo percebe algo diferente nas carícias de Lúcia: mesmo no clímax do gozo, parece que ela sofria. Sente, na hora, um imenso dó, ao que ela corresponde cinicamente: "- Que importa? Contanto que tenha gozado de minha mocidade! De que serve a velhice às mulheres como eu?" Ele quer pagar-lhe, ela rejeita com um meigo aperto de mão. E ele retira-se realmente confuso com "a singularidade daquela cortesã, que ora levava a impudência até o cinismo, ora esquecia-se do seu papel no simples e modesto recato de uma senhora".
  E as informações que lhe chegam a seu respeito são as piores. O Cunha diz que ela é "a mais bonita mulher do Rio e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende. "Nunca fica muito tempo com o mesmo amante, "pois não admite que ninguém adquira direitos sobre ela." Além do mais, é avarenta. Vende tudo o que ganha. Até roupas. Para Paulo, no entanto, ela parece ser ao contrário de tudo isso. Afinal, ela finge para ele ou já o ama? Paulo fica em dúvida atroz.
   Por aqueles dias, numa ceia em casa do Sá, com pessoas (Lúcia, Paulo, Sr. Couto, Laura, Nina, Rochinha, etc...) maldosamente convidadas para transformar a ceia em bacanal, Lúcia desfila toda nua, imitando as poses lascivas dos quadros que estavam nas paredes, ante os olhares voluptuosos dos presentes. Depois, em lágrimas, nos jardins da casa, ela se explica a Paulo. Fez aquilo por desespero, pois ele havia zombado dela momentos antes: "se o Senhor não zombasse de mim, não o teria feito por coisa alguma deste mundo..."E depois porque teria sido uma decepção total, afinal o que Sá pretendia era mostrar a seu amigo Paulo quem era Lúcia. "Não foi para isso que se deu essa ceia?! - explicou Lúcia. E os dois se amaram profundamente, lá mesmo no jardim, á luz da lua, até de madrugada.
 Decorridos alguns dias, Paulo de certo modo passa a morar com Lúcia, e, apesar das prevenções e restrições, mais e mais se liga a ela por afeto. Lúcia, por sua vez, já ama Paulo e se entrega e ele como a um dono e senhor. Há momentos de atritos entre ambos. Passageiros, e todos causados pelo egoísmo e incompreensão de Paulo que não entende as profundas transformações que o seu afeto operou nela. E a tal ponto , que ela não suportaria mais a idéia de se lhe entregar na cama, pois sente por ele um amor muito puro e profundo. E ele, levado mais por desejo que por afeto, não consegue aceitar esse comportamento sublime.
 As más línguas já comentam que Paulo, além de viver à custa de Lúcia, ainda a proíbe de freqüentar a sociedade. Lúcia que já então procurava viver mais retraída dispõe-se a voltar à vida mundana apenas para salvar-lhe a reputação. Mas Paulo - complicado, sádico, estúpido e chato - não compreende.
 Lúcia já não vibra como outrora. Mesmo quando excitada por Paulo. É a doença que já se faz sentir. Paulo não entende essa frieza e por vezes se exaspera. Ela sofre calada pois reconhece que "o amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe!". O grande sentimento que os unia, arrefece, dando lugar a uma amizade simplesmente.
O comportamento de Lúcia é cada vez mais sublime e heróico. Já não existe mais nada da antiga cortesã. E Paulo, por fim, entende essa nobreza de caráter e compreende o porquê das suas recusas. Ela lhe recusava o corpo porque o amava em espírito. E também porque já está doente. Paulo promete respeitá-la de ora em diante.
 Lúcia um dia lhe revela todo o seu passado. Chamava-se Maria da Glória. Era uma menina feliz de 14 anos e morava com os pais, quando, em 1850, sobreveio a terrível febre amarela. Seus pais, os três irmãos, uma tia caíram de cama, Ela ficou só. No auge do desespero, resolveu pedir ajuda a um vizinho rico, Sr. Couto, que em troca de algumas moedas de ouro tirou-lhe a inocência. "o dinheiro ganho com a minha vergonha salvou a vida de meu pai e trouxe-nos um raio de esperança." Seu pai, porém, sabendo da origem do dinheiro, e supondo ter a filha um amante, a expulsou de casa. Sozinha, sem ter aonde ir, foi acolhida por uma mulher, Jesuína, que, quinze dias depois, à conduziu à prostituição, estipulando pela beleza de seu corpo um alto preço. O dinheiro, ela o usava para cuidar do que restava da família: "e eu tive o supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha irmã".
Uma colega de infortúnio foi morar com ela. Chamava-se Lúcia. Tornaram-se amigas. Lúcia morreu pouco depois. No atestado de óbito, a heroína fez constar que a falecida se chamava Maria da Glória, adotando para si o nome da amiga morta. "Morri pois para o mundo e para minha família. Meus pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída." E todo dinheiro que ganhava, destinava-o à preparação de um dote para sua irmã, Ana, a qual passou a manter num colégio interno depois da morte dos pais.
 Agora Paulo compreende ainda melhor as atitudes misteriosas e contraditórias que Lúcia tomava como cortesã. É que esse gênero de vida lhe parecia sórdido e abjeto. Ela suportava como a um martírio, uma autopunição, uma maneira de reparar o seu pecado. Conhecido se passado heróico, ele passa a sentir por Lúcia uma grande ternura e um amor sincero.
 Seguem-se dias tranqüilos. Lúcia muda-se para uma casinha modesta e Ana mora com ela. "isto não pode durar muito! É impossível!" É o pressentimento da morte. Lúcia tenta convencer Paulo a se casar com Ana, que já o ama também. Seria uma maneira de perpetuar o amor de ambos, já que ela se julga indigna do puro amor conjugal. Paulo rejeita com veemência em nome do amor que não sente por Ana.
 Lúcia aborta o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto morto, dizendo "Sua mãe lhe servirá de túmulo". E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo prometendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo por toda a eternidade.
Senhora, obra-prima de Alencar ao lado de Iracema, narra em terceira pessoa a hist6ria de Aurélia Camargo, que vive com sua mãe viúva e um irmão num subúrbio do Rio de Janeiro.
Aurélia apaixona-se por Fernando Seixas e este por ela, de modo que contra- tam casamento. Seixas, porém, abandona-a por outra mulher por causa do dote desta. Aurélia continua apaixonada por Seixas. Uma herança inesperada, em nome de Aurélia, dá à moça a oportunidade de reconquistar o amado, mas também, de se vingar.
Aurélia, que ainda não tem 21 anos, propõe a Seixas -através de seu tio e tutor, Lemos - um casamento com uma moça de grande dote, contra-recibo. Impõe, no entanto, que ele aceite a proposta sem conhecer a identidade da noiva. Seixas, endividado, aceita. Ao saber que é com Aurélia que vai casar, fica enormemente feliz. Mas, na noite de núpcias, Aurélia lhe revela a verdade: "eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido" e, mostrando-lhe o recibo, expulsa-o do quarto.
A partir dai, o relacionamento entre eles se torna hipócrita. Diante de estranhos, representam um casal perfeito. A sós, Aurélia o trata como se fosse sua propriedade e Seixas aceita-se como tal até que, um pouco pelo trabalho, um pouco por sorte, consegue juntar o dinheiro que deve a Aurélia, ficando, assim, resgatado. Finalmente, depois disso, os dois jogam-se nos braços um do outro, vivendo felizes para sempre.
O livro se divide em quatro partes:, O Preço, Quitação, Posse e Resgate.
Ubirajara
Romance indianista
1. edição publicada em 1875 por B.L.Garnier
Pré-Cabralino
         Ubirajara, é um romance que narra a história de um índio guerreiro, que por sua força e garra conquistava tudo que queria. O autor, começa a narração falando das nações indígenas existentes na época, e que Ubirajara era irmão de Iracema. Sua primeira atividade foi a caça, e como obtinha muito sucesso nesta atividade, recebeu o nome de Jaguaré, tipo de onça feroz que não deixava escapar suas presas.
Era admirado por todos, e as virgens disputavam o seu amor, mas havia uma moça que se chamava Jandira, que fora prometida para ele seu nome Jandira, tinha o significado "Jandaíra" relativo a um tipo de abelha.
Um dia, Jaguaré, estava caçando e encontrou outra virgem muito bela, que pertencia a tribo Tupi, e logo apaixonou-se por ela, seu nome era Araci, que significa estrela do dia. Ela também gostou dele e lançou um desafio para a sua conquista: aquele que fosse melhor guerreiro teria o seu amor. Jaguaré, aceitou o desafio, e quando se preparava para a luta, encontrou um guerreiro da tribo tupi e travou com ele uma luta que durou muitas horas, porém Jaguaré, saiu vencedor e levou seu inimigo preso para ser morto no tempo certo. Todos da tribo Araguaia, festejaram a vitória de Jaguaré.
Depois ele voltou para lutar pela Araci, na tribo dos Tocantins. Lá foi recebido com honras, como qualquer hóspede, os anciões deram-lhe o nome de Jurandi, que significa aquele que veio da luz ou trazer luz.
Logo ele viu Araci, e ambos ficaram encantados; Jurandi revelou a seu pai que queria a virgem por esposa, e foi lançado as provas de coragem entre todos os pretendentes e Jurandi venceu todas e obteve o consentimento do pai, mas quando Jurandi, revelou sua verdadeira identidade, tudo ficou complicado, porque o guerreiro inimigo que era seu prisioneiro, era o irmão de Araci. Foi aí que a luta seria maior. Ubirajara, voltou à sua tribo, libertou o prisioneiro, e convocou a todos os guerreiros de seu povo para atacar os Tocantins, mas quando eles se preparavam para a batalha, souberam que os tabuias, estavam em guerra com os Tocantins e ofereceram ajuda aos araguaias, porém Ubirajara mandou um recado que não precisava de nenhum aliado para vencer aos dois grupos.
Na guerra dos tapuias com os Tocantins, resultou na morte do maior guerreiro dos tapuias e o chefe dos Tocantins perdeu a visão. Quando os araguaias, chegaram na tribo tupi, Ubirajara pediu ao guerreiro cego que lançasse seu arco e duas cetas se cruzaram no espaço e a paz foi feita entre as duas tribos, e assim Araci, foi com o seu marido para as núpcias em sua cabana, ela rompeu a liga da virgindade e colocou-a no braço do marido. Estendeu a rede nupcial e foi buscar Jandira, que fora dada a ela por escrava pelo Ubirajara, e deu ao marido como esposa, as duas se tornaram esposas do maior guerreiro Araguaia Tocantins.
A união dessas duas nações resultou no surgimento de uma nova nação que recebeu o nome de ubirajara, eles dominaram o deserto, por muito tempo.
Iracema 
Lenda criada por Alencar, Iracema explica poeticamente as origens de sua terra natal. A "virgem dos lábios de mel" tornou-se símbolo do Ceará , e o filho, Moacir nascido de seus amores com o colonizador branco Martim representa o primeiro cearense, fruto da integração das duas raças.
A figura de Martim Soares Moreno é histórica, assim como a de Potí, o índio que o ajuda, conhecido em nossa história como Felipe Camarão.
O enredo é simples : Iracema , a virgem tabajara consagrada a Tupã, apaixona-se por Martim, guerreiro branco inimigo dos tabajaras. Por esse amor abandona sua tribo, tornando-se esposa do inimigo de seu povo. Quando mais tarde percebe que Martim sente saudades de sua terra e talvez de alguma mulher, começa a sofrer. Nasce-lhe o filho, Moacir, enquanto Martim está lutando em outras regiões. Ao voltar, ele encontra Iracema prestes a morrer. Parte, então com o filho para outras terras.
Destaca-se, nesta obra , a linguagem bem elaborada de Alencar. O estilo é artisticamente simples, procurando recriar a poesia natural da fala indígena, plena de comparações e personificações, o que dá ao livro as características de um verdadeiro poema.
Este capítulo mostra o momento em que Iracema encontra Martim pela primeira vez. Ele estava no Brasil, em missão guerreira (conquistar terras para a Coroa Portuguesa) e perdeu-se nas matas, acabando por chegar nos campos dos tabajaras, a a quem ele estava combatendo.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema, da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com a primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho: o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas da garra, as flechas de seu arco e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizado, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro , estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco da areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada ; mas logo sorriu. O moço guerreiro, aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba , e correu para o guerreiro , sentida da mágoa que causar.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida. Deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
- Quebras comigo a flecha da paz?
- Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
- Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram , e hoje têm os meus.
- Bem - vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias e à cabana de Araquém , pai de Iracema.

Diva,   Resumo – prof. Landisvalth Lima

“A G.M.
Envio-lhe outro perfil de mulher, tirado ao vivo, como o primeiro.
Deste, a senhora pode sem escrúpulo permitir a leitura à sua neta.”
O trecho acima é o exato início do romance Diva, de José de Alencar, publicado no ano de 1864, dois anos após Lucíola. G.M é a mesma narratária do relato de Paulo, o grande amor da vida de Maria da Glória, a cortesã. Ele é, portanto, o narrador também de Diva, embora o relato não tenha sido vivido por ele. Paulo narra o que leu nas cartas enviadas a ele por Dr. Amaral, o outro protagonista de Diva. Ou seja, Paulo é o narrador em 1ª pessoa, mas não vive a história, é testemunha. É, de fato, também, narratário em primeiro plano do relato de Dr. Amaral, o personagem-narrador. G.M é, por fim, narratária de Paulo, em primeiro plano, e narratária de Dr. Amaral, em segundo plano. Dados técnicos a parte, a narrativa é a história de Emilia Duarte. Tudo tem início em 1856, quando Emília (Mila ou Duartezinha) tinha 14 anos. “Era uma menina muito feia, mas da fealdade núbil que promete a donzela esplendores de beleza.
Há. meninas que se fazem mulheres como as rosas: passam de botão a flor: desabrocham. Outras saem das faixas como os colibris da gema: enquanto não emplumam são monstrinhos; depois tornam-se maravilhas ou primores.
Era Emília um colibri implume; por conseguinte um monstrinho.” Era filha do viúvo Duarte, homem rico. Moravam com ela Leocádia, tia, e Geraldo, seu irmão. Ficou muito doente e o recém-formado Dr. Augusto Amaral foi convocado pelo irmão para o tratamento da garota. Tentou examiná-la. Era intocável.” Ouvi um grito. Senti nos ombros choque tão brusco e violento, que me repeliu da borda do leito. Sobre este, sentada, de busto erguido, hirta e horrivelmente pálida, surgira Emília. Os olhos esbraseados cintilavam na sombra : conchegando ao seio com uma das mãos crispadas as longas coberturas, com a outra estendida sob as amplas dobras dessa espécie de túnica, ela apontava para a porta.
—Atrevido!... clamou o lábio erriçado de cólera e indignação.
Apesar da resistência, o jovem médico não desistiu. Foram noites e dias tormentosos até vencer a pneumonia. Sua primeira paciente estava salva. Tempos depois, Emília era a beleza de todas as belezas. “Quando aos dezoito anos ela pôs o remate a esse primor de escultura viva e poliu a estátua de sua beleza, havia atingido ao sublime da arte. Podia então, e devia, ter o nobre orgulho do gênio criador.”  O médico estava apaixonado, mas Emília era uma barreira para o seu próprio coração. Para se defender do amor de Amaral, a garota o desprezava. Quase toda narrativa é uma espécie de caça ao selvagem coração da mimada Duartezinha e os capítulos se seguem em humilhações e negativas. Mas Dr. Amaral amava perdidamente. Passam ainda pela história D. Matilde, tia de Emília, e Julinha, a prima, além dos inúmeros pretendentes da protagonista. “Cumprimentei-a. Inclinou a fronte, não para corresponder-me, mas para esquivar-me o rosto. Quando lhe pedi a contradança, creio que ela fez um grande esforço, porque o seu pescoço de cisne perdeu a doce flexibilidade: ergueu a cabeça com certa aspereza.
Pôs os olhos em meu rosto, e correu-me um olhar frio e gelado, que me transiu.
—Não, senhor; disse com a voz seca e ríspida.
Ainda eu estava imóvel diante dela, quando chegou-se pressuroso o Barbosinha:
—Já tem par para esta contradança, D. Emília!
—Ainda não tenho, não senhor; respondeu ela com a pronúncia clara e vibrante.
Mas Emília estava longe de ser uma menina má. Era caridosa, dedicada ao próximo. Seu problema era Dr. Amaral, porque ela não tinha certeza que o amava. Mila só queria entregar-se a um amor plenamente verdadeiro. A repulsa chegou ao limite. Não suportando, Augusto Amaral afasta-se de Emília. “Não me pude mais conter:
—Adeus, D. Emília. Vejo que minha presença começa a incomodá-la: é tempo de torná,-la mais rara e menos importuna.
—Ah! já cansou de esperar? respondeu com um ligeiro riso de mofa.
—Já perdi a esperança, confesso-lhe. Já; porque enfim compreendo o que se passa em seu espírito.
—Queria que me dissesse isso! Ficaria sabendo.
—Dir-lhe-ei; por que não? A senhora é de uma bondade extrema e cuida que eu tenho direito à sua gratidão. Conheceu que eu a amava, que esse amor era minha felicidade e minha vida. Pareceu-lhe que recusar-me em troca sua afeição, era o mesmo que recusá-la a um pai, a um irmão. Quis amar-me, porque é boa; fez todo o possível para isso, mas debalde... O amor nasce de si mesmo, de repente, sem que o suspeitem. Se ele viesse quando o chamamos e desaparecesse, à vontade, não era o que é, uma fatalidade. Iludiu-se, D. Emília. O homem a quem há de amar, a senhora não o conhece, nem o viu talvez. Quando aparecer, não lhe dará tempo de interrogar-se. Seu coração palpitará por si mesmo, e a senhora sentirá que ama, sem saber como, nem quando, começou a amar!
—Talvez isso seja verdade para outras; para mim asseguro-lhe que não. O amor, como eu sonho e espero, há de ser a minha vida inteira; portanto parece-me que tenho o direito e até o dever de conhecê-lo antes de entregar-me a ele sem reserva e para todo o sempre.
O afastamento acabou por unir um pouco mais os dois. Emília pediu que Augusto voltasse ao de sempre. Concordou, desde que ela parasse de dar esperança aos rapazes. Se não os amava, era desnecessário iludi-los. “Uma noite veio sentar-se a meu lado, e seu olhar envolveu-me daquela ternura compassiva e protetora, que dava à sua virgem beleza um perfume de ideal maternidade.
—Como eu o tenho feito sofrer, não é verdade? me disse ela compungida. Também eu sofro! Que natureza é a minha? Parece que tenho prazer em me contrariar e afligir a mim mesma. Mas não me queira mal, Augusto. Eu lhe prometo ser outra daqui em diante; o que perturbou nossa amizade não sucederá nunca mais.
—Deveras!... Promete repelir os seus adoradores!
—Eu os afastarei tanto de mim, que nem a sombra deles se possa interpor entre nós.
—Obrigado, D. Emília! Obrigado pela senhora, unicamente; não por mim.
—Então isso lhe é indiferente.
—Vem tarde! O mal está feito.
É claro que Emília nunca deixou de ser Emília. Ela só mudaria com a certeza de ter um amor perfeito. Como estamos diante de uma obra romântica, a heroína vencerá. Mila descobre o amor, não sem antes deixar o amado desesperançado. “—Augusto! Seu amor é um nobre e santo amor, como eu pedia a Deus que me desse a fortuna de inspirar!... Responder-lhe com uma dessas afeições banais a que o coração reserva apenas as horas vagas que deixam o cálculo e a vaidade, seria uma profanação indigna!... Espero e lhe peço que espere para não causar por engano a sua e minha desgraça; para não ser obrigada a dizer-lhe um dia:
"Eu me iludi! Esta vida que lhe dei, não a podia dar, não me pertencia, mas àquele de quem a roubei e agora a reclama! Trai a um, menti ao outro; falhei meu destino; só me resta morrer!" Eis porque eu lhe digo que espere.
Calou-se um instante.
—Talvez me iluda!... Há horas em que duvido ainda como outrora. Quero esperar um ano ainda... Acha muito? Para decidir de duas existências?... Se daqui a um ano eu conhecer que não amo, a esta mesma hora, no lugar onde o senhor estiver, eu irei dizer-lhe:
"Deus negou-me a ventura de amar; mas o senhor me ama; se a minha vida é necessária à sua felicidade, tome-a; eu lha dou com prazer; eu lhe pertenço, sem amor, mas cheia de dedicação!" Ouviu, Augusto?... Quer um juramento?
—É inútil! Eu já a não amo!
Fui sincero nesse momento. Aquele sarcasmo com que Emília respondera à minha suplica, o egoísmo frio que ela revelara, tinham traspassado minha alma, e escoado o amor até a última gota... Eu acabava de ver, a nu, o aleijão repulsivo daquele coração de moça.
Perdida as esperanças, quando menos o leitor espera, nas últimas páginas, após a última carta, surge a verdadeira última carta e a confissão do seu amor pleno. “Era quase noite. A voz de Julinha soou no jardim, chamando a prima. Eu ia dar um último passo para Emília; hesitei.
—Fuja, senhora!
Ela não se moveu; ficou muda enquanto os ecos da voz de Julinha continuando a chamá-la ressoavam ao longe. Quando o silêncio restabeleceu-se, e parecia que a prima se tinha afastado, ela veio colocar-se em face de mim, e erigindo o talhe e cruzando os braços afrontou-me com o olhar.
—O senhor é um infame! disse com arrogância.
Fiz um esforço supremo; inclinei-me para beijar-lhe a fronte.
Seu hálito abrasado passou em meu rosto como um sopro de tormenta.
Ela atirara rapidamente para trás a altiva cabeça, arqueando o talhe; e sua mão fina e nervosa flagelou-me a face sem piedade, Quando dei acordo de mim, Emília estava a meus pés. Sem sentir eu lhe travara dos pulsos e a prostrara de joelhos diante de mim, como se a quisera esmagar. Apesar da minha raiva e da violência com que a molestava, essa orgulhosa menina não exalava um queixume ; soltei-lhe os braços magoados e ela caiu com a fronte sobre a areia.
—Criança!... E louca!... murmurei afastando-me.
Emília arrastou-se de joelhos pelo chão. Apertou-me convulsa as mãos, erguendo para mim seu divino semblante que o pranto orvalhava.
—Perdão!... soluçou a voz maviosa. Perdão, Augusto! Eu te amo!...
Seus lábios úmidos das lágrimas pousaram rápidos na minha face, onde a sua, mão tinha tocado. E ela ali estava diante de mim, e sorria submissa e amante.
Fechei os olhos. Corri espavorido, fugindo como um fantasma a essa visão sinistra.
A vassalagem amorosa, praticada por Emília, parece carimbar o final ideal, comovente: —Sim! Eu te amo!... Eu te amo!...
Eram as notas da celeste harmonia que seu coração vibrava, como o rouxinol canta na primavera e as harpas eólias ressoam ao sopro de Deus.
Quando ela desafogou sua alma desta exuberância da paixão, falei-lhe :
—Mas reflita, Emília. A que nos levará esse amor?
—Não sei!... respondeu-me com indefinível candura. O que sei é que te amo!... Tu não és só o árbitro supremo de minha alma, és o motor de minha vida, meu pensamento e minha vontade. És tu que deves pensar e querer por mim... Eu?... Eu te pertenço; sou uma cousa tua. Podes conservá-la ou destruí-la; podes fazer dela tua mulher ou tua escrava!... É o teu direito e o meu destino. Só o que tu não podes em mim, é fazer que eu não te ame!...
Enfim, Paulo, eu ainda a amava!...
Ela é minha mulher.
Com Diva, José de Alencar nos oferece o segundo perfil de mulher. O terceiro e último será Aurélia Camargo, de Senhora, publicado em 1875.
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José de Alencar criou uma literatura nacionalista em que se evidencia uma maneira de sentir e pensar tipicamente brasileiras. Suas obras são especialmente bem sucedidas quando o autor transporta a tradição indígena para a ficção. Tão grande foi a preocupação de José de Alencar em retratar sua terra e seu povo que muitas das páginas de seus romances relatam mitos, lendas, tradições, festas religiosas, usos e costumes observados pessoalmente por ele, com o intuito de, cada vez mais, “abrasileirar” seus textos.
 Ao lado da literatura, José de Alencar foi um político atuante — chegou a ocupar o cargo de ministro da Justiça do gabinete do visconde de Itaboraí — e foi um prestigiado deputado do Partido Conservador por quatro legislaturas. Todas as reformas pelas quais lutou propunham a manutenção do regime monárquico (ver Monarquia) e da escravatura (ver Escravidão).
Famoso a ponto de ser aclamado por Machado de Assis como “o chefe da literatura nacional”, José de Alencar morreu aos 48 anos, no Rio de Janeiro, deixando seis filhos, inclusive Mário de Alencar, que seguiria a carreira de letras do pai.