Pesquisa do Instituto Pró-Livro mostra que 71% da
população têm fácil acesso a uma biblioteca
Edison Veiga e Paulo Saldaña - O Estado de S.Paulo
O desempregado gaúcho Rodrigo Soares tem 31 anos e
nunca foi a uma biblioteca. Na tarde desta terça-feira, ele lia uma revista na
porta da Biblioteca São Paulo, zona norte da cidade. "A correria acaba nos
forçando a esquecer essas coisas." E Soares não está sozinho. Cerca de 75%
da população brasileira jamais pisou numa biblioteca - apesar de quase o mesmo
porcentual (71%) afirmar saber da existência de uma biblioteca pública em sua cidade
e ter fácil acesso a ela.
Vão à biblioteca frequentemente apenas 8% dos
brasileiros, enquanto 17% o fazem de vez em quando. Além disso, o uso frequente
desse espaço caiu de 11% para 7% entre 2007 e 2011. A maioria (55%) dos frequentadores
é do sexo masculino.
Os dados fazem parte da pesquisa Retratos da
Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro (IPL), o mais completo estudo sobre
comportamento leitor. O Estado teve acesso com exclusividade a parte do
levantamento, cuja íntegra será divulgada nesta quarta-feira em Brasília.
Para a presidente do IPL, Karine Pansa, os dados
colhidos pelo Ibope Inteligência mostram que o desafio, em geral, não é mais
possibilitar o acesso ao equipamento, mas fazer com que as pessoas o utilizem.
"O maior desafio é transformar as bibliotecas em locais agradáveis, onde
as pessoas gostam de estar, com prazer. Não só para estudar."
A preocupação de Karine faz todo sentido quando se
joga uma luz sobre os dados. Ao serem questionados sobre o que a biblioteca
representa, 71% dos participantes responderam que o local é "para
estudar". Em segundo lugar aparece "um lugar para pesquisa",
seguido de "lugar para estudantes". Só 16% disseram que a biblioteca
existe "para emprestar livros de literatura". "Um lugar para
lazer" aparece com 12% de respostas.
Perfil. A maioria das pessoas que frequentam uma
biblioteca está na vida escolar - 64% dos entrevistados usam bibliotecas de
escolas ou faculdades. Dados sobre a faixa etária (mais informações nesta
página) mostram que, em geral, as pessoas as utilizam nessa fase e vão
abandonando esse costume ao longo da vida.
A gestora ambiental Andrea Marin, de 39 anos, gosta
de livros e lê com frequência. Mas não vai a uma biblioteca desde que saiu dos
bancos escolares. "A imagem que tenho é de que se trata de um lugar de
pesquisa. E para pesquisar eu sempre recorro à internet", disse Andrea.
Enquanto folheava uma obra na Livraria Cultura do
Shopping Bourbon, na Pompeia, zona oeste, diz que prefere as livrarias.
Interessada em moda, ela procurava livros que pudessem ajudá-la com o assunto.
"Nem pensei em procurar uma biblioteca. Nas livrarias há muita coisa, café,
facilidades. E a biblioteca, onde ela está?", questiona. Dez minutos
depois, passa no caixa e paga R$ 150 por dois livros.
O estudante universitário Eduardo Vieira, de 23
anos, também não se lembra da última vez que foi a uma biblioteca. "Moro
em Diadema e lá tem muita biblioteca. A livraria acaba mais atualizada",
diz ele, que revela ler só obras cristãs. "Acho que nem tem esse tipo de
livro nas bibliotecas."