ILUSTRADA – da FOLHA DE SÃO
PAULO
Chico Anysio recebendo o Prêmio Especial do Juri no Festival de Cinema do Rio - 2011 (foto: Paula Giollito) |
O humorista Chico Anysio morreu
aos 80 anos hoje, após 112 dias internado no Hospital Samaritano, no Rio. De
acordo com o hospital, o horário da morte foi às 14h52. O velório será sábado
(24), no Theatro Municipal do Rio. O corpo será cremado no domingo (25), em
cerimônia restrita à família
Leonardo Wen/Folhapress/Thiago Prado Neris/Tv Globo |
Boletim médico informou que o
paciente não resistiu a uma parada cardiorespiratória e a morte ocorreu por
conta de falência múltipla dos órgãos decorrente de choque séptico causado por
infecção pulmonar. O artista piorou no início desta semana e, na segunda (19),
voltou a respirar com a ajuda de aparelhos em período integral. No dia seguinte,
teve uma complicação renal. Na noite de quarta (21), ele foi submetido a uma
sessão de hemodiálise e apresentou instabilidade hemodinâmica --por isso, fez
uso de alta dose de medicamentos para controlar a pressão arterial. Seu estado
foi considerado crítico pelos médicos na manhã de quinta (22). Segundo o
boletim assinado pelo médico Luiz Alfredo Lamy, o humorista estava sedado,
respirando com a ajuda de aparelhos e foi submetido na tarde de ontem a uma
punção torácica para drenagem de um "grande hematoma pleural". Um dos
principais nomes do humor no Brasil, criador de inúmeros personagens e bordões
célebres, o cearense Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho construiu uma
carreira de mais de seis décadas como radialista, escritor e ator de teatro,
cinema e televisão. Continuou trabalhando mesmo após o longo período de
internação entre dezembro de 2010 e março de 2011, quando retirou parte do
intestino grosso, fez uma angioplastia e teve sucessivos problemas
cardiorrespiratórios que o deixaram em estado grave -chegou a entrar em coma
por três vezes. Quando teve alta, em abril do ano passado, voltou a gravar o
programa semanal "Zorra Total", da Rede Globo, interpretando Salomé. Chico
era casado com a empresária Malga di Paula (seu sexto casamento) e teve oito
filhos (um deles adotivo) --Lug de Paula, Nizo Neto, Rico Rondelli, André
Lucas, Cícero Chaves, Bruno Mazzeo, Rodrigo e Vitória-- com cinco mulheres,
entre elas a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, com quem teve seus caçulas. Era
irmão da atriz Lupe Gigliotti (morta enquanto ele estava internado, em dezembro
de 2010, vítima de um câncer de pulmão), do cineasta Zelito Vianna e do
empresário (e seu parceiro em diversos roteiros para TV) Elano de Paula.
INTERNAÇÃO
Chico em 1975 |
Chico Anysio deu entrada no
mesmo hospital em novembro de 2011 devido a uma infecção urinária. Após ser
tratado com um ciclo de antibióticos, recebeu alta para passar o Natal com a
família, mas voltou a ser internado no dia seguinte com hemorragia digestiva. Após
alguns dias internado na UTI, Chico apresentou, também, um quadro de pneumonia
e passou a respirar com a ajuda de aparelhos durante quase todo o período que
esteve internado. No início de janeiro, apresentou leve melhora na infecção
pulmonar e os médicos iniciaram o processo de retirada do respirador. No dia 14
de janeiro, o estado de Chico piorou e ele foi submetido a uma laparotomia
exploradora (cirurgia abdominal para determinar os motivos do sangramento no
intestino, retirando um segmento do intestino delgado que tinha sofrido uma
perfuração por isquemia intestinal). No mesmo período, ele desenvolveu
insuficiência renal passando a receber sessões de hemodiálise. Em fevereiro,
Chico apresentou discreta melhora no quadro clínico e as sessões de hemodiálise
foram suspensas, assim como a redução dos medicamentos para controlar a pressão
arterial. Ainda segundo o hospital, o humorista estava lúcido, permanecia
algumas horas do dia sem ajuda do suporte mecânico para respirar e passava
diariamente por sessões de fisioterapia respiratória e motora. No fim do mês,
Chico foi diagnosticado com um novo quadro de pneumonia, passou a fazer uso de
antibióticos e voltou a respirar com ajuda de aparelhos. Ele permaneceu com o
mesmo quadro clínico até meados de março. No dia 21, apresentou piora no quadro
cardiocirculatório com queda da pressão arterial e falência dos rins. Voltou a
respirar com ajuda de aparelhos durante todo o dia e foi submetido a sessões de
hemodiálise. Malga Di Paula, atual mulher do artista, fez campanha contra o
cigarro no Facebook na semana passada. "[Chico] é uma das vítimas de uma
geração desinformada, que usava o cigarro por uma questão de charme", publicou
ela na rede social.
HISTÓRICO MÉDICO
Chico em 2010 (foto:Francisco Capeda) |
Chico Anysio já havia passado
três meses no mesmo hospital no início de 2011, quando deu entrada com falta de
ar e foi detectada uma obstrução de artéria coronariana. Ele foi submetido a
uma angioplastia, procedimento que desobstrui as artérias. No período
pós-operatório, o humorista passou por diversas complicações, como tamponamento
cardíaco e pneumonia. Ele precisou de auxílio de máquinas para respirar em
vários momentos da internação, e foi submetido ainda a uma traqueostomia. O
humorista esteve internado em outras duas ocasiões em 2010: em maio e agosto.
Na primeira, teve de tratar uma infecção respiratória. Na época, escreveu em
seu blog: "Estou vivo e paciente, esperando a cada telefonema que seja
alguém da Globo, vestido de azul marinho, dizendo que alguém da mesma cor quer
me ver novamente na telinha". Já a segunda internação, em agosto, ocorreu
por causa de uma hemorragia digestiva e ele passou por duas cirurgias no
intestino. A recuperação foi rápida e, em setembro, Chico voltou aos palcos ao
lado de Tom Cavalcanti no espetáculo "Chico.Tom". Sua saúde foi se
debilitando ao longo da última década. Em 2000, Chico Anysio foi internado com
dores no peito. No ano seguinte, teve problemas pulmonares. Em 2006, foi
internado duas vezes: primeiro, teve uma infecção respiratória, em seguida,
sofreu uma queda em casa na qual fraturou uma vértebra. Em 2009, o artista fez
uma participação na novela "Caminho das Índias", como o trambiqueiro
Namit, pai de Radesh (Marcius Melhem). No ano passado, recebeu o prêmio
especial do júri no Festival de Cinema do Rio por sua atuação no filme "A Hora
e a Vez de Augusto Matraga", dirigido por Vinicius Coimbra.