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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um pouco de Drummond


  Nascido e criado na cidade mineira de Itabira, Carlos Drummond de Andrade levaria por toda a sua vida, como um de seus mais recorrentes temas, a saudade da infância. Precisou deixar para trás sua cidade natal ao partir para estudar em Friburgo e Belo Horizonte.
 Formou-se em Farmácia, atendendo a insistência da família em graduar-se. Trabalha em Belo Horizonte como redator em jornais locais até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1934, para atuar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então nomeado novo Ministro da Educação e Saúde Pública.
 Em 1930, seu livro "Alguma Poesia" foi o marco da segunda fase do Modernismo brasileiro. O autor demonstrava grande amadurecimento e reafirmava sua distância dos tradicionalistas com o uso da linguagem coloquial, que já começava a ser aceita pelos leitores.
 Drummond também falava sobre temas como o desajustamento do indivíduo, ou as preocupações sócio-políticas da época, como em “A Rosa do Povo” (1945). Apesar de serem temas fortes, ele conseguia encontrar leveza para manter sua escrita com humor e uma sóbria ironia.
 Produzindo até o fim da vida, Carlos Drummond de Andrade deixou uma vasta obra. Quando faleceu, em agosto de 1987, já havia destacado seu nome na literatura mundial. Com seus mais de 80 anos, considerava-se um "sobrevivente", como destaca no poema "Declaração de juízo".
              ASPECTOS DE SUA POESIA:
     Sobre Alguma poesia ,publicado em 1930, o volume apresenta 49 poesias, reunindo produções de Carlos Drummond de Andrade de 1925 a 1930, e está dedicado ao poeta e amigo Mário de Andrade, que publica, no mesmo período, Remate dos Males, obra que viria a dar uma nova conformação à poética do Papa do Modernismo. Alguma Poesia é volume escrito sob o ímpeto da modernidade de 1922, pratica o poema-piada, utiliza os coloquialismos apregoados pela estética, cultiva a poesia do cotidiano, repudiando as tendências parnasiano-simbolistas que dominaram a poesia até então. No entanto, o poema-piada de Drummond é antes um desabafo de um tímido que procura afogar (disfarçar) no humor os sentimentos que o amarguram. No prosaísmo esconde a procura de uma expressão poética autêntica e autônoma e, ao se voltar para o cotidiano, transcende o tempo e o espaço em busca do perene e universal. Dos supostos acima enunciados, pode-se traçar uma espécie de linha temática que Drummond seguirá em Alguma Poesia e que permanecerá durante sua trajetória poética, que, grosso modo, pode ser identificada como se segue, a partir do que o próprio autor sugere como condução temática de sua obra: 1. O indivíduo – "um eu todo retorcido"( Seção que investiga a formação do poeta e sua visão acerca do mundo. Sempre lúcido, discorre com amargor, pessimismo, ironia e humor o que ele, atento observador, capta de si mesmo e das coisas que o rodeiam. Alguns poemas sintetizam a visão do indivíduo, como o poema de abertura "Poema de sete faces" em que vaticina seu destino) 2. A família – "a família que me dei" ( Uma das constantes temáticas de Drummond, presente desde Alguma Poesia até seus versos finais, é a família, sua vivência interiorana em Minas Gerais, a paisagem que marca sua memória. Contrariando o lugar-comum, ao invés de se referir à família como algo que lhe foi atribuído por Deus, o poeta coloca um "que me dei" a analisa suas relações pessoais, consciente de que se assentam na perspectiva pessoal. De modo muito individual, retrata o escoar do tempo, como é possível observar em "Infância", "Família", "Sesta", alguns dos mais significativos poemas de Alguma Poesia.) 3. O conhecimento amoroso – "amar-amaro" ( Com o jogo de palavras amar-amaro, título emprestado de um poema do livro Lição de Coisas, o poeta acrescenta ao substantivo "amar" o adjetivo "amargo", sentimento recorrente em alguns de seus poemas e livros escritos posteriormente. Em Alguma Poesia o tema é tratado com boas doses de humor, sátira ou pitadas de idealismo, como em "Toada do amor", "Sentimental", "Quero me casar", "Quadrilha".. ) 4. Paisagem e viagens (Um grupo de poesias faz anotações sobre viagens, retratando paisagens vistas e vividas, mas também recuperando as influências recebidas da sempre subserviente postura brasileira ante as supercivilizações, como em "Lanterna mágica", "Europa, França e Bahia "). 5. O social e a evolução dos tempos ( Drummond constrói poemas em que contempla a mudança dos tempos, o progresso chegando e invadindo a antiga paisagem, como em "A rua diferente" ou "Sobrevivente".)
·       Rosa do Povo – publicado em 1945, é considerado um livro crucial em meio ao conjunto da obra de Drummond. São 55 poemas escritos durante a Segunda guerra Mundial. Trata-se de um de seus livros mais fortes, tanto poética quanto politicamente.
·       Claro enigma – publicado em 1951 - tem sido considerado o livro ícone da maturidade existencial e artística de Drummond. Além de eterno e insuperável, é também, provavelmente por isso mesmo, extremamente atual.
·       José & Outros poemas – de 1967 – é a reunião de três livros: ‘José’, ‘Novos Poemas’ e ‘Fazendeiro do Ar’, que não constituem uma seqüência no conjunto da obra poética de Carlos Drummond de Andrade. Além da pequena extensão dos três livros, eles foram editados lado a lado por estarem próximos de obras de maior porte e maior importância. O poema José, por exemplo, é considerado como uma das maiores jóias do lirismo da língua portuguesa e uma etapa decisiva na obra do autor. Em ‘Novos Poemas’, chama de imediato a atenção o caráter neutro do título, se levarmos em consideração que ele segue livros fortes como ‘Rosa do Povo’ e ‘Claro Enigma’. Dessa maneira, o autor acentua em ‘Novos Poemas’ uma intenção bem firme de se contrapor a uma poesia de excessos. Em ‘Fazendeiros do Ar’, seu próprio título guarda traços que podem ser associados ao percurso do poeta, na medida em que é possível ler em ‘Fazendeiro’ resquícios da história familiar presente ao longo da obra drummondiana.
·       Corpo – de 1984 – mostra que a poesia de Drummond tem a capacidade de renovar-se sempre. Ela aponta perplexidades e contradições, o espanto, o amargo, o gosto do tempo. Nessa obra o poeta, de certa forma, redime o passado e se redime, salvando num belo poema toda a pureza da sua infância. Faz emergir, assim, o homem maduro em “doce canção de Itabira”. Ao mesmo tempo, nunca entre nós a indignação soube exprimir-se com tanta veracidade, tanto vigor, tanta lucidez poética.
·       O Amor Natural é sem dúvida o livro mais ousado do poeta. Publicado após a sua morte, trata do amor com uma linguagem desnuda, quase pornográfica, dividindo as opiniões sobre seu conteúdo: seria uma obra obscena ou um exercício estético do erotismo? Muitos dos poemas foram compostos antes mesmo da década de 1970, e já frequentaram revistas eróticas como Homem, Ele&Ela e Status. Durante sua vida, Drummond evitou publicá-los em livro, antes da revolução sexual e de costumes, por receio de serem confundidos com pornografia. Em 1985, o poeta — que nunca considerou esses escritos um trabalho menor — concordou em ceder 39 dos 40 poemas reunidos em O AMOR NATURAL à pesquisadora Maria Lúcia Pazo Ferreira, para que esta os analisasse em tese acadêmica. A conclusão a que chegou Maria Lúcia é de que o erotismo em Drummond tem um fundo místico e se afasta da pornografia. O escritor tampouco teve intenção de privar o público de conhecer seus poemas eróticos. O que fez foi instruir seu neto e herdeiro Pedro Augusto a publicá-los após sua morte, na data em que achasse mais conveniente.
·       Em FAREWELL está claro que Drummond optou por adiar o lançamento para depois de sua morte. O título não deixa dúvida de que quis fazer dessa coletânea o fecho de sua produção poética. Farewell inclui dois poemas considerados os últimos a serem escritos pelo autor. 
·       Sentimento do Mundo – 1940. Nessa obra, o sentimento do mundo está na essência do corpo rebelde e solitário do poeta, na premência da vida presente e da solidariedade entre os homens. Está também na urgência da luta de classes, na violência da guerra contra Hitler, na iminência da revolução sócio-econômica e na ardência da utopia socialista. O Sentimento do Mundo reúne poemas escritos entre 1935 e 1940, inaugurando uma nova fase na poesia de Carlos Drummond de Andrade. Permanece um livro inigualável. 
  

Canção Amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
Que passa por muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
E saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
Como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
Dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, 
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atras do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atras dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria solução.
Mundo mundo vasto mundo ,
mais vasto é o meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
                               (Alguma poesia)

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas, tão fatigadas,
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(Alguma poesia)

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estado Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
                               (Alguma poesia)
Segredo

A poesia é incomunicável
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
                               (Brejo das Almas)
  
AMOR - POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL

Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
nu úmido subterrâneoda vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
                               (O amor natural)

 Eu, etiqueta


Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça até o bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordem de uso, abuso, reincidência,
costume, hábiot, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio intinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos de mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solitário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas indiossicrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
asio de estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, me recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo dos outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
                               (Corpo)

As sem-razões do amor

Eu te amo  porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabe sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque te amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Para Sempre

Por que Deus permite
 que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
- de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.  
(Lição de coisas)

Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
dementes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de ama-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

 

Outro presente para a senhora (conto)


- Mãe. taqui seus chocolates!
- Que chocolates, meu anjo?
- A senhora não sabe que, no Dia das Mães, dê chocolate pra ela? Comprei um pacotão divino-maravilhoso-fora-de-série, pra senhora. Tem bombons, tablettes, figurinhas, pastilhas, drágeas... Um negócio, mãe!
- Filhinho, eu não posso comer chocolate.
- Como não pode? É uma curtição. Todas as mães do Brasil, no Dia das Mães, vão saborear produtos achocolatados. Não precisa engolir tudo e duma vez. .guarda pra semana toda, pro mês inteiro.
- Alfredinho, o médico me proibiu de comer chocolate.
- E daí? Esquece o médico. Não é Dia dos Médicos, é Dia das Mães, dia da senhora. Quando é que as mulheres vão se emancipar da tutela dos homens?
- E você não é homem, criatura? Você quer que eu seja independente comendo o chocolate que você faz questão de me dar?
- Fico triste com a senhora.
- Fique não, querido. Vamos fazer uma coisa. Dê esse pacote tão lindo pra sua namorada.
- A Georgiana? A Georgiana não é casada nem mãe solteira, como é que eu vou dar presente a ela no Dia das Mães. Pega mal.
- Toda namorada merece ganhar presentes em qualquer dia do ano.
- Não posso dar chocolates a Georgiana.
- Não pode por quê?
- Engorda.
- Ah, muito bonito. Então a Georgiana não pode engordar , e eu, que sou mãe do namorado dela, posso, né?
- Não é nada disso, mãe. Também não quero que a senhora engorde, mas se engordar, problema de papai.
- O problema é meu antes de mais ninguém, ouviu? Ou você não acha mais que a mulher deve resolver por si mesma o que lhe convém ou não convém?
- Mas chocolate, uma coisa à toa... Que importância tem isso?
- Tem importância pra Georgina, tem importância pra você que não quer ver Georgina barriguda por causa de chocolate, não tem importância pra mim, só porque no Dia das Mães usa oferecer chocolate à autora dos seus dias?
- Autora de Quê? A senhora tá falando difícil, mãe. Até parece linguagem de vestibular. Deixa, não tem importância. Quer dizer que a senhora está mandando meu presente praquela parte.
- Alfredmho, não repita!
- Não disse nada de mal.
- Disse sem dizer. Não admito que você use essas expressões falando comigo.
- Que expressões? Desculpe. Não quis ofender a senhora, evidente. Estou só defendendo o chocolate, entende?
- Está bem.
- É muito alimentício.
- Eu sei.
- Numa dieta bem balanceada...
- Chega, Alfredinho. Não precisa falar em calorias. Quem não sabe que chocolate é bom e gostoso? Eu adoro chocolate, mas...
- Então pega o pacote.
- É uma tentação. Mas eu resisto.
- Eu ajudo a destruir o que tá aí dentro, mãe.
- Não
- Prova só um chocolatezinho mais legal, com recheio de licor.
- Não.
- Unzinho só. Delícia.
- Nããããão. Leve prá Georgiana, já disse.
- Já vi tudo. A senhora quer ter uma nora de barrigona estufada de tanto comer chocolate, só pra ter o gosto de mostrar que a sogra dela é mais leve que manequim!
- Bandido, some da minha frente com essa porcaria, que eu não sou mais sua mãe!