Landisvalth Lima
O neo escritor Natã Santana (foto: Facebook) |
Em situações normais, devemos
vibrar e louvar aos céus o nascimento de algo bom: uma criança, a descoberta de
um novo antibiótico, o surgimento de uma nova vacina, a queda de uma ditadura,
o recebimento de um prêmio internacional por um brasileiro, ou latino ou ser
humano...Bom, não preciso aqui me alongar. Todos sabemos o que é uma coisa boa
porque somos todos os dias surpreendidos por senões que insistem em atormentar
os poucos anos de vida que possamos viver. E foi em meio ao aprofundamento das
investigações de corrupção na nossa Petrobrás, ao surgimento de novos nomes
envolvidos na lambança festiva com o dinheiro do nosso povo e, sem citar aqui
as centenas de notícias ruins, ainda chocado com o massacre promovido ao Charlie
Habdo, curo-me da maldade do mundo com uma leitura surpreendente do romance O epitáfio, do meu já ex-aluno Natã
Santana. O ano de 2015 está salvo! Poderei suportá-lo porque nasce um escritor
numa terra onde o ato de ler é visto como quase missão impossível!
Já sabia do talento de Natã Santana,
de suas possibilidades. Reconheço, porém, que um dos meus melhores alunos de
redação foi muito além ao ultrapassar o comum e mergulhar no criativo, rompendo
as barreiras da bestialidade e da mesmice. Não! Não pensem que estou aqui a
dizer que temos um novo Machado de Assis. Até mesmo o autor de Dom Casmurro não
nasceu Machado de Assis. Todo início é recheado de buracos e, inevitavelmente,
os escritores nascentes vivem caindo neles. Natã vai cair em vários buracos até
o dia que encontrar sua estrada plana e suave. Sua leitura nos levará pela
estrada da vida, como lenitivo, até que apareça a placa com a metáfora usada
por um outro aluno, este de Poço Verde, Marcos Deyvidson: Game over!
Não quero aqui fazer um resumo
do livro e distanciar os futuros leitores. Sim, espero que seja publicado. Vou
ver se ele deseja enviar para o Clube dos Autores, selo Coqueiro Verde. O
romance já começa a chamar atenção pelo título: O Epitáfio. Todos sabem que é a
inscrição que usamos nas lápides dos túmulos. Deveria ser assim o epitáfio de
Gregório de Matos: “Aqui jaz o Boca do Inferno!”. Já pensou o que escreveríamos
no túmulo de Mário Quintana: “Aqui jaz um passarinho!”, ou de Fernando Sabino: “Nasceu
homem e morreu menino!”, ou de Álvares de Azevedo: “Foi poeta, sonhou e amou na
vida!” ou no túmulo dos maus: “Agradecemos penhoradamente ao vírus ou à
bactéria, amém!”.
Tem também a música dos Titãs: Epitáfio.
Representa as atitudes que uma pessoa que já morreu gostaria de ter mudado se
ainda tivesse a possibilidade de viver novamente: “Devia ter amado mais, ter
chorado mais, ter visto o sol nascer”. Aqui vale para todos os que complicam a
vida sua e dos outros. Mas não é nada disso que ocorre. Os epitáfios são, na
verdade, mentiras ou meias verdades. Eu sei que ninguém é tão ruim que não
possa ter qualidades, mas o cemitério, segundo Machado de Assis, é o local onde
há a maior quantidade de mentiras da humanidade. Pior é saber que há muitos que
morrem e não têm direito a sequer uma cruz, imaginem epitáfio!
Mas não se enganem pelo título.
Natã Santana faz um romance cheio de mobilidade. Há sim uma história central em
torno do personagem Luciano Tavares, mas cada capítulo tem ação e resolução.
Mal comparando, trata-se da união de um filme dramático com uma narrativa de
crítica a costumes, recheado de uma trama policial, sem que o protagonista seja
um detetive ou policial. É também uma história de amor, traição e vingança.
Imaginem um homem ser rejeitado por uma mulher ou uma mulher ser rejeitada por
um homem. E o ódio de ambos! Agora completem o pensamento com um homem sendo rejeitado
por outro homem. Vinganças e chifres moderníssimos! E o melhor, o livro está
bem escrito num cenário mineiríssimo, com um narrador desprovido de
preconceitos. Natã Santana já faz parte do mundo dos escritores. Agora é subir
a rampa. Chegar lá no topo vai depender da insistência, da sorte e das
oportunidades. O principal ele já tem: talento!