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quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O dia que Bolsonaro e Lula apoiaram Marina Silva

Bolsonaro e Lula desistiriam, em nome da recuperação do país, e apoiariam Marina? (Foto: InfoMoney)

Um fato inusitado ocorreu nesta manhã de quinta-feira. Enquanto uma bomba explodia no Afeganistão matando mais de 40 pessoas, eu caminhava pelo calçadão de Copacabana. Numa destas bancas de revistas, vi uma manchete estampada num destes jornais semanais pouco lidos: "Lula e Bolsonaro combinam apoio a Marina Silva em 2022.". Quase parei para comprar o jornaleco, mas me dei conta do absurdo desta afirmação. Ainda cheguei a desacelerar e olhar novamente. Apesar de um pouco mais longe, a manchete ainda estava lá nítida e clara.

Continuei minha caminhada com passos mais lentos ou pequenos piques de corrida. Os sessenta anos já estão mandando a conta da jornada de tanta luta. Olhei para o mar azul daquele cenário que roda o mundo inteiro. Sim era belo e real. A manchete é que não me saia da cabeça e passei a imaginar como seria o diálogo entre o atual e o ex-presidente. Eles se encontrariam talvez, de forma casual, numa destas solenidades de entrega de algum título a um embaixador americano. Digamos que o homenageado tenha facilitado a aquisição de vacinas para a Covid-19 e a presença dos dois seria um ato político de valor considerável. 

Um pequeno alvoroço se formou quando foram convidados a sentarem um ao lado do outro. Depois de inúmeros fleches e fotos de jornais de tudo quando é canto, o locutor informou um pequeno atraso para o início, por um dado problema técnico:

- Já que estamos aqui, queria agradecer pelo apoio recebido. Falou Bolsonaro.

- Que apoio, companheiro?

- Os votos para a recondução do Augusto Aras.

- Eu é que deveria lhe agradecer. O Aras é nosso! Falou Lula.

- Mas quem o indicou fui eu, mas tá ok! Não quer aceitar, tudo bem.

Lula então, aproveita a dica e provoca Bolsonaro:

- Você sabe que eu vou ganhar esta eleição, não é?

- É verdade que estou em desvantagem, mas vem aí o Auxílio Brasil e a recuperação da economia.

- Mas, companheiro, seriam quatro anos perdidos. Você não conseguiria governar!

- No seu caso também. Você não vai ter sossego quando uma parte do país chamar você de ladrão todos os dias. Além disso vai ter o pessoal do Ciro. Se eu não estiver no 2º turno, o Ciro vai estar. Acho que a coisa não tá tão fácil assim.

- Pode ser. Aquele não quer mais conversa. Sabe... No fundo eu estou velho e cansado. Queria não disputar mais nada, mas seu povo fica provocando e aí vem a polarização e...

- Nada, Lula! Você está disputando porque quer. Sua vida está garantida. Depois do que fiz com a Lava Jato, seus crimes vão desaparecer. Deveria aproveitar isso e ir curtir a vida.

- Não só o meus crimes. Lembre das rachadinhas, do golpe da vacina Covaxin, das propinas do Dnit...

- Está bem! Vamos parar por aí. Eu também, se pudesse, cuidaria de minha vida. Aproveitaria o que conquistei, mas...

E depois de alguns segundos, que pareceram horas...

- Bolsonaro, que tal nós dois cairmos fora desta porra?

- Como assim?

- Você não sairia candidato e nem eu!

Bolsonaro olha para Lula imaginando que ele não está bem da cabeça.

- Estou falando sério!

- Mas como sair assim, sem uma justificativa?

- A gente anuncia que não disputa mais e alegamos que o melhor para o Brasil é candidato tal.

Bolsonaro leva um tempo para digerir a ideia.

- Seria uma união pelo Brasil, para acabar com a polarização e formar um governo com projetos etc...

- Isso mesmo, companheiro.

- Mas que nome apoiaríamos? Temos divergências com quase todos!

- Diga cinco nomes.

- Michele, Flávio, Paulo Guedes, Tarcísio e a Damares.

- Nenhum deles. Agora digo os meus cinco: Lulinha, Janja, Gleise, Haddad e o Rogério Carvalho.

- Também nenhum deles. Tem que ser alguém independente, sem rancor. Um nome leve com uma boa proposta para o país. Só assim vale o sacrifício.

Passou o tempo. O chefe do cerimonial anunciava o início da solenidade e começava a formar a mesa do evento. Foi aí que Bolsonaro provocou Lula:

- Que tal a Marina Silva. É o único nome que não faria vergonha apoiar. Só não sei se ela aceitaria as minhas condições. Não quero ninguém apertando minha família.

- E eu não quero que a Lava Jato saia da sepultura. Será que ela topa?

- Vamos articular.

E o locutor chama os dois para a formação da mesa e eu continuo a correr em Copacabana. Parei em frente à estátua de Drummond. Ainda com os fatos improváveis rondando a minha cabeça, fixei meu olhar nos olhos já sem óculos do poeta, como se agradecesse pelo "Poema das Sete Faces". Não sei por que exatamente me lembrei da peça poética, mas já era hora de voltar ao batente.