Marcos José de Souza
Marcos José de Souza |
Há 22(vinte e dois) anos militando na educação,
tanto no ensino fundamental, quanto no médio, ambos na rede pública, não me
recordo de ter visto o tema, de modo generalizado, ser tão discutido em um
pleito eleitoral. Desta feita o “tema” educacional foi o da escola em tempo
integral. Como afirmei, de modo generalizado, pois não sendo um tema
“eleitoral”, as minúcias de tal assunto não chamaria a atenção do eleitorado,
como sempre, na visão de quem fala, o candidato, a candidata. Daí os destaques
serem destinados às áreas tradicionais, com assistencialismo, segurança
publica, entre outros mais agressivos, como o combate ao tráfico e ao consumo
de drogas.
Já tendo acumulado a experiência em algumas
funções de comando na educação pública aqui na região, dentre eles o de
Secretário Municipal de Educação de Fátima, sabemos o quanto carecemos de
profissionais da educação, os professores e as professoras, principalmente. Diante
dessa constatação experimentada, vemos o quanto é irresponsável ou ingênuo,
falar em escola de tempo integral em um país onde a formação de professores é
um problema discutido à exaustão pelas escolas formadoras, pela imprensa e até
por outros setores sociais.
Sobre este assunto, destaco inicialmente o
desserviço causado pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, quando, no
final do ano letivo de 2010, suspendeu as matrículas para o curso Normal Médio,
isso depois que uma equipe de voluntários trabalhou durante cerca de 06(seis)
meses reformular o currículo do
curso, sendo o autor desse texto, um componente daquele grupo. Soube-se que a
justificativa dada pelo secretário foi o de que os concursos exigiam, desde
aquele ano, o nível superior e, assim, o normalista da rede estadual, em nível
médio, não poderiam pleitear uma vaga.
Não sabia, não quis saber, ou não levou em consideração,
o executivo da educação baiana, é que o novo currículo previa que o estudante
do Normal Médio, teria acesso direto ao curso superior em Pedagogia, construindo,
desse modo, um canal entre os níveis de ensino. Outro detalhe daquele
desserviço foi o de que com a municipalização, muitos concursos realizados ali,
nos municípios, ainda contemplavam os normalistas em nível médio. Por fim,
destaco o desejo de muitas famílias desprovidas de ambições e sonhos “altos”
que queriam ver seus filhos e filhas diplomados e diplomadas, mesmo que neste
nível, o médio, sendo professores e professoras. Em cada comunidade, urbana ou
rural, portar e honrar o título de professor ou professora é um motivo de
orgulho para qualquer família.
Quando afirmo “honrar o titulo de
professor/professora”, estou dizendo quando o/a jovem assume a função, sendo um
agente de transformação e de inclusão social na comunidade onde vive.
Desse modo, o líder da pasta educacional baiana
frustrou uma parte considerável da população baiana e agiu de encontro às novas
exigências e desejos, o da educação em tempo integral. Afirmo que houve um
contrassenso porque com a presença do estudante em maior numero de horas no
espaço interno da escola, exigirá um quantitativo maio de profissionais da
educação, em especial o docente.
Podemos dar como exemplo o que acontece
atualmente com o programa MAIS EDUCAÇÃO, cuja característica principal é
ampliar a oferta de atividades educacionais no Ensino Fundamental como, por
exemplo, em turno oposto ao da matrícula do estudante, CAPOEIRA, INFORMÁTICA,
TEATRO, ESPORTE, etc. O problema consiste exatamente na condução de tais
atividades, as quais estão nas mãos de algumas pessoas não diplomadas, isto é, ações
didático-pedagógicas que devem contribuir com o aprendizado das matérias
regulares de ensino, vistas no turno de matrícula das crianças e adolescentes,
bem como ocupar a demanda tirando-a das ruas ou do sedentarismo e da inércia de
atividades cognitivas.
Isto posto recuperamos nossas inquietações
iniciais, antes de “prometer” soluções milagrosas para a educação brasileira,
os gestores devem expor situações e indicar alternativas, as quais não devem
ser generalizadas, nem, muito menos, apresentar ideias antigas como se fossem
novas, a educação em tempo integral – posta em prática por Anísio Teixeira, em
uma iniciativa na cidade de Salvador, nos anos de 1940, por exemplo, sem
atentar para a efetivação das novidades, onde faltam espaço apropriados e, o
que é mais importante, pessoal qualificado. Mas, nesse detalhe, nos dirigimos
ao senhor secretário de Educação do Estado Bahia que fez o desfavor de extinguir
um curso de formação, sem ouvir os possíveis interessados, os profissionais
atuantes, os pesquisadores da área, os trabalhadores organizados ou não, enfim,
ouvir, antes de decidir.
Até a próxima, com mais um tema educacional,
possivelmente nossas práticas e nossas ideias.
Novembro de 2014, pós chuvas torrenciais que
deixaram algumas marcas.
O texto não foi revisado pelo autor.