Hugo
Araújo – do UOL
A figura imponente de Dom Pedro
1º em trajes militares, montado em um cavalo alazão e cercado por um grande
número de guardas, eternizada no quadro "O brado do Ipiranga", de
Pedro Américo, ainda permanece no nosso imaginário quando pensamos no 7 de
setembro.
No entanto, a obra, encomendada
por Dom Pedro 2º, quando os ideais republicanos já ameaçavam a monarquia
brasileira, apresenta uma série de mitos em relação à cena, conforme afirma o
jornalista Laurentino Gomes. Segundo ele, a cena real é "bucólica e mais
brasileira do que a retratada por Pedro Américo".
O UOL listou alguns mitos e
curiosidades deste episódio da história do Brasil. Confira abaixo:
1 O brado do Ipiranga aconteceu
exatamente como no quadro de Pedro Américo?
Mito. "Nada daquilo é verdadeiro.
O próprio Pedro Américo reconheceu que havia mudado elementos", afirma
Laurentino Gomes. Segundo o jornalista, Dom Pedro não estava vestido como um
príncipe real e sim como um tropeiro. Ele também não montava um cavalo alazão,
como a pintura mostra, e sim um animal de carga, provavelmente uma mula.
"A guarda de honra, que faz um semicírculo ao redor de Dom Pedro no
quadro, não existia na época", afirma Laurentino.
2 Dom Pedro estava com dor de
barriga no momento do grito de independência?
"Segundo uma testemunha da
cena [o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de
honra e futuro Barão de Pindamonhangaba], Dom Pedro estava com dor de
barriga", conta Laurentino. O príncipe-regente provavelmente comeu algum
alimento estragado no dia anterior, em Santos, ou bebeu água contaminada das
bicas que abasteciam as tropas. O fato é que, neste momento histórico, Dom
Pedro estava com disenteria.
3 Professor ganhava menos que um
feitor de escravos.
O lucro dos feitores de escravos
era maior que o salário dos professores no ano de 1822. "Este dado é muito
simbólico porque mostra qual era a situação social que a gente herdava da Coroa
portuguesa. O Brasil tinha cerca de quatro milhões de habitantes e mais de 90%
deles eram analfabetos. Isso demonstra a completa ausência de prioridade na
educação", afirma Laurentino.
4 A independência sempre foi
comemorada em 7 de setembro?
Não. Segundo Laurentino, na
época, a grande discussão era se a independência do Brasil deveria ser
comemorada em 7 de setembro, 12 de outubro (dia da aclamação de Dom Pedro 1º)
ou 1º de dezembro (dia da coroação de Dom Pedro 1º).
5 Dom Pedro compôs o Hino da
Independência no dia 7 de setembro de 1822?
Mito. "Isso não aconteceu.
Você imagina um jovem príncipe cavalgando numa mula, empoeirado, cansado e
quando chega a seu destino ainda é capaz de compor um hino de composição
elaborada, como o Hino da Independência", afirma Laurentino. Segundo ele,
o hino já estava pronto e Dom Pedro já teria partido do Rio de Janeiro com a música
que seria executada àquela noite.
6 A independência trouxe
profundas mudanças ao Brasil?
Mito. A realidade social do
Brasil continua a mesma do período colonial. "A aristocracia rural
escravagista decidiu embarcar em um projeto de manter Dom Pedro no trono,
manter a monarquia, impedir que o Brasil se tornasse uma república e não abolir
a escravidão. A estrutura social se mantém inalterada, nada aconteceu [após a
independência]", explica Laurentino.