Marcos José de Souza*
O ensino na etapa final da
educação básica vem se consolidando ao longo de sua formação em um amplo e profícuo campo de debates. Longe de desvalorizar a produção científica nacional
vou me concentrar somente, nesse texto, nas nossas práticas cotidianas ao longo
dos nossos 15 (anos) de exercício pedagógico no Ensino Médio, no âmbito da área
de Linguagens, nas disciplinas LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA e
REDAÇÃO.
Desde nosso primeiro ano de
trabalho, no Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães, Fatima-Bahia, em 2001,
desenvolvemos trabalhos paralelos denominados de projetos de estudo. O primeiro
deles foi o EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO FATIMENSE. Anos mais tarde, criei o
NA TRILHA D’OS SERTÕES. O primeiro durou aproximadamente 05(cinco) e, anos mais
tarde, 2009, criei o segundo, cuja abrangência extrapola o universo escolar,
sendo já aplicado junto a comunidade local e também no município de Cícero
Dantas.
Ambos os projetos tinham como
fonte, origem, o estudo do livro OS SERTÕES, de Euclides da Cunha. Partindo da
leitura de trechos do livro, íamos ampliando nosso repertório informativo
acerca do nosso universo social sob todos os aspectos: literário, histórico,
religioso, botânico, geográfico, antropológico, político e social-sociológico.
Naquela oportunidade
desenvolvíamos isoladamente no âmbito disciplinar, os enfoques mais
“aproximados” de cada matéria de ensino dentro do tema proposto, EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO FATIMENSE. O projeto não tinha um período definido e
cada professor agia isoladamente
Numa tentativa de
interdisciplinaridade, através da multidisciplinaridade, realizávamos as
seguintes atividades:
1. Viagens
locais, a fim de conhecer nosso lugar: fazendas deste município e de vizinhos,
como a serra do capitão, palco do livro Serra dos dois meninos de Aristides
Fraga Lima, ed. Atica; outras mais distantes, a exemplo de Canudos, Monte
Santo, Paulo Afonso, entre locais.
2. Exibição
de filmes a exemplo de Paixão e guerra no sertão de Canudos, de Antonio Olavo,
um documentário que registra a presença de descendentes dos conselheiristas.
3. Produção
de cartazes e jornais informativos das mais diversas etapas dos estudos;
4. Organização
de seminários sub-temáticos com o protagonismo juvenil; e
5. Resolução
de provas no estilo tradicional, com perguntas subjetivas e objetivas baseadas
nos textos utilizados durante o período de estudo.
O segundo projeto “nasceu” mais
organizado, com estrutura definida, mas sem abranger o universo proposto por
seu idealizador, que era o de se constituir como trabalho curricular da própria
escola, independentemente do
profissional que assumisse ali suas funções.
Compreendendo ainda as
disciplinas LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA (LPLB)e REDAÇÃO (RED.),
ganhou a adesão de SOCIOLOGIA (SOC.) este segundo projeto foi inicialmente
aplicado no município de Cícero Dantas para uma turma de professores
radialistas e outros profissionais.
Somente no ano de 2013 o projeto
ganhou espaço na escola onde trabalhamos, configurando uma unidade letiva de
ensino junto as disciplinas acima indicadas.
De modo semelhante, mas não
igual, quanto a execução do primeiro, o NA TRILHA D’OS SERTÕES tem conquistado
os estudantes, o que atribuo às viagens a utilização de vários filmes durante a
realização do projeto. Outro diferencial é o de que construímos uma feição
própria para o projeto de estudo incluindo-o no calendário escolar e
configurando-o como unidade letiva (nesses dois anos de execução a unidade
usada foi a terceira). A série onde o trabalho acontece é o 3º ano, pois é com
essa série que o autor desenvolve, desde o ano de 2001, as viagens denominadas
por ele como Turismo pedagógico.
Inicialmente os estudantes são
apresentados a proposta. Com a confirmação, passa-se à construção do plano de
trabalho de modo coletivo, incluindo as leituras, as atividades avaliativas, as
viagens, os filmes, entre outras possíveis indicadas pelo coletivo estudantil.
O mote é a leitura do livro Os
Sertões, leitura obrigatória em todos os livros didáticos utilizados pelo
professor nesses 15 anos de atividade de estudo no Ensino Médio, parte do
chamado pré-Modernismo na Literatura brasileira.
O livro é exposto e os seus
principais “personagens”, Antonio Conselheiro, a Guerra de Canudos e o próprio
autor do livro são apresentados aos estudantes.
Agora de modo interdisciplinar,
as atividades são desenvolvidas nas disciplinas sem maiores percalços, sendo a
mola propulsora do cotidiano o referido livro de Euclides da Cunha. Por
exemplo: em determinado dia de aula, o filme Guerra de Canudos, de Sergio
Rezende, foi iniciado na aula de Redação, mas devido a sua longa duração, a
aula de Sociologia será usada para dar continuidade a exibição da película sem
que haja prejuízo para a classe.
Do mesmo modo, alguma atividade
avaliativa fora iniciada na aula de Sociologia, poderá ser concluída na de
Lingua Portuguesa. E por falar em avaliação, desde a tradicional prova de
perguntas diretas, a produção de texto é uma constante, privilegiando a visão
de mundo dos educandos.
De modo amplo como ficaria nosso ensino por temas no
ENSINO MÉDIO?
A nossa ideia, ainda
embrionária, é a de que a oferta de estudo no Ensino Médio fosse realizada
através de temas, nos moldes de mine-cursos, com carga-horária delimitada, como
embrionariamente vimos nos dois projetos acima mencionados e carentes de
amadurecimento coletivo, seja com a presença de profissionais que atuam no
setor pedagógico-curricular das escolas e das secretarias de educação, mas e
principalmente com professores, professoras e estudantes.
A ideia é a de que cada escola,
de modo coletivo, crie seus mine-cursos, mas sem abandonar as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Ensino Médio e as prerrogativas legais da Lei de
diretrizes e bases da educação nacional. Assim teríamos um currículo de fato
diversificado e possivelmente mais atraente ao jovem, por demais romantizado
como protagonista, mas dificilmente a frente das decisões sobre aquilo que
sempre disseram ser ele o principal interessado. Outra novidade seria a do
trabalho em conjunto, isto é, qualquer mine-curso poderá ser ministrado por
mais de um professor e os formatos dependeriam da ideia do/dos
planejadores/professores.
Entretanto a carga-horária
semanal de estudos deve ser obedecida e os projetos adequariam os seus
trabalhos a determinadas exigências de horário e de duração, tendo em vista a
sobrecarga de uns em detrimento da diminuição de trabalhos de outros.
Como vimos, não me propus a
“dizer” muito sobre o que penso e aqui idealizo, por entender que a proposição
exige o pensar e o repensar da própria coletividade envolvida em cada cantinho
desse país. Desse modo cada currículo terá a “cara” de cada escola, a cara de
cada lugar.
Texto não revisado pelo autor.
Fim de tarde anunciador de altas temperaturas
Fatima, ex-Monte Alverne, 25 de agosto de 2015.
*Atuando, por enquanto, no Colégio Estadual Eduardo
Magalhães, graduado em Educação Física e Mestre em Educação, ambos pela
Universidade Federal de Sergipe – 1992 e 1999, respectivamente. Colaborador do Cheio de Arte.