MARCO RODRIGO ALMEIDA – da Folha
de São Paulo
Oscar Nakasato estava em um
supermercado de Apucarana, interior do Paraná, quando recebeu uma ligação
informando que era o vencedor do prêmio Jabuti na categoria romance.
O escritor Oscar Nakasato, vencedor do Jabuti de romance |
O professor universitário
paranaense de 49 anos ganhou no dia 18 o mais tradicional prêmio literário do
Brasil com seu romance de estreia, "Nihonjin", mas mal teve tempo de
comemorar. Quando chegou em casa, outras ligações, de jornalistas e amigos, já
avisavam que estava envolvido em uma grande controvérsia. "Esse prêmio
devia me proporcionar apenas alegria, mas me causou um desconforto muito
grande. Em muitos momentos, um desconforto maior que a alegria", diz. A
vitória de Nakasato foi favorecida pelas notas extremamente baixas que um dos
jurados, identificado à época apenas como "C", concedeu a alguns dos
nomes favoritos, como Ana Maria Machado. A identidade dos jurados só será
conhecida em 28/11, mas a Folha revelou na última quarta que "C" é o
crítico e editor Rodrigo Gurgel. Embora não tenha contrariado o regulamento,
Gurgel foi acusado de manipular o resultado para favorecer autores menos
conhecidos. "Essa especulação de que houve manipulação para eu ganhar tem
me incomodado além da conta", afirma. Nakasato diz não conhecer Gurgel.
Não leu os livros finalistas, mas acha que "as notas dadas a Ana foram
muito estranhas. Se fosse comigo, também acharia estranho". Ele ainda
defende mudanças no regulamento. "Como o júri é pequeno, possibilitou que
um jurado tivesse um poder muito grande." Matuto do interior, como gosta
de se definir, Nakasato é daqueles que sempre fazem de tudo para escapar de uma
polêmica. Encarar as dezenas de jornalistas que o procuraram depois do anúncio
do prêmio foi um tormento ao qual ainda não se acostumou. Os próximos dias
podem trazer mais turbulências. O ganhador da categoria romance é geralmente um
dos favoritos ao prêmio de livro do ano, principal do Jabuti. O vencedor será
conhecido no dia 28/11. Se ganhar novamente, já antevê novas entrevistas e
questionamentos sobre o resultado. "Se tivesse ficado apenas entre os dez
finalistas, sem ter ganhado, talvez tivesse sido melhor", imagina.
PERCALÇOS
Até chegar ao centro da polêmica
no Jabuti, o romance de Nakasato passou por uma série de percalços. "Nihonjin"
nasceu da pesquisa de doutorado do escritor sobre personagens nipo-brasileiros
na literatura nacional. Não achou mais que 15, quase todos secundários às
tramas, estereotipados e com pouca profundidade. Frustrado, resolveu em 2002
contar a saga de imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil no começo do
século 20. Embora sua própria família seja um exemplo --os avós de Nakasato
chegaram a São Paulo em 1913--, ele garante que quase nada há de autobiográfico
no romance. Nakasato dedicou quatro anos ao projeto. Outros quatro passou
tentando publicar o livro. Não lembra o número exato, mas diz ter sido recusado
por todas as grandes editoras do país. A sorte mudou em 2010, ao vencer o
Prêmio Benvirá. O júri era composto por Ana Maria Martins, Nelson de Oliveira e
José Luiz Goldfarb, curador do Jabuti. Nakasato ganhou R$ 30 mil e viu seu
livro finalmente publicado. "No romance, destaca-se a competente
reconstrução histórica, numa linguagem transparente, sem afetação", disse
Oliveira à Folha. Até a publicação do título, ele era autor de alguns contos e
levava uma vida tranquila como professor de literatura na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, em Apucarana, onde vive há cinco anos. Nakasato
reconhece a visibilidade que o Jabuti traz para para um autor desconhecido,
mas, se pudesse, transferiria a atenção para seus livros e permaneceria
"bem quietinho no meu canto". Enquanto não pode, prepara sem pressa o
próximo romance. De prêmios, não quer saber por enquanto.