FABIO VICTOR – do caderno
ILUSTRADA, da FOLHA DE SÃO PAULO
Será ao som de frevos, valsas e
serestas de Capiba a volta de Ariano Suassuna à atividade pública que mais o
tornou conhecido pelo país nos últimos anos.
Ariano Suassuna em Ribeirão Preto (SP), em junho deste ano. (Foto: Silva Júnior) |
Quase quatro meses depois de sofrer um
infarto, em 21 de agosto, o escritor paraibano de 86 anos retoma suas
aulas-espetáculos no próximo dia 16, no teatro Beberibe, no Recife, com um
tributo ao compositor de quem foi amigo desde a adolescência. Um dos maiores
nomes da música pernambucana, Capiba (1904-1997), apelido de Lourenço da
Fonseca Barbosa, ganhou no final de 2011 uma aula-espetáculo em sua homenagem,
em que são exibidas canções menos conhecidas do compositor (entre as mais famosas
estão "Maria Bethânia", "A Mesma Rosa Amarela",
"Madeira que Cupim Não Rói" e "Voltei, Recife"). Ariano
voltará a mostrá-la no dia 16 para uma plateia de professores da rede pública
estadual de Pernambuco. As aulas-espetáculos são um misto de palestra, concerto
e sarau que o escritor apresenta desde os anos 90. Autor do "Romance d'A
Pedra do Reino" e de clássicos do teatro nacional como "O Auto da
Compadecida" e "O Santo e a Porca", Ariano Suassuna estava em
repouso por recomendação médica desde que sofreu um infarto, ao qual se seguiu
uma nova internação para tratar de um aneurisma cerebral. Assessor especial do
governo de Pernambuco, perderá o status de secretário numa reestruturação feita
pelo governador Eduardo Campos (PSB). Quando o político deixar o cargo para
concorrer à Presidência, o que deve ocorrer até abril de 2014, é certo que o escritor
o acompanhará.
RECADO À CAETANA
No mês passado, de passagem pelo
Recife como convidado do festival literário Fliporto, o escritor Valter Hugo
Mãe quis visitar Ariano. "Pedi muito para que me levassem a cumprimentá-lo
(...) O Brasil é um mistério que ele soube sempre revelar", relatou o
autor português em artigo num jornal do seu país. Suassuna, narrou Mãe, leu
para ele trechos do romance em vários volumes que escreve desde 1981. Antes de
ir embora, o português disse ter ouvido uma revelação. "O Ariano Suassuna
mandou recado à morte. Pediu aos médicos que cuidaram dele para que informassem
a caetana [nome pelo qual Ariano chama a morte] de que ele não pretendia
morrer. Contou a história e repetiu, olhando bem para mim: 'Eu não pretendo
morrer'. Sorriu." Valter Hugo Mãe conta que saiu da visita abalado.
"Entrei no carro mudo. Chocado."