A historicidade do homem sempre
esteve relacionada com a arte, a ponto de seu ensino-aprendizagem participar
das normas e valores estabelecidos nos ambientes culturais da produção
artística de todos os tempos.
A arte não tem equivalente
exato nas antigas línguas européias, que são muito complexas em sua
terminologia. Então, nada melhor do que recorrer ao seu significado
etimológico. A palavra "arte" deriva do latim ars − talento, saber
fazer.
Alguns filósofos isolam
determinadas características encontradas em todas as artes e a percebem, sob o
olhar da ciência da arte, na estética e na metafísica. Platão, por exemplo,
percebeu uma distinção entre Arte e Ciência.
Arte, para Platão, é o
raciocínio, como a própria filosofia no seu grau mais alto, isto é, a
dialética. Arte é tudo, é todo e qualquer conhecimento. É a poesia, embora a
esta seja indispensável uma inspiração delirante. É política, guerra, medicina.
Arte é respeito e justiça, sem os quais os homens não podem viver juntos nas
cidades. Desse modo, para Platão, a arte compreende todas as atividades
ordenadas.
Aristóteles restringiu
notavelmente o conceito de arte. Ele afirmava que "a natureza é princípio
da coisa mesma; a arte é o principio em outra coisa". (apud JUPIASSU,
1990, p. 26). Tal ótica baseia-se na arte pré-artística, isto é, a natureza
existe e, por conseguinte, a arte foi criada a partir da natureza.
Na verdade, a arte não esgota
os poderes da imaginação, mesmo que se satisfaça a necessidade normal da
expressão estética. "A arte não tem importância para o homem somente como
instrumento para desenvolver sua criatividade, sua percepção etc., mas tem
importância em si mesma, como assunto, como objeto de estudo." (BARBOSA,
1975, p. 90)
Arte é qualidade e exercita a
habilidade de julgar e de formular significados que excedem a capacidade de
dizer em palavras. É o limite que nossa consciência excede é a superação, pela nossa
consciência, dos limites impostos pelas palavras.
A afirmação "a arte começa
onde apenas começa", (VIGOTSKY, 1998, p. 249) significa que a verdadeira
arte se revela nos elementos ínfimos pincelados num quadro, acrescidos a um
texto, marcados numa escultura. Vygotsky diz também que a arte é uma catarse.
Transmutando os sentimentos no seu contrário, na direção inversa à habitual,
ela se converte em poderosíssimo instrumento de descargas nervosas, e esse caráter
contraditório é a sua alma.
Fisher (1997, p. 11) concebe a
arte como o "substituto da vida". A arte concebida como o meio de
colocar o homem em estado de equilíbrio com o meio circundante refere-se a uma
idéia que contém o reconhecimento parcial da natureza da arte e da sua
necessidade.
Mas será mesmo a arte um
substituto da vida? Ou será que ela expressa a relação profunda que há entre o
homem e o mundo? O homem deseja absorver o mundo a seu redor, integrá-lo a si.
Além disso, anseia por entender a ciência e a tecnologia. Enfim, o homem quer
entender o seu "eu" curioso, bem como tornar social a sua
individualidade.
Para que haja equilíbrio entre
o homem e o mundo que o circunda, a arte será indispensável. Ela facilitará
essa união do indivíduo com o todo, apontando, assim, o caminho para a sua
plenitude. Logo, esta relação dialética é inerente à arte, uma vez que ela não
só é necessária para determinada função, mas continuará sendo sempre
necessária.
A arte manifesta-se nas
chamadas artes plásticas ou visuais, da palavra e da música. Qualquer que seja
seu enfoque, sempre estão presentes os pressupostos da estética, da filosofia
da arte, da psicologia da arte e da ciência da arte, fundamentados, de um modo
ou de outro, na harmonia.
Toma-se como exemplo a música e
compara-se o músico com o arquiteto. Ambos trabalham com a harmonia. O músico,
com a harmonia dos sons e o arquiteto, com a harmonia do espaço.
O simples fato de ser a música
uma combinação de sons sucessivos ou simultâneos, certos ritmos, seqüências de
tons e imagens sonoras provocam associações automáticas que despertam a
participação direta de quem os ouve. Com isso, vê-se que a música, a mais
surpreendente das artes, suscita um sentimento indefinido, capaz de permitir
diversas associações.
[...] Embora a arte possa ser
aparentemente apreciada por qualquer pessoa do povo, sobretudo a música, ela
vive, na realidade, numa atmosfera diferente de que se supõe. É como a certeza
que nem todo mundo de mediana cultura, da existência do oxigênio do ar
atmosférico, mas ninguém o vê. (VILA LOBOS, 1991, p. 8)
Todo povo tem o direito de ter,
sentir, cantar e apreciar a sua música. Não é possível considerar a música como
algo à parte na vida dos indivíduos. Por concebê-la como um fenômeno vivo da
criação de um povo. Também não pode ser considerada um enfeite, uma diversão
das elites. A música é superior a tudo isso, ela é a própria voz da nação.
Schopenhauer (apud. READ, 1978,
p. 19) "foi o primeiro a dizer que todas as artes aspiram à condição da
música". Tal observação provocou divergências, apesar de ser considerada
verdade. Aquele filósofo encarava as qualidades abstratas da música por ser possível,
ao artista, dirigir seu apelo diretamente ao público, dispensando a intervenção
de um meio de comunicação de uso comum para outros fins.
[...] O papel da arte na
educação é grandemente afetado pelo modo como o professor e o aluno vêem o
papel da arte fora da escola.[...]. Uma educação pela arte não é,
necessariamente, anticientífica, pois a própria ciência depende da clara
manifestação de fenômenos sensoriais e é, forçosamente, retardada pelo
"jogo da linguagem". Mas uma educação pela arte não prepara os seres
humanos para os atos irracionais e mecânicos da indústria moderna, não os
concilia com um lazer destituído do propósito construtivo, não os deixa
satisfeitos com o entretenimento passivo. (READ, 1968, p. 33)
Deve-se ter uma visão ampla,
pois a arte está em toda parte, na vida que passa. Até onde a mão e a presença
humana alcançam, o ato criador está presente. A arte contemporânea não é mais
comportada, ela é efêmera. Convive-se com a arte, que ultrapassou as portas dos
museus.
Os trabalhos com obras de arte
devem estar relacionados com a apreciação, a contextualização, no seu tempo e
espaço, porque a arte não está separada da economia, política e dos padrões
sociais que operam na sociedade. Estes trabalhos poderão ser um fator
determinante para a transformação da educação, formando indivíduos capazes de
perpetuar e transformar a arte como artistas ou apreciadores. (BARBOSA, 1999,
p.57).
Necessário nesse caminho será a
criação de novos valores, já que esta transformação se constitui em ameaça aos
atuais sistemas. O processo de criação efetiva-se em duas vertentes. Como
educadores, percebe-se pelo lado de fora; como artistas, ele é visto por
dentro; e ambos os processos integrados, constituem o ser humano completo.
Educa-se para promover a inteligência, para promover a atividade, para
assegurar o progresso. Arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a
investigação dos modos como se aprende arte na escola, quer seja no ensino
fundamental, médio ou superior, ou mesmo na intimidade dos ateliers.
Hoje em dia, dentro de uma
visão fenomenológica, considera-se o belo como uma qualidade de certos objetos
singulares que são dados à percepção. O objeto é belo porque realiza seu
destino e carrega um significado que só pode ser percebido na experiência
estética. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza. O belo e
a expressão artística são atingíveis somente pela interpretação mental e, por
conseguinte, se constituem objetos apenas de sentimento estético superior.
Diferencia-se o sentimento
estético diante dos demais sentimentos comuns, em vista de serem estes últimos
produzidos pelos objetos comuns e não pelos artísticos e belos. Por outro lado,
afirma-se que a atitude que propicia a experiência estética, em arte, ocorre
gratuitamente, isto é, não visa a um interesse prático e imediato. No entanto,
não se pode-entender a gratuidade dessa experiência como inutilidade, uma vez
que ela responde a uma necessidade humana e social. Tal enfoque é feito por
Dewey, (1952, p. 54): "O princípio de que o desenvolvimento da experiência
se faz por interação do indivíduo com pessoas e cousas significa que a
educação, essencialmente, um processo social".
A experiência estética não visa
ao conhecimento lógico medido em termos de verdade e ação imediata nem pode ser
julgada por sua utilidade para determinado fim. Ela se dá pela presença tanto
do objeto estético como do sujeito que o percebe, manifestando acordo entre a
natureza e o sujeito numa espécie de comunhão, cuja via de acesso é o sentimento.
Esse sentimento, portanto, não é emoção, é conhecimento.
Criar e conhecer são
indissociáveis, e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. Não
conhecer arte é ter uma aprendizagem limitada. A arte produz conhecimentos e
envolve a experiência de refletir como objeto do conhecimento.
Ao contrário do que se pensa, o
conhecimento, muitas vezes, é obtido pelas observações efetivadas pelos
sentidos:
Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo foi concebido
Daquilo que eu sei.[...] (LINS, 1980).
Por outro lado, as propriedades
psicológicas da arte importam, sobretudo, pelos efeitos que exercem sobre o
comportamento do indivíduo.
Considera-se a esteticidade
como uma das propriedades psicológicas da arte. Trata-se de um sentimento de
satisfação provocado pelo conhecimento. Portanto, a esteticidade da arte pode
ocorrer em dois níveis.
A esteticidade do significante
é pré-artística e decorre do portador material da obra de arte. As formas da
escultura, antes mesmo de serem portadoras de expressão, podem manifestar-se
como belas. O mesmo pode acontecer com as cores da pintura e os sons da música,
apreciáveis esteticamente no momento pré-artístico.
Já a esteticidade como
significado é artística, resulta da informação contida na expressão. Essa
informação proveniente da arte é sempre intelectual, porque somente a
inteligência consegue interpretar o que a arte diz.
Ambas as esteticidades são
apreciáveis propriedades da Arte, mas é preciso distingui-las com clareza.
Conseqüentemente, a esteticidade propriamente artística é sempre de ordem
superior, situada no plano do sentimento racional. A esteticidade pré-artística
situa-se a nível racional quando se trata do belo.
Nessa perspectiva, observe-se
como é focalizada a beleza sob a ótica do compositor Caetano Veloso: Não me
amarra dinheiro não
Mas formosura
Dinheiro não
A pele escura [...]
Moça preta do Curuzu
Beleza pura [...] (VELOSO, 1987)
Percebe-se, assim, como a
estética, freqüentemente, aparece ligada à noção de beleza. É exatamente por
causa dessa ligação que a arte vai ocupar um lugar privilegiado na reflexão
estética, já que, durante muito tempo foi considerado como sua função primordial
exprimir a beleza de modo sensível.
Assim sendo, a função estética
da obra de arte é aquela que instaura um jogo de linguagem em torno de um
objeto significante: de um lado está o artista, o criador do objeto; de outro,
está o contemplador, o intérprete dos conceitos estéticos que o artista tem a
intenção de juntar ao objeto significante.
A esteticidade é um sentimento
de satisfação provocado pelo conhecimento quando considerado como um bem.
Resolver um simples problema da matemática resulta em prazer, que é de natureza
estética, por ter provocado um conhecimento. Neste mesmo plano do conhecimento
também a arte gera esteticidade.
Se conhecimentos sensíveis são
um bem para faculdades sensíveis, seu agrado estético é, também, sensível. Da
mesma forma, se os conhecimentos intelectuais são um bem para a faculdade da
inteligência, seu agrado estético é, por sua vez, racional.
Sempre que as ciências produzem
conhecimentos, por mais diversos que estes sejam, resultam em esteticidade.
Varia o grau de esteticidade da arte conforme o objeto que se apresenta. Assim,
percebe-se por que a música é considerada como a mais estética entre todas as
artes. Sumamente prazerosa, a música é a mais agradável das expressões
artísticas. "Mais agradável que a música, só mesmo o silêncio".
(DANTE VEOLECI, [s.n.t])
Os objetos abstratos, que a
arte formal oferece, apesar de seu intelectualismo, também são capazes de
provocar sentimento estético. Assemelha-se a esteticidade da arte abstrata a
esteticidade dos objetos científicos, tais como os da matemática ou da
filosofia. É notório que a súbita solução de problemas matemáticos,
filosóficos, sobretudo transcendentais despertam grande satisfação.
Das relações entre a arte e os
homens resultam três diferentes concepções da arte: a arte como ciência; a arte
como experiência estética e a arte como conhecimento. Assim sendo,
questiona-se: Que relações existem entre a reação estética e as demais reações
do homem? Como se relacionam arte e vida? Numa complexidade de inter-relações,
diz Vygotsky, (1998, p. 259): A reação estética lembra o fato de tocar piano: é
como se cada componente da obra de arte tocasse a respectiva tecla sensorial do
nosso organismo, recebendo como resposta um som ou um tom sensorial, e toda
reação estética fosse constituída de impressões emocionais que surgem como resposta
aos toques nas classes.
Isso significa que a arte pode
criar uma imensa necessidade de atuar. Dependendo daquilo que libere ou
reprima, ela pode nos impulsionar a aspirar além da vida. Surgindo da vida e
para ela se dirigindo, o papel da arte é fundamental como atitude dialética de
edificação da vida, tanto que era exercida por curandeiros ou sacerdotes que
compreendiam o mundo de forma mítica.
Reproduzido de http://esteticaehistoriadarte.blogspot.com.