Pedro Brandt – do CORREIO BRAZILIENSE
Siba se inspirou no filho: "Mesmo quando parece que não
estou tratando dele, a música ou é para ele ou dialoga com a presença dele na
minha vida"
Quem vê Siba empunhando uma guitarra na capa de Avante, seu
novo disco, pode até achar estranho. Afinal, o cantor e compositor pernambucano
é mais conhecido pelo uso de outros instrumentos, como a rabeca e a viola.
“Quem me acompanha desde a época do Mestre Ambrósio sabe da minha relação com a
guitarra. Mas é um instrumento que eu tinha abandonado mesmo”, contextualiza o
músico de 42 anos, nascido Sérgio Roberto Veloso de Oliveira. O retorno para a
guitarra, ele conta, foi lento e árduo. “Levei um tempo para me resolver com a
tarefa. Se eu fosse mais realista, teria declinado, porque foi difícil mesmo”,
reconhece. Suas influências guitarrísticas são plurais, passando por tradições
locais, anglo-saxãs e africanas. O instrumento está diretamente ligado ao que o
cantor queria que fosse seu novo trabalho — o primeiro assinado apenas com seu
nome, sem a presença de um grupo (caso da Fuloresta, que o acompanhou nos anos
2000, e do Mestre Ambrósio, sua banda na década de 1990) ou um parceiro (em
2003, com Barachinha, ele lançou No baque solto somente; e em 2009, com Roberto
Corrêa, Violas de bronze). “O ponto, antes da guitarra, é a necessidade de um
tipo de energia mais ligada à eletricidade”, explica o cantor. “Na Fuloresta,
eu fazia a direção musical, os arranjos e, em cima do palco, cantava. Isso foi
fundamental, mas eu estava com vontade de ter uma função mais musical ao vivo.
E, para mim, a guitarra seria o ideal. A rabeca, nesse caso, não seria tão
completa.” Avante, no entanto, não é uma ruptura com o passado musical de Siba.
“O ponto em comum em tudo que já fiz como compositor e artista está ligado à
poesia e à forma de escrever, a uma estética muito específica que pratico,
embora com roupagens musicais diversas. A linha que liga tudo que escrevi é a
poesia popular do Nordeste, a minha principal forma de expressão”, analisa
Siba. Além da guitarra, um elemento presente na foto da capa de Avante
determinou o que seria o álbum. Filho de Siba, Vicente, 5 anos, é a principal
inspiração para a obra. “Ele é a ideia central do disco. Mesmo quando parece
que não estou tratando dele, a música ou é para ele ou dialoga com a presença
dele na minha vida.”
Entre amigos
Gravado em São Paulo (onde o cantor voltou a residir em
2011), Avante conta com uma formação peculiar. Siba tocou guitarra e viola.
Antônio Lourenço ficou responsável pelos teclados e vibrafones; Samuca Fraga,
pela bateria (função executada, ao vivo, por Serginho Machado); e Léo Gervázio,
integrante da Fuloresta, pela tuba, instrumento de sopro que, por conta do
timbre grave, faz o papel do baixo nas canções. Lirinha participa da música Um
verso preso, e o flautista Teco Cardoso, de Canoa furada. Vocalista e
guitarrista da banda Cidadão Instigado, Fernando Catatau aparece na faixa
Qasida e também assina a produção do álbum.
A amizade entre Siba e Catatau é antiga. A escolha do músico cearense para
a produção vem também da admiração do pernambucano pelo segundo CD do Cidadão,
O método túfo de experiências (2005). “Eu me identifico muito com a capacidade
de Catatau em desdobrar a própria vida em uma obra artística que fala para
qualquer pessoa — sem que ela tenha de conhecer o contexto no qual surgiu a
coisa toda”, comenta. Avante “vazou” no
comecinho de 2012, dias antes de o site do músico — onde o álbum está
disponível para download — entrar no ar. “Pensei que o disco ia vazar ainda no
ano passado, mas ele apareceu na internet em 1º de janeiro. O timing foi
perfeito”, comemora. Para este semestre, também está prevista a estreia de Siba
nos balés da tormenta, documentário que registra a produção de Avante.