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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Filme sobre Tom Jobim dispensa depoimentos e foca em parcerias


MARCUS PRETO – da FOLHA DE SÃO PAULO – caderno ILUSTRADA
Tom Jobim
Em "A Música Segundo Tom Jobim", o diretor Nelson Pereira dos Santos quis fugir do padrão "programa de televisão" que norteia a maior parte dos documentários musicais recentes do país.
Fez um filme sem prosa. As palavras surgem em verso, nas canções. Versos de Vinicius de Moraes, Dolores Duran, Newton Teixeira, Chico Buarque e outros parceiros de Jobim -além do próprio, grande letrista, autor de, entre tantas, "Águas de Março". Nelson optou por não colocar legendas indicando quem é quem à medida em que as personagens surgem.
"A presença de qualquer legenda naquela tela pode cortar a relação do espectador com a imagem, com a música", diz. "Não fizemos um filme para informar. Fizemos um filme para ser contemplado, como são os de ficção." Em linhas gerais, resultou em um videoclipe de 86 minutos, montado a partir de interpretações de 43 artistas, nacionais e internacionais, para a obra do compositor.
A lista contempla todas as gerações que, desde os anos 1950, conviveram com esse repertório: Elizeth Cardoso e Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr. e Sylvia Telles, Elis Regina e Sarah Vaughan, Fernanda Takai e Diana Krall. Inclui imagens raras, como Maysa interpretando "Por Causa de Você" e Judy Garland cantando versão em inglês de "Insensatez".
"O fator que mais eliminou artistas na edição foi a qualidade técnica do material", diz Dora Jobim, neta de Tom e codiretora. "Mas o brilho nos olhos do intérprete determinava qual versão da mesma música seria escolhida."
Trata-se, portanto, de um filme de edição. Nelson afirma que o trabalho do diretor é mais organizar o material e amarrá-lo em um conceito. Irmã de Chico Buarque e parceira de Tom em dois álbuns no final dos 1970, a cantora Miúcha assina o roteiro. "A parte de procurar as coisas no YouTube foi a que mais adorei", diz. "De resto, encontrava o Nelson uma ou duas vezes por semana e contava tudo o que lembrasse."
Estopim da criação da bossa nova em 1958, João Gilberto não aparece no filme. Ou quase. O melhor intérprete de Jobim surge de raspão, tocando violão para Elizeth em "Eu Não Existo sem Você". "Mas é João mesmo? Sabe que eu nem tinha reparado", pergunta o diretor, piscando e sorrindo para sua parceira Dora. É que nenhuma imagem de João foi autorizada para o filme. Essa escapou do veto porque o cantor não é o protagonista.
"A Música Segundo Tom Jobim" tem um filme-irmão. Já finalizado, "A Luz de Tom" deve estrear entre o final deste ano e o começo do outro. Para ele, Nelson colheu depoimentos inéditos de três mulheres importantes na vida de Jobim: a irmã Helena e duas mulheres com quem foi casado, Tereza e Ana Lontra. A partir da memória delas, constrói outro Antonio Carlos Jobim. E ainda há muitos a serem descobertos.