Custo de produção local leva o
País a ampliar compras de países como China e Índia, com prejuízos para o
emprego no setor gráfico
Marcelo Rehder, de O Estado de
S.Paulo
SÃO PAULO - O avanço das
importações chegou ao mercado de livros didáticos. Nos bancos escolares, os
estudantes brasileiros estão estudando em livros impressos na China, Índia,
Coreia, Colômbia e Chile.
Em 2011, editoras que fornecem
material para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do governo federal,
ampliaram em quase 70% as encomendas no exterior, estimam empresários da
indústria gráfica. Os motivos são o câmbio e o custo Brasil.
Principal cliente para as
gráficas do segmento editorial, o governo responde por 24,4% das compras de
livros no País, que somam cerca de R$ 4,5 bilhões. No ano passado, o governo
fez uma compra recorde de 170 milhões de livros didáticos para o ano letivo de
2012.
Segundo Fabio Arruda Mortara,
presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), as editoras
foram às compras no exterior, com base no argumento de que as gráficas
editoriais brasileiras não teriam condições de entregar todas as encomendas
dentro dos prazos estabelecidos nos editais.
A consequência disso foi que
boa parte das gráficas trabalhou com alguma ociosidade a partir do segundo
semestre de 2011, período em que elas costumam rodar livros didáticos. Em
dezembro, representantes dos empresários e dos trabalhadores foram ao
Ministério da Educação expor a preocupação com o crescimento nas importações.
"Já estamos perdendo
empregos", diz o presidente da Abigraf. A indústria gráfica investiu US$ 5
bilhões no Brasil nos últimos quatro anos. Um empresário paulista, que pediu
para não ser identificado, conta que demitiu 300 empregados nos últimos dois
meses, o equivalente a 25% no quadro de pessoal. Além disso, engavetou um
projeto de investimento US$ 20 milhões previsto para este ano. "Eu estava
comprando uma máquina de 64 páginas e agora não tenho mais condições", diz
o empresário.
O presidente do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE), José Carlos Wanderley Dias de Freitas,
que participou de uma das reuniões com empresários e trabalhadores do setor,
disse ao Estado que o órgão não tem informações diretas sobre aumento nas importações
de livros didáticos.
Custo. "A relação de
contrato do CNDL é com as editoras e a impressão do livro didático não é uma
questão nossa", argumentou Freitas. "Se a editora vai fazer a
impressão no Brasil, na China, na Europa ou na América do Sul, é um problema
dela."
O avanço das importações não
aparece nas estatísticas oficiais porque não existe posição aduaneira
específica para o livro didático. Mas a indústria gráfica tem algumas
sinalizações sobre o tamanho da encrenca. Uma delas é que, até 2010, as
importações de livros medidas em dólares e em toneladas caminhavam praticamente
juntas. No ano passado, porém, a quantidade de títulos do exterior saltou 62%,
para 31,1 mil toneladas, enquanto o crescimento em valor foi de apenas 27%,
para R$ 175,8 milhões.
Na avaliação dos empresários do
setor gráfico editorial, o descolamento se deve a um forte aumento na compra de
livros didáticos, que custam bem menos que a grande maioria dos livros
importados pelo País.
A presidente da Câmara
Brasileira do Livro (CBL), Karine Pansa, prefere não tomar partido no debate.
Ela fez questão de ressaltar que a entidade defende os valores éticos do
mercado, mas não interfere nas questões comerciais das editoras.
"Gostaríamos que houvesse
menos importações em todos os segmentos, não só o livreiro, para o bem do
desenvolvimento do Brasil". E acrescenta: "Sabemos que os editores
estão buscando a possibilidade de impressão em outros países porque o custo
Brasil é prejudicial nesse momento à produção nacional".