Folha localiza em Los Angeles fotógrafo da morte de Herzog
Silvaldo Leung Vieira, o então fotógrafo da Polícia Civil de São Paulo localizado pela Folha em Los Angeles (foto: Zen Sekizawa/Folhapress) |
Uma revelação exclusiva é o destaque da
"Ilustríssima", caderno da Folha, deste domingo, 05: o repórter da Lucas Ferraz, da Sucursal
de Brasília, localizou em Los Angeles o autor da mais importante imagem da
história do Brasil nos anos 1970 --a foto do jornalista Vladimir Herzog morto
numa cela do DOI-Codi, em São Paulo, no ano de 1975. Fotógrafo da Polícia Civil
de São Paulo, o santista Silvaldo Leung Vieira, então com 22 anos, foi
recrutado pelo Dops (Departamento de Ordem Social e Política) para uma de suas
primeiras "aulas práticas": o registro do cadáver do jornalista, que
havia comparecido espontaneamente ao DOI-Codi, após ter sido procurado por
agentes da repressão em sua casa e na TV Cultura, onde trabalhava como diretor
de jornalismo. Ele tinha ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro), mas
não chegou a ter atividades na clandestinidade. "Ainda carrego um triste
sentimento de ter sido usado para montar essas mentiras", afirmou Silvado
à Folha, por telefone.
O jornalista Vladimir Herzog, que foi encontrado enforcado em uma cela, em 25 de outubro de 1975 (foto: Sindicato dos Jornalistas de São Paulo) |
Segundo relatos de testemunhas, Vlado, como era conhecido
pelos amigos, foi torturado e espancado até a morte. A imagem produzida por
Silvaldo ajudou a derrubar a versão do suicídio, uma vez que seu corpo pendia
de uma altura de 1,63 m, com as pernas arqueadas e os pés no chão, o que torna
altamente improvável que tenha se matado. A morte gerou manifestações, como a
famosa missa na catedral da Sé, em São Paulo, e contribuiu para que o
presidente Ernesto Geisel e seu ministro Golbery do Couto e Silva vencessem a
queda de braço com a linha dura da ditadura, que pedia um aperto na perseguição
à esquerda, sob o argumento de que o país vivia a ameaça do comunismo. "Tenho
para mim que esses acontecimentos foram a raiz das Diretas-Já", disse à
Folha o então governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, que também tinha
atritos com os militares da linha dura. Silvaldo Leung Vieira também fotografou
a cena do "suicídio" de Manoel Fiel Filho, operário que morreu em
situação semelhante à de Herzog e cuja morte também foi decisiva para mudar os
rumos do regime. Essa imagem, no entanto, nunca apareceu.